Na escola primária, ainda em pleno Estado Novo, aprendíamos que “Portugal não é um País pequeno” e os professores para o demonstrar exibiam um mapa da Europa.
Ao continente, a que chamavam ‘metrópole’, colavam as “províncias ultramarinas portuguesas”. No mapa assim idealizado a Europa era toda portuguesa até fronteiras da URSS.
Percebi mais tarde que Portugal, do ponto de vista cultural, é um grande País com enorme potencial de intervenção global, mas com uma política cultural pequena. Vejamos:
A língua portuguesa é falada nos cinco continentes por cerca de 290 milhões de pessoas. Um idioma com uma expressão universal maior que o francês, o alemão, o italiano ou o russo, possuímos a quinta língua mais falada no planeta.
Monumentos planeados e construídos pelos portugueses na África, Ásia, Américas estão classificados pela UNESCO como património mundial. Se analisarmos a influência da componente imaterial da cultura portuguesa, nas tradições festivas, simbologias religiosas e profanas, modelos alimentares e convivialidades, o território é infindável.
Será que os cidadãos reconhecem e valorizam a importância da sua cultura? O País tem uma política cultural que corresponda à sua relevância no mundo? É óbvio que não tem.
Não será certamente por falta de recursos financeiros ou de pessoas qualificadas e especializadas para desenvolverem programas e acções. É porque nunca se entendeu que a língua e a cultura portuguesas são elementos excepcionais e prioritários na relação com o mundo e em todos os sectores, na economia, novas tecnologias, diplomacia e outros, mas também para o desenvolvimento das sociedades.
Em Março de 1998 a UNESCO organizou em Estocolmo uma importante conferencia sobre ‘Políticas Culturais para o Desenvolvimento’, na qual como primeira conclusão se considerou que “a política cultural é um elemento chave para o desenvolvimento”. Em 2003 a UNESCO adoptou a Convenção sobre o Património Cultural Imaterial e em 2005 mais de 180 Estados aprovaram a ‘Declaração Universal sobre a diversidade cultural’, na qual se salienta que “a diversidade cultural é para o género humano tão importante como a diversidade biológica”.
Sabemos que a acção cultural não se resume aos espectáculos, festivais ou a programas conjunturais para atrair turistas, tendências que actualmente preenchem excessivo espaço orçamental e mediático criando situações de profundo desequilíbrio.
O número de festivais de música, a maioria de rock e jazz, segundo a APORFEST, registou em 2016 em Portugal um aumento de 18% em relação ao ano anterior, um total de 249 festivais, isto é mais de um ‘festival’ em cada dois dias… A maioria são apoiados ou sustentados por autarquias locais.
A área do património e museus, segundo a DGPC, teve um crescimento de visitantes de + 44,5% entre 2011 e 2016, passando de 3,2 para 4,6 milhões, sendo os estrangeiros quase metade. Mas continuam os mesmos problemas de pessoal, manutenção e programas de apoio ao desenvolvimento de projectos novos.
A gestão cultural é neste momento uma disciplina incontornável, quer no plano do diagnóstico e da investigação, como na definição de estratégias e de programas prioritários.
Uma política cultural adequada integrará como elemento central a formação profissional em gestão dos recursos culturais e a internacionalização. As universidades portuguesas e politécnicos devem quanto antes responder à necessidade de criação de licenciaturas e formação dos quadros profissionais que necessitamos para trabalhar dentro e fora do País. O potencial de recursos culturais disponíveis e o posicionamento de Portugal no mundo requerem novas estratégias e soluções pragmáticas.
(Artigo publicado na edição papel do Caderno Cultura.Sul de Dezembro)