Luzes. Glamour. Brilho. Um par de saltos de altos, acompanhado de um vestuário extravagante e de uma maquilhagem arrojada. Estas são algumas das imagens que temos quando assistimos a um espetáculo de Linda Xennon.
António Mendonça, de 55 anos é natural de Castro Marim. Reside em Faro há 47 anos, dá corpo e alma a uma personagem que diz o próprio ser “desbocada e irreverente”. O artista algarvio de transformismo dá vida a Linda Xennon. Tem uma carreira que conta com 38 anos e já subiu a palcos de norte a sul do país, assim como a palcos internacionais.
António contou ao POSTAL como tudo começou. “Lembro-me que, já com 7 anos de idade, não sabendo ainda o que era ou o que queria fazer, o bichinho já mordia. Eu vivia no campo com a minha avó e juntava os miúdos da minha idade e outras pessoas e com roupas velhas já fazia as minhas loucuras. Digamos que sempre tive um gosto por isto, claro que na altura não sabia o que era, mas com o tempo surgiu a oportunidade e realmente era mesmo aquilo que eu queria fazer e lutei sempre e a prova disso é onde estou hoje”. Porém, esta escolha não foi fácil. “Em termos familiares sofri um bocadinho, levou o seu tempo para que me aceitassem. Consegui isso porque as pessoas viram que eu queria realmente atuar e que não era aquilo que se costuma dizer “paneleirice”, que era uma coisa séria e quando viram o trabalho que eu desenvolvi, era um trabalho com qualidade, deram a mão à palmatória e apoiaram-me!”, contou o performer.
O gosto pelas roupas e pela moda foi surgindo aos poucos
No que toca a Linda Xennon, personagem que apresenta nos palcos, António Mendonça refere que foi aos poucos que surgiu o interesse pela roupa das mulheres e pelas lojas de moda. “Na altura [quando começou] não havia muito por onde investigar, por onde pesquisar. Mas o gosto foi surgindo naturalmente”. Com um espetáculo muito variado, Linda Xennon atinge resgistos mais sérios e mais cómicos. O artista diz que tem “mais acentuada a versão cómica, em termos de performance, e de comunicação com o público”. Acrescentou ainda que a sua inspiração vem de grandes nomes do espetáculo mundial e de mulheres no geral. Em relação ao público, António Mendonça admite que gosta “muito de falar com o público, fazer o público rir e às vezes também chorar”.
O feedback do público é muito positivo
No que diz respeito à opinião do público, “é das melhores que pode existir, em especial do público hétero, mas eu gosto muito de trabalhar para a comunidade gay, em termos de bares gays, porque é um público muito exigente e isso obriga-me a fazer cada vez mais e melhor”, relata António Mendonça. Segundo António Mendonça, as pessoas ainda têm uma ideia muito fora do contexto em relação ao transformismo. Não têm bem ideia do tipo de trabalho que é, mas depois “quando veem a qualidade das minhas performances ficam rendidas”. Referindo-se às quase quatro décadas de carreira, António Mendonça afirma que, “tenho mais bons momentos do que piores… mas os piores momentos da minha carreira são, sem dúvida, a inveja… há muita inveja neste tipo de espetáculo”. No que toca aos seus melhores momentos o artista contou ao POSTAL que, “[os melhores momentos] são aqueles que eu passo com o público, são os aplausos… a minha deslocação nestes últimos dois anos, aos Estados Unidos, para atuar para a comunidade portuguesa também foi muito importante”.
Linda Xennon leva duas horas a preparar-se para cada show
Linda Xennon é, segundo o criador, “irreverente e desbocada, mas acima de tudo profissional”, contudo tem sempre cuidado, sabendo “aplicar as palavras certas sem ferir suscetibilidades”. O artista demora cerca de duas horas para se preparar para cada show. “Uma hora para maquilhar e uma hora para vestir”, contou. Comparando diferenças na arte do transformismo desde que começou, a drag queen refere que, “antes havia mais espaço para o grupo. Eu fiz parte de um grupo durante muitos anos que se chamava as Donzelas em Férias e nós trabalhávamos em tudo quanto era festas, casas, discotecas, restaurantes, festas privadas… hoje em dia é mais individual, as casas não investem em grupo porque sai mais caro”. No Algarve, existem várias casas a receber este tipo de espetáculo, tomando como exemplo o Prestige Dance Club em Faro, o The Loft em Portimão e o Conection em Albufeira, sendo que na época alta existem mais oportunidades de atuar. “No verão, vou todas as quartas-feiras para a Praia da Luz, em Lagos, fazer animação turística e os turistas adoram, ficam encantados. É um público diferente muito alegre”, conta a drag queen. No entanto, e como em todas as artes do espetáculo, não é fácil viver apenas deste trabalho. “É evidente que o transformismo não é fácil, nem todos o fazem e muitos apenas conseguem fazer disto um part-time, mas neste momento, já tenho idade, contratos e conhecimentos suficientes para fazer isto o tempo inteiro”.
O performer continua, dizendo que, “um fim-de-semana vou para um lado, outro fim-de-semana vou para o outro… ou vou para Lisboa, ou vou para Leiria ou vou para Porto, é a vida de artista. Para onde me contratarem eu vou”. António Mendonça termina dizendo que, “o transformismo no Algarve é bom e tem bons valores como a Melanie Nova, a Clara Luz, Miss Hyanka, Marlene, entre outras”.
(Eunice Silva / Henrique Dias Freire)