A caça de espécies apelidadas de cinegéticas está devidamente regulamentada em Portugal, aliás, como noutros países.
A Lei de Bases da Caça norteia esta atividade sob princípios fundamentais, entre os quais a conservação do meio ambiente, criação e melhoria das condições que possibilitam o fomento das espécies cinegéticas, procurando gestão sustentável dos recursos cinegéticos e é considerado que traz um grande contributo para a economia rural.
A caça ao javali é à espera, de salto, de aproximação, de batida, de montaria e com lança. Referimo-nos hoje ao javali, e não ao gambo, ao veado ou à raposa, porque deparamo-nos este fim-de-semana com a notícia de que houve uma montaria ao javali em Tavira, no passado dia 10 de fevereiro. Nada temos por dizer relativamente sobre a sua justificação legal, pois com toda a certeza deu-se e cumpriu todos os trâmites devidos.
No entanto, a caça é por muitas vezes justificada por ser uma ferramenta dita de eficaz para o controlo de espécies invasoras, algumas sem predador, como é o caso do javali.
Assim, assumimos nós, humanos, o papel de predador para dotar o ecossistema de maior equilíbrio e evitar prejuízos que essas espécies podem provocar.
Na verdade é irónico determos esta preocupação quando nós, animais humanos, alterámos os ecossistemas, eliminámos a vegetação natural substituindo por outras culturas, transformámos florestas, domesticámos espécies animais e vegetais e recorremos à pecuária intensiva.
A perda de biodiversidade, o processo de desertificação, a escassez e contaminação da água, não se deve aos javalis, mas sim a nós, espécie humana.
Os javalis são animais com muita versatilidade, adaptam-se facilmente e têm elevada fecundidade.
Sabemos que quando existem espécies que são prejudiciais e letais, procura-se eliminar toda a comunidade, caso de insetos ou pragas. Mas no caso dos javalis, é eliminado um a um, com recurso a montarias ou outro método de caça, o que de facto não revela muita eficácia para o tão defendido e hasteado controlo populacional e equilíbrio do ecossistema.
Ademais, a caça ao javali é frequentada por quem tem nela a perspetiva recreativa, qualquer caçador pode fazê-lo. Julgamos que se a finalidade fosse o controlo e equilíbrio do ecossistema, matar um a um, cada javali, recorrendo a matilhas de cães, muitos feridos mortalmente, não nos parecer ser o método eficaz.
Tanto que não é eficaz que já é reconhecido por peritos no seio da comunidade internacional, bem como em vários países, que este não é o método com verdadeiro impacto.
Por isso, deveríamos repensar a nossa linha de atuação, com vista a prevenir prejuízos na natureza e nas comunidades rurais, recorrendo a outras vias alternativas, tais como a esterilização desses animais, o uso de repelentes, entre outras não letais.
Sim, isso mesmo. A esterilização.
É que comprovado está que o tiro e o uso de matilha não são eficazes para reduzir o número de javalis, somente os afasta das zonas onde estão a causar prejuízos.
Claro que existem sempre vantagens e desvantagens quando escolhemos métodos letais ou métodos não letais, no entanto optar pela alternativa não letal é o mais humano e compassivo, coerente com a sociedade que sempre nos vangloriámos de querer construir.
Nos dias de hoje, a nova e evoluída ética exige a procura de soluções que não causem sofrimento a estes animais que são inteligentes, conscientes e que sentem emoções tal como nós. Os dias de hoje e os de amanhã exigem a procura de soluções que não instiguem violência, que não sejam violentas e que tragam o verdadeiro equilíbrio, onde todos ganham e nenhum perde.
Não fiquemos no dia de ontem e não demonizemos o javali.