As praxes foram suspensas no recinto da Universidade do Algarve. O POSTAL falou com o Magnum Concilium Veteranorum (MCV), que explica que as atividades vão acontecer em outros espaços, como casas de alunos. Começou esta terça-feira mais um ano letivo na Universidade do Algarve (UAlg), onde centenas de alunos regressam aos campi depois do verão e de um período em telescola, devido à pandemia do novo coronavírus.
A Universidade do Algarve já revelou algumas das medidas para combater a doença causada pela SARS-CoV-2. Será feita a desinfeção constante dos espaços, uso de máscara dentro dos edifícios, criação de circuitos para evitar o cruzamento de muitos utilizadores e ainda a redução da capacidade dos bares e refeitórios. Os horários estão estrategicamente estipulados, para evitar muitos aglomerados de turmas e alunos na mesma escola/faculdade.
Uma das questões que mais se tem falado nos últimos dias são as praxes académicas. Todas as cerimónias que englobam esta tradição foram suspensas – como a Monumental Serenata – mas as praxes em si continuarão a existir. O MCV é o grupo de alunos que regula a tradição que recebe os estudantes do primeiro ano, chamados “caloiros”. Segundo um documento emitido pela entidade, “atividades praxísticas diurnas de carácter coletivo dentro dos campi da Universidade do Algarve estão suspensas”. Ao longo do documento, é ainda possível ler que as atividades “fora do espaço da instituição” estarão ao abrigo do estado de contingência.
O documento emitido pelo MCV deixa ainda claro que alunos pertencentes à Comissão de Praxe poderão fazer o acolhimento aos novos alunos, dando indicação de salas, num grupo de três pessoas. Resumindo o conteúdo, é percetível que existirão praxes fora do recinto da Universidade do Algarve, mas estão proibidas atividades habituais junto à “praia, mata, doca, entre outros”. O MCV reforça ainda que tudo deve ser feito “num ambiente controlado”
O POSTAL contactou o responsável pelo MCV, para esclarecer o conteúdo do referido comunicado, uma vez que surgiram algumas dúvidas dentro e fora da comunidade académica. Daniel Leal começou por explicar que “aquilo que disponibilizamos no decreto foi aquilo que sentimos […] necessidade para que as coisas corressem bem e a cultura e tradição não acabassem”.
Questionado sobre a realização ou não de praxes no ano letivo que começou terça-feira, o responsável pelo grupo regulador de praxes vinca que “na totalidade das Comissões de Praxes, a resposta foi unânime” para a realização das praxes. O POSTAL apurou que existiram reuniões com os alunos para esclarecer as regras para a realização de praxes em tempos de pandemia.
Daniel Leal acusa as “reitorias a um nível nacional” (incluindo a UAlg) de estarem a usar a covid-19 como “bode expiatório” para acabar com as praxes. No final do mês de agosto, o POSTAL entrevistou Paulo Águas e questionou o reitor sobre a realização ou não das praxes. A resposta mostrou que “os estudantes irão compreender a situação e sabem aquilo que podem ou não fazer. Vejo que um conjunto de atividades que os estudantes faziam, e não podemos alterar a realidade, faziam-no sem que houvesse autorização da reitoria. Espero que haja a racionalidade e discernimento suficientes para fazer as coisas, ou seja, que não haja praxes. Se, porventura, a AAUAlg não der passos claros nesse sentido, a reitoria terá de fazer algo. A posição aqui é aguardar e esperar que não existam decisões tomadas pela reitoria”.
A decisão da reitoria terá levado ao cancelamento das praxes dentro do recinto da Universidade do Algarve. O MCV, contudo, autoriza a realização de atividades desde que sejam cumpridas as regras de distanciamento social. Surge aqui uma questão, feita pelo POSTAL, sobre como será feita a regulação das praxes, uma vez que os alunos estarão fora dos portões da UAlg e longe do território que era anteriormente usado para a realização das atividades. Daniel Leal explica que “teremos uma noção (e sempre tivemos) […] de onde estarão mais ou menos as comissões”. Contudo, não será possível para o grupo do MCV estar em todos os locais a regular as atividades, até pela regra de que só podem estar reunidas 10 pessoas e isso formará muitos “sub grupos” dentro de cada curso, tornando a ‘missão’ impossível.
Sobre essa questão, o responsável pelas praxes afirma que ninguém vai incumprir as regras, não deixando claro como irão conseguir vigiar as praxes de todos os cursos. A realização de praxes vai acontecer também nas casas de muitos estudantes, pelo que foi possível apurar pelo POSTAL. Daniel Leal não nega esse fenómeno, mas refere que por a casa do estudante ser propriedade privada, ele pode fazer “o que bem entender”, mas “nós [MCV] confiamos que as comissões estão bem instruídas” para cumprir regras.
Deste modo, existirão atividades em casas de estudantes às quais o órgão regulador das praxes não terá acesso direto, por se tratar de um local privado. As praxes começam esta terça-feira na Universidade do Algarve, com destaque para os cânticos dos cursos e jogos que apresentem os novos alunos aos colegas de turma e aos colegas do último ano, segundo o MCV.