No passado dia 15 de maio, a escultura “Rabbit” (Coelho), do artista norte-americano Jeff Koons, foi vendida por 91 milhões de dólares (cerca de 81 milhões de euros) num leilão da Christie’s, em Nova Iorque, estabelecendo um novo máximo histórico no valor pago por uma obra de um artista vivo.
Há apenas sete meses, também na Christie’s, em Nova Iorque, tinha sido leiloada a pintura “Retrato de um artista (Piscina com duas figuras)” (1972), de David Hockney, por 90 milhões de dólares (mais de 79 milhões de euros), tendo sido a obra de um artista vivo a atingir um valor mais elevado.
Em todo o caso, o valor atingido por estas obras de artistas vivos ainda está aquém dos valores mais elevados atingidos em leilões por algumas obras de arte, nomeadamente a pintura “Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci, também vendida pela Christie’s, em Nova York, por 450,3 milhões de dólares (cerca de 364,7 milhões de euros), em 2017, ou a pintura “Les femmes d’Alger”, de Pablo Picasso, que havia sido vendida em 2015 por 179,3 milhões de dólares, ou ainda a pintura “Nu couché” (1917), de Amadeo Modigliani, que atingiu 170,4 milhões de dólares, também em 2015, levando a que se considerasse esse ano como um ponto de viragem na história de arte, pelo valor atingido nas transações de obras de arte.
Voltando a Jeff Koons, já em 2013 a sua escultura “Ballon Dog (Orange)” tinha sido leiloada por 58 milhões de dólares.
A extravagância do preço das obras encontra correspondência na extravagância do próprio Jeff Koons. Tendo sido casado com a actriz porno Cicciolina e apelidando-se de superstar, é um dos artistas mais controversos e também mais conhecidos da arte contemporânea, essencialmente pelas esculturas grandiosas, inspiradas em objetos da cultura de massas, feitas em materiais incomuns. No caso da escultura “Rabbit”, trata-se de um coelho feito de plástico espelhado, imitando aço inoxidável, refletindo o espetador que consome a obra através da observação da mesma.
Desde o início dos anos 80 que desenvolve séries temáticas centradas no consumismo, na banalidade, na sexualidade e no prazer. Há quem considere que é um dos exemplos mais conseguidos de alguém que consegue que a arte aconteça dentro do espectador, não pela interação com a obra de arte, mas pelos significados e atribuições associadas às suas obras. Outra característica dos trabalhos de Koons é que não é ele que executa as obras, tendo uma equipa para o efeito.
Recentemente, a 13 de maio, inaugurou uma exposição na Fundação Beyelen, na Suiça, em que podem ser encontrados alguns dos principais trabalhos que realizou nos últimos 30 anos, incluindo o tributo a Michael Jackson e ao seu chimpanzé (“Michael Jackson and Bubbles”, de 1988). Esta exposição estará patente até 2 de setembro.
O que levou alguém a dar tanto dinheiro por uma obra de Jeff Koons é difícil de explicar e talvez só mesmo quem o fez o possa explicar.
No entanto, em geral, trata-se de compradores que são colecionadores e que vão adquirindo peça a peça em função do seu gosto pessoal, mas inserindo cada aquisição num fio condutor de coerência interna e numa visão de conjunto de coleção, em que o todo é mais do que a soma das partes.
Assim, comprar arte é diferente de colecionar arte. Comprar arte é uma atividade mais aleatória, baseada no gosto e em preferências pessoais, tendo muitas vezes um propósito decorativo. Colecionar arte representa um compromisso mais a longo prazo, com um propósito mais estratégico em mente, envolvendo uma componente afetiva, mas também uma componente cognitiva na tomada de decisão sobre a aquisição de cada obra até um determinado valor.
Em todo o caso, não há arte certa ou errada e não há uma maneira certa ou errada de comprar ou colecionar arte. Qualquer um pode colecionar tudo o que quiser, pela quantia que estiver disposto a gastar, desde que a tenha.
Paradoxalmente, a posse de obras de arte não se alinha na tendência duma sociedade cada vez mais desprendida da posse de bens e mais focada no consumo imediatista e funcional dos objetos. No entanto, alguém tem de os possuir. E, no que diz respeito a obras de arte, cada vez parece mais difícil estipular os limites dos valores possíveis de atingir…
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de junho)
(CM)