Dizem que a máscara ao pescoço é um perigo porque, quando nos volta ao rosto, pode trazer vírus que lá tenham ido parar.
Se pensarmos bem, a menos que a usemos de maneira absolutamente descartável (ao bom estilo do “pequeno uso tem que implicar viagem direta para o balde do lixo”) ela será sempre um perigo, por contactar com a mala, com o bolso das calças, com as mãos, com o tampo da mesa ou as costas da cadeira.
Dizem que morrem muitos, que morrem poucos, que todos seremos contagiados, e que a doença é quase inócua; dizem que todos anseiam pela vacina, que ela vem no outono, que será essencial, e que será um placebo com segundas intenções.
Dizem tanta coisa contraditória e inconsistente que está tudo a ficar farto de tamanha fantochada.
A sério que, no estado de desenvolvimento científico em que a humanidade se encontra, ainda não percebemos como se lida com esta coisa?
Ou será que estamos apenas perante um global aproveitamento desta “deixa” para se caminhar a passos cada vez mais largos rumo à crescente tendência da super esterilização da humanidade?
Cada vez mais as populações estão a ser compostas por assépticas florzinhas de estufa que, ao primeiro contacto com ambientes naturais e comuns, entram em choque potencialmente letal.
“Não coloque qualquer tipo de alface no hamburguer da minha mulher!”, ouvi no outro dia, na esplanada da praia: “olhe que se ela comer qualquer tipo de verdura pode morrer!” Morrendo ia eu, engasgada com o meu wrap e com tamanho dramatismo.
E é a isto que estamos entregues: à morte da normalidade às mãos das paranóias extremistas e teorias de conspiração viral e bacteriológica.
E nem estou a afirmar que a doença causada por este vírus, como tantas vindas de tantas origens diferentes, não seja algo de que nos devemos proteger individual e colectivamente.
Apenas me parece, quando penso um pouco nisto, que a história do covid 19 veio acelerar e acentuar dramaticamente a já forte tendência que existia de caminharmos a larguíssimos passos para um mundo todo esterilizadinho; um mundo totalmente asséptico, desinfectado, embrulhado em mil regras protecionistas que não nos protegem grande coisa; que, pelo contrário, nos estão a tornar frágeis como nunca antes fomos, e incapazes de criar defesas por vivermos em redomas.