O título deste artigo corresponde ao título da própria exposição de Bansky (“Bansky: Genius or Vandal”), a decorrer na Cordoaria Nacional, em Lisboa, desde 14 de junho.
Trata-se duma exposição com mais de 70 trabalhos de Bansky cedidos por vários colecionadores privados internacionais.
Como todas as exposições anteriores dedicadas a Banksy, esta também não foi autorizada pelo artista, o qual procura manter o seu anonimato.
Isto embora no ano passado se ter especulado que Banksy seria Robert Del Naja, dos Massive Attack, sobretudo porque as obras de Banksy têm aparecido em diversos locais do mundo, após concertos dos Massive Attack.
Mas Banksy (ou Robert) valorizam a discrição, encontrando-se em contra corrente com aquilo que se passa com a maioria das pessoas na atualidade, em que toda a sua vida é exposta através das redes sociais. Aliás, o anonimato é algo explicitamente valorizado por Bansky, tal como é expresso por uma das suas frases que se encontrava numa exposição que visitámos no Museu Moco, em Amesterdão, em 2018: “I don’t know why people are so keen to put the details of their private life in public; they forget that invisibility is a superpower” (“não sei porque é que as pessoas estão tão interessadas em tornar públicos detalhes da sua vida privada; esquecem-se que o anonimato é um superpoder”).
Banksy não tem conta no facebook ou no twitter e não é representado por nenhuma galeria. Os trabalhos nunca são assinados. Apenas tem conta oficial no Instagram, onde publica as imagens das obras que vai realizando em paredes um pouco por todo o mundo, o que serve de autenticação para as mesmas.
Embora a sua identidade permaneça um mistério, Banksy é um dos artistas mais conceituados na atualidade, com trabalhos a atingirem valores astronómicos.
Isto embora as obras sejam vendidas à sua revelia, não recebendo qualquer valor pelas vendas.
Um episódio muito mediatizado ocorreu há uns meses atrás, em outubro de 2018, uma obra de Banksy “autodestruiu-se” depois de ser vendida por 1,04 milhões de libras (1,18 milhões de euros) na leiloeira londrina Sotheby’s. O próprio autor divulgou uma fotografia na sua conta Instagram no momento em que o quadro “Girl with balloon” (“Rapariga com balão”) se desfaz em tiras ao passar por uma trituradora de papel instalada na parte inferior do quadro. Originalmente, esta imagem havia sido pintada num muro em Londres, tendo sido votada pelos britânicos em 2017 como a obra preferida no Reino Unido. Considera-se que a destruição desta obra só terá aumentado a sua cotação no mercado de arte.
Também foi bastante divulgada a abertura, em 2017, do seu Hotel Walled-Off, considerado pelo próprio como aquele com “pior vista do mundo”, pois situa-se em frente ao muro de Israel na Cisjordânia, que constitui uma das materializações mais emblemáticas do conflito entre israelenses e palestinos. E este muro é a única vista que os nove quartos têm.
Voltando à exposição “Banksy: Génio ou vândalo?”, de acordo com a promotora “Everything is New”, trata-se da “primeira grande mostra em Portugal sobre o iconoclasta britânico que revolucionou a arte contemporânea e cuja identidade permanece uma incógnita”.
Esta exposição já passou por Moscovo, São Petersburgo e Madrid, onde “foi visitada por mais de 600 mil pessoas”.
Tivemos oportunidade de apreciar esta mesma exposição em Madrid, no final de abril passado e é uma fantástica imersão nas imagens e pensamentos da Banksy. Muitas obras são originais, enquanto outras foram produzidas a partir dos originais. A título de exemplo, destacamos apenas as obras “Big Gold Frame” (“Grande moldura de ouro”), que representa uma crítica à própria arte contemporânea, e “Brexit”, que representa a sua posição “anti-Brexit”.
Para todos os efeitos, Banksy é o pseudônimo de um artista de rua, que pinta desde os anos 90 sobretudo em graffiti e cujos trabalhos podem ser encontrados em espaços públicos de cidades de todo o mundo, sem autorização de nenhuma entidade governamental.
As suas obras são instalações ou pinturas feitas através de stencil, muitas vezes com frases escritas.
As mensagens visuais que produz abordam questões da atualidade, sobretudo de crítica política e social, com um forte viés revolucionário e anti guerra. Uma das frases de que é autor é a seguinte: “Os maiores crimes do mundo não são cometidos por pessoas que violam as regras, mas por pessoas que seguem as regras. São as pessoas que seguem ordens que soltam bombas e massacram aldeias.”
Talvez possa ser considerado vândalo por alguns, pois pinta paredes sem pedir autorização, mas fá-lo de forma genial e é genial a profundidade das suas obras e dos pensamentos que vai deixando escritos um pouco por todo o mundo!
Vale a pena aproveitar para apreciar esta exposição em Lisboa, até 27 de outubro…
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de julho)
(CM)