Neste artigo falaremos de estratégias de prevenção primária e secundária para o cancro da mama, sendo o exercício físico o nosso principal foco.
O exercício físico no cancro da mama é um tema cada vez mais discutido por todos os efeitos secundários dos tratamentos e da cirurgia, dado que, a evidência científica nesta área é cada vez mais consistente, defendendo que o exercício físico tem inúmeros benefícios e é seguro nesta população.
No entanto, os estudos comprovam que um estilo de vida sedentário é muito prevalente em pessoas que têm ou tiveram cancro, com reduções muito marcadas nos níveis de atividade física (Irwin, Crumley, McTiernan, et al, 2003; Irwin, 2009).
Esta redução é influenciada por diferentes fatores, tais como, os efeitos secundários dos tratamentos e da cirurgia, o impacto emocional do diagnóstico e o facto do exercício não ser visto como uma prioridade (Irwin, 2003).
Efeitos secundários dos tratamentos na pessoa com cancro
Os efeitos secundários dos tratamentos exercem, sem dúvida, uma forte influência na pessoa com cancro, na maioria dos casos recupera-se dos efeitos agudos dos tratamentos em semanas ou meses, no entanto, há efeitos que se mantém ou aparecem meses ou anos depois do término do tratamento, tais como, a fadiga (cansaço), a dificuldade em voltar ao peso normal e a diminuição da tolerância ao esforço (Rock, Doyle, Wendy, Demark-Wahnefried et al., 2012).
Relativamente ao aumento de peso, é um efeito comum durante o primeiro ano após o diagnóstico de cancro, especialmente durante os tratamentos. Os ganhos médios variam entre os 2,5 e os 6,2 quilos (Rock C, Flatt S, Newman V, et al., 1999; citado por Irwin, Crumley, McTiernan, et al, 2003) e é improvável que seja totalmente perdido após o fim do tratamento (Saquib, Flatt , Natarajan L, et al, 2007).
Este aumento de peso é preocupante porque pesquisas recentes indicam a gordura como fator importante nas alterações na insulina e no metabolismo das hormonas endógenas, incluindo hormonas sexuais como os estrogénios, androgénios e a progesterona (Renehan, Zwahlen, Egger, 2015; Kahn & Flier, 2000).
Outros estudos indicam que o aumento de peso após o diagnóstico, aumenta o risco de doenças cardíacas e reduz a sobrevivência ao cancro (Nichols, Trentham-Dietz, Egan et al, 2009).
Quimioterapia: tratamento com maior impacto
A quimioterapia parece ser o tratamento com maior impacto a vários níveis, com efeitos tóxicos a nível cardiovascular, ocorrendo frequentemente insuficiência cardíaca por recurso a fármacos de quimioterapia (Sturgeon, K., Boonie., Libonati, J., Schmitz, K.,2014).
A fadiga relacionada com o cancro, definida como uma “sensação angustiante, persistente e subjetiva de um cansaço ou exaustão extremos relacionada com os tratamentos e que não é proporcional a qualquer atividade recente” (NCCN, 2009; Curt, Breibart; Fletchner & Bottomley, 2002), é outro dos efeitos secundários dos tratamentos que mais afetam a população com cancro, 70-100% sentem fadiga (Mock, Pickett, Ropka et al. 2001; Cramp & Byron-Daniel, 2012) e tem um forte impacto na qualidade de vida, interferindo com a sua funcionalidade.
Tudo isto leva a um aumento de fatores que multiplicam o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral, ou seja, levam ao aumento da síndrome metabólica (Hewitt, Rowland, Yancik, 2005).
É preocupante que assim seja, dado que, as doenças cardiovasculares têm um forte impacto no nosso país, com elevadas percentagens de mortalidade e é importante relembrar que, passados nove anos dos tratamentos para o cancro da mama, é mais provável que a pessoa sofra com problemas associados às doenças cardiovasculares do que com a recorrência (Sturgeon, K., Boonie., Libonati, J., Schmitz, K.,2014).
Exercício físico única opção não farmacológica para lidar com efeitos adversos
O exercício físico apresenta-se como a única opção não farmacológica para lidar com estes efeitos adversos dos tratamentos e daí a sua tamanha importância.
Os estudos recentes sugerem que o exercício físico reduz a prevalência dos componentes da síndrome metabólica em sobreviventes ao cancro da mama (Bao, Zeng, Nechuta, 2013), operando como alternativa não-farmacológica na prevenção da cardiotoxicicidade provocada pelos tratamentos de quimioterapia, com inúmeros efeitos benéficos na função cardíaca e vascular. (Sturgeon, K., Boonie., Libonati, J., Schmitz, K.,2014).
Uma meta-análise demonstrou que o exercício pós-diagnóstico de cancro da mama está associado a um aumento de 34% da sobrevivência ao cancro da mama, a uma diminuição em 41% do risco de morte por outras causas e a 24% de diminuição do risco de recorrência (Ibrahim & Al-Homaidh, 2011), embora estas percentagens possam não ser extrapoláveis, dão-nos uma ideia do impacto do exercício físico nestes fatores.
A redução no risco de recorrência pode justificar-se pela redução da gordura corporal que é potenciada pelo exercício, que reduz as alterações nas hormonas sexuais que promovem o crescimento das células tumorais (McTiernan, Tworoger, Ulrich, et al., 2004; ACS, 2006; Key, Appleby, Barnes, Reeves, 2002).
Uma preocupação frequente das mulheres com cancro da mama é o aparecimento de linfedema (inchaço do membro superior do lado operado por remoção ganglionar axilar) ou o agravamento do mesmo, no entanto, os estudos recentes têm demonstrado que o exercício físico, não só é seguro como reduz a incidência e a severidade do linfedema (Brockow & Resch, 2009; Schmitz, Ahmed, Troxel, et al., 2010).
Existe evidência forte e recente de que os exercícios de resistência produzem ganhos significativos na força muscular sem desencadearem linfedema associado ao cancro da mama (Nelson, NL. 2016).
É importante relembrar que o exercício físico tem inúmeros benefícios mas a sua prescrição deve ser elaborada e, se possível, supervisionada por um profissional de saúde ou de exercício físico com conhecimento e competências suficientes nesta área em específico.
A monitorização é extremamente importante e o acompanhamento personalizado e adaptado a cada condição também.
Mexa-se pela sua saúde porque ela também está nas suas mãos!