Talvez fosse expectável que dedicasse o título destas linhas à exposição “Pinturas do Barroco em Sevilha e no Algarve”, que está actualmente patente no Museu Municipal de Faro, e que sem dúvida o mereceria.
Não obstante, o título reflecte neste caso o que desejo seja o tema central e nessa medida a exposição “Faro, Marcos de Urbanismo” ganha posição de destaque que reflecte tão só uma opção no que toca à importância relativa das várias exposições temporárias que actualmente ocupam o museu municipal da capital de distrito.
Nota prévia para destacar a dinâmica que o museu mostra neste momento e para a diversidade do aqui ali se pode ver e apreciar.
Mas passemos à mostra sobre os marcos – alguns – da evolução urbanística da cidade. Esta só peca por curta e pela vontade que fica sem resposta de conhecer mais sobre a evolução urbanística de Faro.
Três salas marcando o compasso do discurso expositivo levam o visitante por um périplo por alguns dos edifícios, opções urbanísticas e planos, mais determinantes da forma como Faro se estendeu sobre a tábua rasa do terreno do mar em direcção à campina.
O ‘início’ e o decurso até 1850
À entrada, na primeira sala, um pórtico da antiga Ermida do Espírito Santo é o elemento central da viagem entre o século XV e a primeira metade dos anos 800 do milénio passado.
A cerca seiscentista desenhada virada a dentro e que na sua forma semicircular desde cedo marcaria definitivamente, ou assim não impusesse o mar, a forma semicircular com que a cidade se desenvolveria até hoje; o génios e o programa iluminista de D. Francisco Gomes do Avelar e a mestria de Francesco Fabri que traçou muito do que hoje temos de mais marcante do ponto de vista monumental; passando pelo Bairro Ribeirinho, são os destaques deste primeiro momento expositivo.
A modernidade imposta pelo século XIX
Na segunda sala mostra-nos a estrada de ferro, que ainda hoje tanta polémica traz aos mais variados fóruns de debate e pensamento sobre a cidade de Faro, e a forma como qual bordado se implanta na orla ribeirinha.
É aqui que se pode descobrir um pouco mais sobre a ponte ferroviária que limita a doca e que hoje imóvel faz esquecer outros tempos em que girando sobre um eixo marcava a modernidade nas infra-estruturas da cidade.
É o tempo da primeira circunvalação da cidade iniciada em 1887 e que marcava a ligação moderna entre Barlavento e Sotavento na cidade que domina o Cabo de Santa Maria.
Também é neste momento da exposição que pode ver o projecto da Praça Dom Francisco Gomes – frente à doca – com Frederico de Vasconcelos a desenhar um espaço em tudo diverso do que hoje podemos ver com o Jardim Manuel Bívar.
Tempo ainda nesta sala para ver nascer a Avenida de Santo António do Alto, a actual 5 de Outubro, e a Estrada da Atalaia, bem como o Bairro da Carreira.
1945, o Ante-plano Geral de Urbanização
O último momento expositivo mostra alguns dos edifícios e das opões de plano que conhecemos hoje na cidade, muitos deles frutos da índole construtiva do Estado Novo e do trabalho monumental que Duarte Pacheco espalhou por todo o país durante o seu consulado enquanto ministro das Obras Públicas de Salazar.
É já a cidade com as radiais que hoje percorremos que se mostra em formação, é o gizar das novas circulares que darão à cidade o perfil que lhe conhecemos e é com este momento que a exposição nos convida a um fim carregado de curiosidade e de vontade de ver e saber mais.
O muito que fica por dizer daria certamente outra exposição
Há muito que fica por dizer nesta mostra de urbanismo, do que se fez e como se fez e do que caiu por terra ou se empoeirou em gavetas, muitas deixadas levar pelo bafio do tempo.
É essa a “curtez” da exposição que sem a empobrecer nos deixa como que dependurados na curiosidade.
Fica também por descobrir e perceber o muito que haveria para conhecer sobre os erros, as enormidades e os atentados que ao longo do século XX se foram praticando contra o urbanismo e contra a herança arquitectónica e patrimonial da cidade.
Certamente daria outra exposição, que, face a esta manifestamente imperdível, seria também ela imprescindível na compreensão da evolução da urbe que os farenses habitam.
Certo é que esta exposição é fundamental, pedagógica como poucas e absolutamente incontornável para quem deseja conhecer e perceber melhor a cidade e os contornos da sua implantação no terreno.
Como saber mais do que a exposição nos conta: as visitas guiadas
Está de parabéns o Museu Municipal de Faro e os responsáveis pela exposição igualmente o estão e tanto mais o estão quanto há a possibilidade de visitar a mostra com o apoio de guia.
As visitas guiadas decorrem às sextas-feiras a partir das 15 horas, sujeitas a inscrição de pelo menos seis e no máximo 15 pessoas em [email protected] ou pelo telefone 289 870 827/9. A inscrição deve ser feita com uma semana de antecedência.
O Museu de Faro pode ser visitado de terça a sexta-feira entre as 10 e as 18 horas; e ao fim-de-semana entre as 10.30 e 17 horas.
(Artigo publicado na edição papel do Caderno Cultura.Sul de Novembro)