São empresários experientes da noite da capital algarvia, mas a pandemia está a ser uma “folha em branco” para ambos. Em entrevista ao POSTAL, fazem uma radiografia ao estado atual dos seus negócios e como se estão a adoptar a esta nova realidade. Do Governo continuam expectantes sobre as futuras medidas, mas uma coisa parece certa: este ano não há pistas de dança.
Bares e discotecas por todo o país continuam fechados, desde o início da pandemia em Portugal, a 2 de março. Dias depois, o comércio e serviços tiveram ordem de encerramento, pois o país entrou na fase de confinamento, tendo sido decretados três estados de emergência. Posteriormente, já em altura de desconfinamento, a reabertura da economia fez-se em três fases. Contudo, a situação dos estabelecimentos noturnos continua incerta, volvidos cerca de cinco meses.
Apesar das quebras de turismo registadas em todo o país, a região algarvia continua a ser um destino turístico para muitos visitantes. O setor noturno já se manifestou diversas vezes devido à falta de respostas do Governo. O POSTAL falou com três empresários de Faro, zona de destaque da região quando se fala de saídas à noite.
Jaime Simões é responsável por três dos espaços noturnos mais conheci- dos da zona de Faro. Com 21 anos, o Bar Património é reconhecido como uma discoteca de estudantes, juntando centenas de jovens todas as quintas, sextas-feiras e sábados. O Castelo está ao serviço do público há dez anos e a Baixaria abriu há dois. Questionado acerca do início da pandemia, o empresário confessa que pensou logo no fecho dos seus negócios, mas concordou inteiramente com a decisão do Governo, uma vez que seria essencial proteger a população e evitar a propagação do vírus.
Os postos de trabalho dos funcionários não ficaram em risco, mas Jaime Simões explica que estava a trabalhar com 22 pessoas e, neste momento, apenas tem 9 funcionários. O Bar Património continua encerrado, sem nenhuma resposta do Governo, e os restantes dois negócios adaptaram-se a uma nova realidade, que certamente será a que teremos nos próximos anos. O proprietário explica que “temos de chegar a um ponto e pensar que este ano não há pistas de dança”.
Discotecas devem-se adaptar à realidade
A possível reabertura das discotecas é um assunto que tem dado que falar, mas as condições para voltar com estes espaços ainda não estão completamente definidas. A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) referiu em comunicado entregue ao Governo, há cerca de um mês, que “a área da pista de dança deverá ser marcada no chão por meio de quadrados, com 2,25 metros quadrados de área cada, que permitam garantir a distância física entre pessoas”. Os clientes e colaboradores deveriam fazer-se acompanhar de máscaras (exceto na hora de tomar alguma bebida), para aumento da proteção de todos.
Esta solução não parece totalmente do agrado de Jaime Simões, que sugere que as discotecas se devem adaptar à realidade e ser transformadas em espaços com mesas, onde o distanciamento social iria ser garantido, uma vez que a continuação do encerramento de bares e discotecas causa enchentes noutros locais, sendo preferível reabrir todos os espaços (em segurança) e permitir que o verão não seja totalmente “perdido”. Estamos em época alta devido ao turismo, mas a verdade é que os visitantes “querem sair até mais tarde” e o facto de não terem onde ir causa o “efeito dominó”, ou seja, cafés e restaurantes saem também prejudicados, uma vez que “nem todos querem sair para ir apenas jantar e voltar a casa”, portanto optam por convívios em casa.
Esta teoria é também defendida por André Pereira e André Pires. Os sócios das discotecas Zero, First Floor Club, Twice, bares 3Points, Estúdio 4 e restaurante Adega, concordam com a “teoria do dominó”. Tal como Jaime Simões, também os jovens empresários não estavam à espera da dimensão que a pandemia acabou por atingir e admitem que todos os negócios se devem adaptar a esta nova realidade. “Poderia haver um dj num canto estratégico da sala e mesas para garantir o distanciamento social”.
“A questão dos estudantes está difícil e causa incertezas também”. Os alunos da universidade são a grande fonte de rendimento das discotecas no inverno e a incerteza do regresso às aulas em regime presencial, a partir de setembro, pode também condicionar os negócios. Para os empresários, a falta de respostas é uma condicionante e “houve muita coisa mal feita”. Em relação a outros países, por exemplo, os responsáveis pelo Twice e outros negócios consideram que Portugal está “mais atrás”. A situação que os empresários da noite vivem é mesmo “inconstitucional”, na opinão de André Pereira e André Pires.
Quanto à questão dos funcionários, muitos estão em lay-off, mas confessam os empresários que não “queriam que os colaboradores sofressem”. Nesta altura do ano, já se estaria a reforçar a equipa, mas devido à situação de pandemia, tal não está a acontecer.
Toda esta situação, tem a ver com “vidas, com trabalho, carreiras, passado e futuro”, refletem. A situação continuará incerta até nova reposta do Governo e as contas continuam a acumular, mesmo com as ajudas dos governantes pelo país. Como refere a dupla de empresários, a pandemia foi uma “folha em branco” nos negócios e é preciso “acordar com esperanças para voltar ao trabalho”.