Quais são as origens do ser humano e de que forma está relacionado com os hominídeos extintos? O que nos faz diferentes deles? Foi pela resposta a estas perguntas que a academia sueca atribuiu o Nobel da Medicina ao cientista Svante Pääbo na manhã desta segunda-feira, em Estocolmo, Suécia.
O sueco, diretor do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, localizado em Leipzig, na Alemanha, tem-se dedicado a entender os genomas dos hominídeos extintos, que habitaram a terra antes do ser humano contemporâneo, o homo sapiens sapiens, bem como a compreender em que moldes sucedeu uma evolução até aos dias de hoje.
Por ter descoberto sequências de genomas dos nossos mais recentes extintos “parentes”, Pääbo conseguiu um novo e mais recente ponto de referência para sabermos de onde viemos e quem somos e inaugurou uma nova disciplina da genética, a paleogenómica.
Para o professor Nils-Göran Larsson, um dos seis memebros do comité do Nobel da Medicina, “a maior contribuição do cientista, decisiva para este prémio, foi o desenvolvimento de métodos que o levaram a recuperar e a entender DNA ancestral”.
Como explica o especialista em genética mitocondrial, o DNA de ossos muito antigos fica deteriorado, com alterações químicas, com DNA de bactérias e de seres humanos contemporâneos. Pääbo usou tecnologia contemporânea e implementou um método único”.
A investigação de Svante Pääbo, Nobel da Medicina, deu origem a uma disciplina científica inteiramente nova: a paleogenómica
“Há imensas implicações [das descobertas], tanto no entendimento da nossa evolução, como na compreensão da nossa fisiologia mais básica e da potencialidade médica disso”, argumenta a professora de imunologia Gunilla Karlsson-Hedestam, também membro do comité. “Outro aspeto importante é a compreensão dos genes que temos como herança dos hominídeos extintos, que têm relação com muitas funções do corpo humano, como a resposta humanitária ou a forma como sobrevivemos em altas altitudes”.
Temporada Nobel 2022
Este é o primeiro dos Nobel a ser anunciado este ano. Amanhã, terça-feira, é entregue o da Física e, na quarta-feira, o da Química.
Na quinta-feira, dia 6 de outubro, será atribuído o Nobel da Literatura e na sexta-feira será conhecido o nome do novo Nobel da Paz.
O último anúncio será feito no dia 10 de outubro com o vencedor do Nobel da Economia.
O prémio consiste numa medalha, um diploma e dez milhões de coroas suecas (mais de 953.000 euros).
Curiosidades sobre os Prémios Nobel
Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte de sua fortuna a pessoas que trabalhem para “o benefício da humanidade”.
Um erro na origem dos prémios?
Em 12 de abril de 1888, o irmão mais velho de Alfred Nobel, Ludvig, morreu em Cannes, França. Mas o Le Figaro engana-se e anuncia na primeira página a morte de Alfred: “Um homem que dificilmente pode ser considerado um benfeitor da humanidade morreu ontem em Cannes. O senhor Nobel, inventor da dinamite”.
Este obituário prematuro terá atormentado Alfred Nobel e terá sido a razão para a criação dos prémios. Talvez por isso Nobel tenha escrito que os prémios distinguiriam aqueles que trabalharam “em benefício da humanidade”.
Prémio apenas para pessoas vivas
Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prémio não pode ser concedido postumamente, a menos que a morte ocorra após o anúncio do nome do vencedor.
Até então, apenas duas personalidades falecidas foram recompensadas: o poeta sueco Erik Axel Karlfeldt (literatura em 1931) e o secretário-geral da ONU Dag Hammarskjöld, que foi assassinado (Nobel da Paz em 1961).
Uma vez o Nobel não foi concedido em homenagem a um vencedor falecido. Foi em 1948, após a morte de Gandhi.
Uma fortuna em troca de uma medalha Nobel
Os Prémios Nobel consistem numa soma de dez milhões de coroas por categoria (cerca de 900.000 euros) e uma medalha de ouro de 18 quilates.
Mas o vencedor do Nobel da Paz de 2021, o jornalista russo Dmitry Muratov, conseguiu transformar ouro em fortuna, em benefício das crianças ucranianas. Em junho, a medalha de 196 gramas recebida pelo co-vencedor de 2021 foi vendida por 103,5 milhões de dólares a um filantropo anónimo, valor que foi doado à UNICEF.
Um Nobel pioneiro em 1903 sobre o aquecimento global
O físico e químico sueco Svante Arrhenius recebeu o Nobel da Química em 1903 pela sua “teoria eletrolítica da dissociação”.
Mas foi outro trabalho que lhe valeu o estatuto de pioneiro: no final do século XIX, foi o primeiro a teorizar que a combustão de combustíveis fósseis – na época, especialmente o carvão – lançava CO2 para a atmosfera causando o aquecimento do planeta. Segundo os seus cálculos, a duplicação da concentração de dióxido de carbono aqueceria o planeta em 5°C – os modelos modernos preveem de 2,6 a 3,9°C. Longe de suspeitar as quantidades cada vez maiores de combustíveis fósseis que a humanidade viria a consumir, Arrhenius subestimou a velocidade a que esse nível será alcançado e previu que esse aquecimento ocorreria em 3.000 anos.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL, com SIC Notícias