Mariano Alejandro Tomasovic Ribeiro nasceu em Buenos Aires, em 1993. Aos dez anos a sua família deixou a Argentina e estabeleceu-se em Portugal. Estudou em várias Universidades, passando pelos cursos de História da Arte, Medicina e Psicologia, tendo uma licenciatura neste último e uma pós-graduação em Teoria da Literatura. Colaborou em diversas revistas literárias como a Sizígia (CanalSonora, 2014), Modo de Usar & Co., Flanzine e Enfermaria 6. Tem publicados os livros ‘Antes da Iluminação’ (Mariposa Azual, 2016), ‘Carta em fuga para cravo e Drá’ (Douda Correria, 2017) e ainda ‘Cabeça de Cavalo’ (Macondo, 2017), este último no Brasil.
Como é o teu quotidiano na escrita da tua poesia?
A poesia vem por momentos. Podem passar dias, semanas em que não escrevo nem penso em escrever, e depois dou por mim em alturas de muita produção, em que qualquer circunstância, frase, cheiro são o ponto de partida para criar alguma coisa.
Fala-nos acerca de coisas dos teus dias em que acontece poesia ou que a faças acontecer.
Acho que a poesia está latente em tudo, enquanto componente do nosso quotidiano, mas depende muito mais do estado de espírito do poeta, se se deixa (ou não) influenciar pelo entorno e ainda se tem convicção de que determinado verso ou poema vale a pena ser passado ao papel.
Consegues escolher o teu livro/ livros de poesia preferido/s? Os mais relevantes?
Leio muita poesia, e tento diversificar a leitura de poesia ao máximo, por isso não conseguiria escolher apenas um. Gosto muito dos poetas do modernismo, do T.S. Eliot, do Ezra Pound, do Rilke, do Almada. O Pessoa aborrece-me um bocado. Mas foram eles que deram o primeiro passo para “mundanizar” a poesia, para a tornar do povo, e isso é um gesto de tanta virtude e de tanto valor que é impossível um autor não se deixar influenciar por eles.
Autores que gostas ou que possas dizer te inspiram a escrever?
Para além dos que mencionei, provavelmente a poesia americana, do Walt Whitman ao Gary Snyder, o Ginsberg incluído.
Na poesia portuguesa tento fugir sempre que posso à influência do Herberto, do Al Berto e do Cesariny, embora goste muito de os ler. Dos nossos poetas contemporâneos a Adília é uma instituição, o Miguel-Manso e o António Poppe também são uma grande influência para mim.
Já ninguém usa caneta e papel, quanto mais máquina de escrever, que material usas para escrever, como é o processo material da tua escrita? E o imaterial?
Quando me ocorre algum verso que me parece interessante aponto-o no telemóvel, às vezes pode chegar a ser um poema inteiro, mas a maior parte das vezes é só um verso ou palavras que na altura me soam bem. De resto, escrevo sempre, sempre no computador, nunca com caneta e papel.
O processo imaterial da escrita é o mais complicado, porque sinto não ter muito controlo sobre ele. Simplesmente acontece e quando a frase que surge na minha mente parece por alguma razão adequada, e aí passo-a a um suporte físico.
Quando (dia, hora, estação do ano) escreves?
Sempre e só de manhã.
Vícios, manias e segredos contáveis relacionados com a tua escrita…
Não mostro absolutamente nada dos meus textos até não estarem publicados e no seu estado final, quer seja impresso ou online. Tirando isso, a minha namorada é a única pessoa que consulto durante o processo de criação, quando não estou completamente seguro sobre alguma coisa. Também não escrevo em público.
Que livro de poesia estás a ler ou leste recentemente?
Leio sempre poesia em paralelo com algum romance ou livro de não-ficção. Ontem estive a reler o livro 50 Poemas do Tomas Tranströmer, editado pela Relógio D’Água. Antes desse, foi o Obra Gruesa, do Nicanor Parra.
Ao desafio de Pedro Jubilot: ‘Escolhe um poema teu para nossa leitura…’, o autor argentino respondeu desta forma:
‘SEI’
As mãos atadas ao almofariz
A ponta dos dedos a querer decifrar
O morse do quotidiano nas cicatrizes da madeira
Distancia-te um pouco desse sol de alvorada
Finge-te finnegans ao despertar
Sê humildemente
A humidade
Da terra
In Cabeça de Cavalo (Edições Macondo, Brasil, 2017)
(Artigo publicado na edição papel do Caderno Cultura.Sul de Dezembro)