A Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve anunciou 60 vagas para médicos, visando reforçar os seus profissionais de saúde durante a época balnear, contudo, não houve muitos candidatos. O POSTAL conversou com Paulo Morgado, presidente do Conselho Diretivo da ARS Algarve.
Sobre o reforço dos médicos, o responsável esclarece que “não foi um concurso. Nunca dissemos que era um concurso, mas houve um jornalista que o disse e foram todos atrás”. Paulo Morgado explica que “o que se passa, é que todos os anos é feito um despacho pelo Ministério da Saúde que permite aos médicos um regime temporário e transitório de mobilidade para a região do Algarve, ou seja, os médicos que trabalham e fazem parte dos quadros de pessoal de outras instituições podem usufruir deste regime, passar a trabalhar no Algarve em horário total ou parcial durante o período de verão, até ao final de setembro”. Este despacho ocorre todos os anos com “um conjunto de especialidades e tem um número generoso de vagas, para que as pessoas se possam candidatar caso queiram trabalhar no Algarve, sem perda de nenhum direito e com alguns benefícios especiais. Entre eles, o alojamento, subsídio de deslocação e outras questões que a lei lhes compete”.
Paulo Morgado fala ainda das qualidades do Algarve enquanto destino ideal para se passar férias e aproveitar o sol e também para trabalhar. “Quando vêm para o Algarve têm a possibilidade de estar a trabalhar num lugar que é agradável. Podem estar a trabalhar uma parte do dia e na outra usufruir do ‘nosso’ Algarve e das suas condições climáticas. É um bom sítio para passar férias e um bom sítio para trabalhar”, destaca. O responsável explica ainda a condição atípica que vivemos e a dificuldade de mobilização e estabilidade, em tempos de pandemia. “De facto, tivemos muito poucos candidatos e este ano abrimos também a hipótese para enfermeiros e tivemos sobretudo a candidatura destes”, conta ao POSTAL. Ainda assim, o presidente da ARS Algarve destaca que “não estamos a contar com estes profissionais que venham neste regime para fazer funcionar os nossos serviços. Estes funcionam de forma normal e natural durante todo o ano, com recurso também a contratações de profissionais em regime de contratação de serviços”.
Em termos de benefícios para a instituição no que respeita à deslocação de profissionais, Paulo Morgado realça que “no caso de termos profissionais que vêm de outras zonas do país, não precisamos contratar tantas horas de prestações de serviços. Esse é o benefício financeiro, apesar de não ser substancialmente elevado. A diferença entre os valores não é assim tão grande”, conclui.
A mensagem que os utentes devem reter, segundo as considerações de Paulo Morgado, é que os serviços e as escalas estão assegurados na urgência: “Não é por causa de não ter havido candidatos que isso terá impacto na assistência que temos de dar às pessoas, é mais uma questão de gestão dos próprios serviços”.
As teleconsultas vieram para ficar no Algarve e no mundo
A pandemia do novo coronavírus chegou a quase todo o mundo e em Portugal, mais precisamente no Algarve, não escapámos à doença provocada pela SARS-CoV-2. Paulo Morgado fez uma retrospetiva destes meses e resume a chegada da pandemia à região algarvia como “meses difíceis e que transformaram por completo o panorama nos cuidados hospitalares”. A vida de todos nós alterou-se com esta ‘nova’ e tão falada realidade. A situação criou “constrangimentos no atendimento das pessoas”, refere Paulo Morgado.
Os processos estão agora mais demorados, assim como as consultas. O presidente da ARS Algarve afirma, contudo, que houve um aspeto positivo no meio de toda esta situação. As teleconsultas vieram para ficar e a região algarvia procura no futuro condições para realizar consultas por videochamada.
Questionado acerca da facilidade de habituação dos utentes a este novo método, que envolve algum conhecimento em tecnologias, Paulo Morgado defende que “não é só em Portugal que se utiliza este método. As teleconsultas são algo que veio para ficar e é um esforço de investimento tecnológico da nossa parte”.
O responsável afirma que todos os médicos e todos os doentes perceberam que esta nova forma de utilização dos serviços de saúde é muito útil. Apesar das reticências de alguns profissionais de saúde a este método, a maior parte acabou “por se render”. Não nos devemos esquecer, contudo, que as consultas por chamada telefónica não substituem as tradicionais consultas. “Existem muitas consultas feitas de forma presencial que são feitas com vantagem, quer para o médico quer para o utente por teleconsultas e todos perceberam isso nesta situação de pandemia”, salienta.
Cerca de 80% dos utentes da região têm médico de família
Paulo Morgado fala num complemento, que deve ser feito entre consultas presenciais e as teleconsultas, uma vez que o acompanhamento presencial continua a ser importante. O presidente da ARS afirma que a taxa de cobertura de utentes com médico de família está “progressivamente a aumentar”. Neste momento, cerca de 80% dos utentes da região têm médico de família, contudo, Paulo Morgado destaca que a situação não é igual em todos os locais do Algarve e que existem alguns locais mais fragilizados. “Em alguns concelhos ainda existem carências, é o caso de Portimão, Loulé, Faro (não muito) e Albufeira”, reforça. A situação é justificada devido à densidade populacional, que causa algumas dificuldades em chegar a toda a população.
“As pessoas vão ficando à espera para ver se passa e quando recorrem já pode ser tarde”
As outras doenças não acabaram com o surgimento da pandemia. Esta é talvez a melhor e mais clara frase para definir a situação. “As pessoas vão ficando à espera para ver se passa e quando recorrem já pode ser tarde”, afirma Paulo Morgado. Todas as outras doenças somadas, acabam por registar números muito maiores do que os provocados pela pandemia. Vale a pena lembrar, deste modo, que “não é preciso ter medo de recorrer aos serviços de saúde e ao seu médico, porque é para isso que ele lá está”.
Os serviços de urgência, contudo, só devem ser procurados depois de contactada a Linha da Saúde 24. Em situações de dúvida, procurar o serviço telefónico do SNS é a melhor opção e o responsável pela ARS destaca a “excelente e rápida resposta” que está a ser feita agora. Passada a fase mais crítica da pandemia, os serviços de saúde estão mais aliviados e conseguem corresponder melhor aos utentes necessitados.
O Algarve está a reforçar os seus profissionais e já contratou para os centros de saúde 147 profissionais, entre os quais 31 enfermeiros, 42 assistentes técnicos e 70 operacionais. Quanto ao CHUA, já contratou 122 profissionais de saúde, entre os quais 29 enfermeiros. Existe assim na região algarvia um “reforço daquilo que são os nossos serviços para dar uma melhor resposta a esta situação”. As contratações irão continuar e já estão em cursos os processos necessários para avançar com as mesmas. Paulo Morgado avança que estão ainda abertas 35 vagas para médicos de família, mas é “difícil contratar todos”.
Em termos gerais, o presidente da ARS Algarve afirma que a missão durante a pandemia tem sido cumprida com sucesso. Apesar das incertezas do futuro, a “situação parece estar controlada, contrariamente a outros países”. A tendência deve, contudo, alargar-se a Portugal, segundo Paulo Morgado. O inverno e a chegada das infeções virais podem aumentar as preocupações também devido à Covid-19.