Fomos verificar o estado do Turismo no Algarve ao retirarmos o essencial das declarações recentes de João Fernandes ao jornal Expresso. O predidente da Região de Turismo faz uma análise detalhada e deixa muitas preocupações, apesar de confiante no trabalho feito e que está a ser feito em prol da principal atividade económica da região.
Das incertezas que geram preocupações, há a falta de mão de obra e de voos com insuficientes ligações aéreas para receber os interessados, recados que vão direitinho para a TAP, mas não só.
Dos riscos, há o receio da nova vaga de covid-19 nos países emissores de turistas e a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), “pois a transição para outras forças de segurança vai ocorrer numa altura em que se prevê um maior volume de procura”, próximo da Páscoa.
“Podemos chegar ao final do ano com 60% dos proveitos hoteleiros dos gerados em 2019”
– explicita o responsável, lembrando que, apesar do primeiro semestre ter sido muito penalizador e marcado por confinamentos e restrições à circulação, verificou-se um crescimento sobretudo a seguir ao verão, desde meados de setembro, com o regresso progressivo dos turistas externos.
“As perspetivas do sector apontam para um 2022 já com um nível de procura mais próximo de um ano normal, de março em diante. Mas é preciso que as empresas aguentem o inverno”
– adianta João Fernandes, sublinhando que os apoios continuam a ser fundamentais nesta fase de retoma.
“Os portugueses já descobriram o Algarve fora da época alta e pode ser muito relevante também em 2022, para este arranque se dar logo em março, antes mesmo da Páscoa”
– e cita alguns “eventos-âncora que geram motivação de visitantes” e estão previstos para março e abril, como o Moto GP e o torneio de golfe Portugal Masters.
“Durante a pandemia não deixámos sair a base da Ryanair do Algarve [ao contrário de destinos concorrentes, como o sul de Espanha], e ainda fomos capazes de atrair a base da EasyJet”
– enfatizando o peso destas duas transportadoras, que em 2019 representavam 60% dos passageiros desembarcados no aeroporto de Faro.
“Nunca houve no Algarve problemas de falta de voos no pós-confinamento e no período em que era preciso reforçar rotas, porque as aeronaves das companhias estavam cá”
– pelo facto de a região contar com bases da Ryanair e da EasyJet, é um enorme fator para a retoma, frisa João Fernandes.
“A TAP só mantém três ligações semanais Faro-Lisboa, o que é claramente reduzido como serviço à maior região turística do país”
– e relembra que “o aeroporto de Faro tem ligações ponto a ponto de nove companhias aéreas ‘de bandeira’ de outros países, como a British Airways, a Lufthansa ou a Air France, que começou durante a pandemia”.
“É importante que a TAP melhore os horários nos voos, “para que as pessoas que vêm ao Algarve a partir de Lisboa não fiquem quatro horas à espera para chegar a Faro”
– frisando ser importante a TAP começar a fazer voos ponto a ponto a partir do Algarve, para quem vem do Brasil, Estados Unidos, Canadá ou mesmo países da Europa.
“Quando entra em equação o esforço público e o dinheiro dos contribuintes, é “bom lembrar que no Algarve também há contribuintes”
– sobre a opção da TAP em não avançar com rotas ponto a ponto a partir de Faro, mesmo apesar da empresa enfrentar constrangimentos.
“A transição [do SEF] para outras forças de segurança vai ocorrer numa altura em que se prevê um maior volume de procura”
– apela a que haja um reforço rápido de agentes da PSP e da GNR no Algarve, “já experientes no controlo de fronteiras”, para evitar estrangulamentos e longas filas de espera no aeroporto de Faro, sobretudo de turistas “de países terceiros, como já é o caso do Reino Unido, e que envolve processar muita documentação”.
“O sector tinha cerca de 400 mil trabalhadores no país e desde a pandemia perdeu 85 mil, de acordo com os números da Segurança Social”
– o principal motivo de apreensão do turismo no Algarve, e em todo o país, é a falta de mão-de obra, salienta o presidente da RTA.
“Há que perceber que, pelos níveis de desemprego historicamente baixos, não há na população ativa portuguesa a resposta para a necessidade associada a uma retoma no turismo”
– João Fernandes acredita que o Algarve terá a partir de março de 2022 níveis próximos de um ano habitual.
“No pico da procura podemos encontrar nos estudantes ou nos habitantes do Baixo Alentejo uma pequena parte da fonte de mão de obra, mas o facto é que, tal como em 2018 ou 2019, esta necessidade tem de ser eminentemente suprida por via da imigração”