Um bom exemplo da interação de entidades da região, envolvidas na preservação do património edificado da região, foi a recuperação do portal da antiga Sé de Silves pela Direção Regional de Cultura do Algarve, que contou sempre com o acompanhamento interessado da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e da Câmara Municipal de Silves.
A intervenção, promovida no final de 2017 no portal principal, em pedra, da antiga Sé de Silves – Monumento Nacional -, permitiu a sua recuperação total. A empreitada realizada incluiu o portal, o varandim exterior e os pináculos, tendo sido efetuado o reposicionamento e consolidação das aduelas nas arquivoltas do portal (cuja instabilidade apresentava perigo para o património e para as pessoas), a limpeza de todas as pedras de silharia e juntas e o refechamento destas, para além da pintura das portas em madeira do acesso principal à igreja e do vão que comunicava o varandim exterior com o antigo coro alto.
Os trabalhos decorreram em três fases, envolvendo estudos e trabalhos realizados por empresas especializadas nas diversas fases do projeto, sob encomenda da Direção Regional de Cultura do Algarve. Assim, foi primeiro realizado um estudo de diagnóstico no qual foram identificadas as patologias da pedra, nomeadamente colonização biológica, pátina, zonas com erosão, elementos a reintegrar, infestação de vegetação e patologias estruturais (desligamentos, fraturas, fissuras, fendas na estrutura e lacunas volumétricas); seguidamente efetuou-se a caraterização dos sais que provocavam a erosão, a lascagem, a desagregação observadas na pedra do portal – calcários dolomíticos de Silves –, cujos resultados permitiram programar uma intervenção consciente e adequada, quer ao nível dos materiais, quer das técnicas a adotar; finalmente, na sequência do procedimento concursal, a execução das obras foi adjudicada a uma empresa especializada pelo valor de 52 mil e 635 euros, comparticipados a 60% pelo CRESC ALGARVE2020. A monitorização e controlo de todos estes trabalhos foi efetuada pela equipa técnica da Direção de Serviços dos Bens Culturais da DRCAlgarve.
Simultaneamente, a Câmara Municipal de Silves promoveu a retificação das drenagens das águas pluviais do lado norte da antiga Sé, cujos defeitos eram a causa de muitas das patologias observadas na silharia do portal.
Para além dos melhoramentos no imóvel e na segurança dos seus utentes, espera-se que esta intervenção contribua para o aumento das visitas ao monumento, que anualmente ultrapassam já as 45 mil, trazendo benefícios para a economia local e contribuindo para a sustentabilidade de uso da antiga Sé, um dos mais relevantes edifícios monumentais do Algarve, não só devido à sua plena compatibilidade com a fruição turística e religiosa mas também por se tratar de um edifício que – apesar das posteriores alterações e acrescentos, nomeadamente com interessantes exemplares de talha e imaginária – conserva a sua essência claramente gótica, que remonta maioritariamente ao século XV e é contemporânea da primeira globalização comercial da Época Moderna, tendo como particularidade os materiais utilizados na sua construção: o arenito vermelho e os calcários dolomíticos de Silves.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Fevereiro)