O treinador português Mário Lemos assumiu esta semana de forma interina o comando da seleção de futebol do Bangladesh, pela qual já havia passado como adjunto, acumulando funções ao leme do Abahani, do campeonato local.
“Pouca gente aqui vê futebol de clubes, mas a seleção é uma dimensão muito maior. A equipa está à procura do sucesso e quer ganhar, mas, infelizmente, não tem conseguido. Veremos se conseguimos esse último passo para tentar ganhar alguma coisa. Por isso, a minha responsabilidade ainda é maior”, partilhou à agência Lusa o algarvio, de 35 anos.
Com carreira feita na Ásia, Mário Lemos orienta desde dezembro de 2018 o maior clube do oitavo país mais populoso do mundo, com quase 167 milhões de pessoas, e sucedeu agora ao espanhol Óscar Bruzón à frente da 187.º melhor seleção no ‘ranking’ da FIFA.
“As razões da minha escolha passaram por conhecer bem os jogadores locais, estar no país há bastante tempo e já ter trabalhado na seleção, embora por pouco tempo. É um bónus. Sinto-me muito honrado, apesar de ser muito exigente. A pré-época do Abahani começará daqui a duas ou três semanas, mas estou a 100% na seleção”, enquadrou.
O treinador natural de Albufeira equaciona convocar seis jogadores do Abahani para os ‘tigres de Bengala’, metade do habitual contributo do Bashundhara Kings, atual campeão do Bangladesh, tendo em vista a iminente participação no Torneio das Quatro Nações.
“Tentarei dar alguma continuidade àquilo que a seleção fez no SAFF Championship [quarto lugar], preparar bem os jogos, escolher os jogadores certos e motivá-los. Uma razão para a federação me ter escolhido deveu-se à minha personalidade e vou procurar passar essa energia e confiança para tentarmos, pelo menos, chegar à final”, afiançou.
De 08 a 14 de novembro, o Bangladesh vai encarar Seicheles, da Confederação Africana de Futebol, Maldivas e o anfitrião Sri Lanka na primeira edição do Torneio das Quatro Nações, com as duas melhores seleções a discutirem o troféu no dia 17, em Colombo.
“Não é um torneio muito exigente e há algumas possibilidades. Depois disso, vamos ver. Tenho contrato com o clube e penso que não estão muito interessados na minha saída. É uma questão de falarmos entre todos”, referiu Mário Lemos, que regressou a solo bengali depois de se ter emancipado como treinador principal nos malaios do Negeri Sembilan.
Antes dessa aventura, entre janeiro e abril de 2018, o algarvio foi convidado pelo inglês Andrew Ord, com quem tinha trabalhado nos tailandeses do Muangthong United, para coadjuvar a formação dos ‘tigres de Bengala’, que não jogava oficialmente há três anos.
“Penso que o futebol melhorou aqui. Na altura, apanhei um grupo novo, com atletas de 22/23 anos, que agora têm 25/26 e muito mais experiência e jogam há quatro ou cinco anos na seleção. Alguns evoluíram no estrangeiro ou com treinadores de outros países, ao ponto de eu estar a dar os treinos em inglês e já nem precisar de tradutor”, enalteceu.
Eliminado do Mundial2022, graças à quinta e última posição no Grupo E da segunda ronda de qualificação asiática, o Bangladesh aguarda pela definição da terceira fase de apuramento para a Taça Asiática de 2023, prova na qual participou apenas em 1980.
“Há um grande amor pelo futebol, embora hoje em dia sigam mais o críquete, e muitas crianças a jogar. O problema é que não há formação, pelo que os atletas chegam muito tarde ao futebol profissional e demoram mais a entender o jogo. As bases não estão lá, mas eles têm muito potencial e a federação está a tentar investir na formação”, explicou.
Mário Lemos exulta a vida em Daca, capital de uma nação situada entre Índia e Myanmar, no sul da Ásia, onde se adaptou à “comida bastante picante” e às constantes questões do povo sobre Cristiano Ronaldo, mas já vai alargando horizontes.
“Sinceramente, sinto que será a última época cá. Vou para o meu quarto ano no clube e cheguei à seleção. Ganhe ou não, acho que preciso de um desafio novo. Nada aqui me consegue prender e há outros campeonatos em que estaria interessado em treinar”, considerou o algarvio, que também trabalhou nos Estados Unidos e na Coreia do Sul.
Antes de levantar voo para um percurso excêntrico, o técnico despontou durante quatro épocas nas camadas jovens do Ferreiras e revela que teve chances para regressar à Europa, esperando a “curto ou médio prazo” estrear-se a nível sénior no futebol luso.
“Sinto que tenho de chegar a um patamar mais alto na Ásia, como as ligas coreanas, chineses ou australianas, que me possam abrir a porta para um nível mais alto no continente europeu”, concluiu Mário Lemos, que vai conduzir o Abahani na Taça do Bangladesh a partir de dezembro e no campeonato de janeiro até ao verão de 2022.