É um facto e uma constatação que a saúde mental na história e ao longo dos tempos foi sempre vista com desconfiança e como um tabu. As pessoas com transtornos mentais eram tratadas na maior parte dos casos de uma maneira horrível. Pessoas com psicoses, autismo, depressão e outras doenças mentais, chegavam a ser aprisionadas, torturadas e até mortas. Na idade Média, as pessoas que sofriam de doenças mentais, eram vistas como estando possuídas por demónios e/ou punição divina, podiam ser queimadas ou acorrentadas e tornadas prisioneiras em manicómios. Só mais tarde, com o Iluminismo (ou século das luzes, séc. XVIII, movimento intelectual e filosófico, com ideias centradas na razão e várias ideias como liberdade, progresso, tolerância…), começou a haver outra perceção sobre doenças mentais e outra forma de ajudar estas pessoas em Instituições psiquiátricas criadas para o efeito.
A realidade é que as pessoas com doença mental nunca foram vistas da mesma maneira que as pessoas com outro tipo de doenças.
Não obstante as transformações sociais, os inegáveis avanços científicos e culturais, infelizmente, ainda continuamos a constatar indesejáveis conotações negativas associadas às doenças mentais. Ideias que levam à própria negação da doença mental pelos familiares e pelo próprio doente. A vergonha do diagnóstico, a resistência e recusa do tratamento, etc. Todo este estigma e estereótipo injusto, pode levar a consequências muito negativas na vida das pessoas, quer na forma como estes doentes interagem com os serviços de saúde e colaboram no seu próprio processo, quer na interação com a sociedade de uma maneira geral, uma vez que a doença passa a ser o aspeto central da sua identidade. Toda esta carga negativa pode influenciar ainda mais a sua baixa auto estima e auto conceito, contribuindo para maiores índices de depressão e risco de suicídio.
É lamentável, mas ainda existe toda uma série de distorções e resistências que é preciso trabalhar, trabalhar nas diferentes vertentes de informação e desmistificação, através de programas de literacia em saúde psicológica. É preciso facilitar o acesso à informação e dar a atenção adequada ao problema.
Será importante o contributo de todos para a desmistificação dos tabus existentes. Aceitar a doença mental tem que ser tão natural como aceitar ter diabetes ou outra qualquer doença orgânica. É fundamental libertar definitivamente os preconceitos e estigmas associados à doença mental.
A pandemia e os tempos atípicos que temos experienciado ultimamente vieram no mínimo alertar e sensibilizar as pessoas para a importância da parte psicológica no todo da sua dimensão humana, nomeadamente no que respeita aos sentimentos, emoções, bem estar e conforto, versus sofrimento e mal estar e consequentemente da necessidade imperiosa de cuidar da saúde mental, até como forma preventiva, evitando quadros psicopatológicos mais pesados.
Interessa aqui fazer a destrinça entre quadros psicopatológicos ou doença mental, mais ou menos grave e desajustes emocionais, também geradores de sofrimento psicológico e igualmente a necessitar de ajuda psicológica.
É fundamental que as pessoas possam recorrer à ajuda psicológica de uma forma natural, sem receios de julgamentos negativos, sem estigmas e que exista essa disponibilidade por parte dos serviços de saúde prestadores de cuidados, nomeadamente o SNS. Infelizmente a realidade é bem diferente e muito preocupante. A dificuldade de acesso e a falta de psicólogos, a resistência da tutela na contratação de mais profissionais psicólogos, não permite que as pessoas tenham a ajuda de que necessitam, pelo menos em tempo útil. Talvez seja, no momento presente, das variáveis mais importantes e impeditivas das pessoas com menos recursos económicos recorrerem e conseguirem o apoio que precisam.
É inquestionável o papel da psicologia na saúde mental das pessoas. A psicologia, nas suas componentes técnica e cientifica, através dos psicólogos, pode realmente fazer a diferença na qualidade de vida das pessoas.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses disponibiliza online, através da sua página, muita e variada informação sobre saúde psicológica, formas de prevenção da doença e promoção da saúde física, emocional e afetiva das pessoas. Pois, como a própria OMS explicita na sua definição de saúde, “saúde não é só ausência de doença física ou orgânica, mas um completo bem estar físico, mental e social”.