No passado, o acesso à produção artística em artes visuais obrigava a que as pessoas fossem a museus ou galerias de arte. No entanto, cada vez mais, nas últimas décadas a arte tem-se vindo a procurar aproximar das pessoas, nos mais diversos domínios e formas de expressão artística, nomeadamente nas performances e na arte urbana.
Nos últimos artigos abordámos várias formas de expressão artística que ocorrem no exterior, em particular as instalações, os grafitis, a arte urbana ou ‘street art’ e a arte sobre a paisagem ou ‘land art’, tendo sido feita referência particular aos trabalhos dos irmãos Patrick e Frank Riklin, de Christo, de Banksy, de Bordalo II e de Vhils, estes dois últimos portugueses que se têm destacado com várias produções artísticas no exterior.
No âmbito da expressão artística mostrada no exterior, contribuindo para a democratização da cultura, permitindo o acesso de todos às manifestações artísticas, destacamos neste artigo os trabalhos realizados por JR, jovem artista francês, nascido em 1983.
No caso de JR, a base do seu trabalho em arte urbana é a fotografia, colocando fotos de grandes dimensões nas ruas de cidades em todo o mundo.
Tendo começado na sua adolescência com a realização de grafitis nas ruas de Paris, desde logo encarou a mostra de produções artísticas no exterior como o melhor veículo para permitir dar visibilidade aos trabalhos produzidos. Ele mesmo tem referido que “a rua é a maior galeria do mundo”. Aliás, no seu site refere explicitamente que tem a maior galeria de arte do mundo: a rua. Além disso, considera a arte como um instrumento global de comunicação.
Entre 2007 e 2010 expôs trabalhos seus nalgumas das principais cidades do mundo, como Paris, Veneza, Amesterdão, Berlin, Londres, Genebra, Bruxelas, Rio de Janeiro, Shangai, São Diego e Los Angeles, tendo obtido em 2011 o Prémio TED, que procura distinguir “autores de ideias dignas de difundir”, tendo já sido atribuído a figuras como Bono, Bill Gates ou Al Gore.
Efectivamente, para além do grande impacto visual das obras produzidas por JR, os seus trabalhos procuram expressar ideias com grande valor simbólico e afectivo, tendo uma das suas últimas produções artísticas, em 2017, consistido na colocação da uma fotografia com cerca de 20 metros de altura de um bebé que olhava por cima do muro que divide os EUA e o México. Esta obra havia sido concebida a partir de um acordar criativo de JR cerca de um ano antes. A obra teve ainda mais impacto mediático porque a sua apresentação foi feita na mesma semana em que o Presidente Donald Trump terminou com o programa que permitia que pessoas trazidas para os EUA em crianças permanecessem no país.
A foto foi tirada a um bebé (Enrique Achondo) de um ano, com permissão da mãe deste, na zona de Tecate, na fronteira entre os EUA e o México, tendo sido aí que JR decidiu realizar esta exposição/instalação de arte urbana.
A emigração tem sido um dos temas trabalhados por JR, pois já dez anos antes, em 2007, havia colocado fotos de grande dimensão de palestinos e israelitas cara a cara em oito cidades do mundo, procurando chamar a atenção para o muro que os separa.
Dos outros trabalhos realizados por JR destacam-se as centenas de retratos gigantes colocados em Londres, em 2013, no âmbito do projecto ‘Inside Out’.
Por seu turno, entre maio e Junho de 2016, “fez desaparecer” a pirâmide de vidro do Louvre, em Paris, ao colocar uma foto que reproduzia a fachada do museu, camuflando a pirâmide quando observada de certos ângulos, criando um efeito de ilusão óptica de invisibilidade da pirâmide.
Também em 2016, por ocasião da realização dos Jogos Olímpicos realizados no Rio de Janeiro, criou várias obras expostas nesta cidade, alusivas a atletas olímpicos. Uma delas foi do atleta sudanês Mohamed Younes Idriss, de 27 anos, recordista africano de salto em altura, que ficou de fora nestes jogos por se ter aleijado antes da prova de qualificação. Assim, mesmo sem competir, ele podia ser visto saltando um prédio no Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio.
Os trabalhos de JR, para além do grande impacto visual, procuram ter impacto comunicacional, procurando chamar a atenção do ‘público’ para certas situações, enquadrando-se na perspectiva da arte visual como uma forma de comunicação que procura, nesta sociedade cada vez mais divergente, criar convergências através das imagens produzidas.
(Artigo publicado na edição papel do Caderno Cultura.Sul de Dezembro)