O desemprego no Algarve aumentou mais de 200% em maio para quase 28 mil desempregados, atingindo sobretudo o setor da hotelaria, que desespera pela chegada de turistas para atenuar o “golpe” de quase três meses de prejuízos.
– Reportagem de Marta Duarte, jornalista da agência Lusa
O calor que abraça o Algarve lembra que julho chegou, ao contrário dos turistas, que por esta altura já deviam estar a encher os hotéis, praias e restaurantes da região, mas que teimam em não aparecer na quantidade habitual para a época do ano.
Como o início da pandemia de covid-19 coincidiu com o arranque das contratações para a época turística, milhares de pessoas nem sequer chegaram a ser contratadas, enquanto outras foram dispensadas ainda durante o período experimental.
Num verão normal, o Tivoli Hotels & Resorts teria cerca de 1.000 pessoas a trabalhar nas seis unidades do Algarve – fora aquelas que são contratadas à hora, ao dia, ou à semana – mas, neste momento, tem apenas cerca de metade, diz à Lusa o diretor regional de operações do grupo, Jorge Beldade.
“Nós, em março, quando foi o início desta pandemia, estávamos em fase de início de contratação para a época de cerca de 350 pessoas. Acabámos por contratar só 89 e, obviamente, todas as outras deixaram de ser contratadas e a seguir os hotéis fecharam e passámos todas as pessoas a ‘lay-off’”, conta.
No Algarve, 85% dos hotéis reabriram em junho ou reabrem agora, no início de julho, um número, ainda assim, animador – tendo em conta as previsões do setor no início da pandemia, que não apontavam para que tantas unidades reabrissem ainda este ano.
Depois da época baixa, quando se preparava para entrar na época turística, a região depara-se com um verão “que não será comparável” ao do ano passado e entra novamente numa estação baixa, o que, na prática, será equivalente “a três estações baixas seguidas”, resume o líder da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
“O efeito nas receitas das empresas e o impacto no emprego é indiscutível e será uma realidade incontornável”, disse à Lusa Elidérico Viegas, estimando que a partir do mês de setembro os números se “agravem novamente”.
Segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), em maio de 2020 o Algarve foi a região que registou o maior aumento de desempregados inscritos no país, com um crescimento de 202,4%, face ao mesmo mês do ano passado.
“É um situação complicada, com um número de desemprego bastante elevado, que nos preocupa. Em fevereiro ninguém acreditaria que isto iria acontecer, porque estávamos com um dinamismo da economia cada vez maior, com o emprego a aumentar e o desemprego a diminuir”, desabafa a delegada regional daquele instituto.
De acordo com Madalena Feu, o aumento do desemprego, contrariando a tendência dos últimos anos, tem vindo em crescendo, face aos mesmos meses de 2019: em março havia na região 21.636 desempregados inscritos (mais 41%), em abril mais 26.379 (mais 120%) e em maio 27.675 (mais 202%).
A delegada regional do IEFP nota que há “novos” desempregados: 28% são estrangeiros – na sua maioria brasileiros, indianos e nepaleses, que trabalhavam na agricultura e na hotelaria –, e outros, ainda, são pessoas que vieram de fora da região.
No concelho de Albufeira, que concentra boa parte dos hotéis da região e cujos negócios giram quase todos à volta do turismo, a situação é preocupante, segundo nota à Lusa o presidente da Câmara, José Carlos Rolo.
“A recuperação não vai ser tão rápida e tão linear quanto isso. Não nos podemos esquecer que a seguir temos o inverno e que no inverno, naturalmente, as pessoas não acorrem a lugares turísticos de sol e praia”, sublinha.
Segundo o autarca, além dos “muitos hotéis fechados”, estão também encerrados muitos estabelecimentos comerciais. Alguns até abriram, mas depois acabaram por encerrar, por falta de clientes, atirando as pessoas para o desemprego ou para ‘lay-off’.
Muitas das pessoas que de um momento para o outro se viram no desemprego começaram a pedir ajuda, sobretudo alimentar, a instituições da área social, que veem agora os pedidos disparar, como é o caso do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS).
O presidente da instituição, Fábio Simão, diz à Lusa acreditar que em setembro ou em outubro se comecem a sentir “os efeitos mais sérios da crise” e a surgir muitos mais pedidos de apoio, pois quem perdeu o emprego não tem como “dar a volta” à situação.
“A economia começou a dar alguns passos, mas com vergonha, porque as pessoas estão a acautelar-se e provavelmente os postos de trabalho não vão ser todos readmitidos”, conclui.