O desenvolvimento das novas tecnologias tem vindo a abrir as possibilidades de produção artística e de interação com as artes visuais, levando a que muitos considerem que a inovação tecnológica é a chave para a arte do século XXI.
Os termos arte digital, arte de computador, arte multimédia, arte interativa e media arte começaram a ser utilizados para descrever trabalhos que são feitos utilizando a tecnologia digital, como sejam as instalações multimédia interativas, os ambientes de realidade virtual e a arte baseada na net.
Nesta perspetiva, começam a ser exploradas formas de tornar a arte tão expressiva que possa “tocar” o público não apenas através da visão, mas também usando os outros quatro sentidos, conforme tivemos oportunidade de salientar no artigo “Pode a arte visual ser expressa para os cinco sentidos?”.
Isto passa por uma perspetiva integrada e complementar das artes visuais, em que o todo é mais do que a mera soma das suas partes.
A arte contemporânea veio abrir as possibilidades relativamente às formas de produção artística e às combinações possíveis na utilização de diversas técnicas, tendo também cada vez menos sentido tentar categorizar um artista num determinado movimento ou estilo.
É assim cada vez mais difícil delimitar as categorias das artes visuais utilizadas pelos artistas no seu trabalho, pois assumem uma perspetiva multidisciplinar, em que utilizam algumas das várias categorias possíveis, integrando a sua utilização.
Neste sentido, tal como defendemos no artigo “Quais os limites para a integração de técnicas nas artes visuais?”, não há limites para a integração nas artes visuais, o que aumenta o jogo de possíveis na produção artística, sendo o conhecimento das técnicas artísticas e a criatividade do artista os principais motores para a realização da obra.
No nosso percurso nas artes visuais temos procurado utilizar diversos meios artísticos, nomeadamente fotografia, pintura, escultura e também filmes de curta duração, encontrando-se vários destes meios presentes simultaneamente em cada um dos trabalhos realizados. Por exemplo, o trabalho “Funchal, 01/01/2007, 00h01” constitui um exemplo da integração de diversas técnicas de artes visuais, incluindo a fotografia, a pintura e a escultura, mas acrescentando a projeção de filme sobre a tela. (link para visualização:https://youtu.be/EJnFC01I55M?list=UUJZfSwIXwx9FljFoy41wm9g).
Assim, a tecnologia pode ajudar a aumentar a imersão do espetador numa exposição de artes visuais, potenciando a sua dimensão sensorial e emocional.
Um exemplo recente é a exposição imersiva digital ‘Impressive Monet & Brilliant Klimt’, alusiva à obra dos pintores Claude Monet e Gustav Klimt, autores contemporâneos nascidos no século XIX e fundamentais na história da pintura moderna, a qual permanecerá no espaço subterrâneo do edifício Alfândega do Porto até 15 de novembro. A “Immersivus Gallery” é a primeira galeria de experiências artísticas imersivas em Portugal. São cerca de 2000 metros quadrados de área de projeção em 360º, onde todo o espaço é preenchido por cores e animações, numa conjugação harmoniosa entre a tecnologia e a arte.
Da autoria do ateliê OCUBO, conhecido pela criação de projetos de “vídeo mapping” de grande escala, a “Immersivus Gallery”é o primeiro espaço de experiências artísticas imersivas em Portugal, resultando numa parceria entre o Centro de Congressos da Alfândega do Porto e a marca Fujifilm.
No caso desta exposição, que permite um mergulho imersivo no universo de dois génios da pintura,é composta por hologramas e projeções a 360º, conduzindo o público numa viagem no tempo, refletida nas obras dos dois pintores que se notabilizaram em diferentes correntes artísticas, o francês Monet no impressionismo e o austríaco Klimt no simbolismo.
As pinturas, em vez de estarem circunscritas à dimensão das molduras, de forma estática, espalham-se por todo o espaço permitindo a imersão do espetador nas obras.
Na parte relativa à galeria digital ‘Impressive Monet’, a obra do artista parisiense é reinterpretada de modo a revelar a sua busca interminável pela captura da luze “o que está para além dos quadros, das paisagens, dos acontecimentos e tudo o que está oculto, na essência, aquilo que não se vê dentro da moldura”, explicitam os organizadores.
Por seu turno, em ‘Brilliant Klimt’, o público fica imerso na intimidade do pintor e tem oportunidade de sentir a arte romântica do artista. A exposição, revelam os responsáveis, “traça o percurso pelos aspetos biográficos e pelo legado artístico do pintor austríaco através da sua pintura icónica O Beijo”. Os elementos gráficos desta obra vão-se juntando até que no final pode ser vista a sua projeção integral. Este será o fio condutor da viagem pelo trajeto artístico ao mesmo tempo que são exploradas as influências do mundo de Klimt”.
De salientar ainda que a exposição está estruturada de forma a constituir um convite para uma visita familiar, numa oportunidade direta de dar a conhecer aos mais novos as obras-primas de Monet e Klimt, experienciando uma nova fórmula lúdico-pedagógica em conjunto com os pais.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de setembro)