Portugal prepara-se para dar um passo significativo no campo da inteligência artificial com o lançamento do seu primeiro grande modelo de linguagem (LLM), batizado de Amália. Inspirado na figura icónica da cultura portuguesa, o projeto visa posicionar a língua e a cultura nacionais no centro das aplicações de IA, com a versão final prevista para 2026.
Uma iniciativa com raízes profundas
Anunciado pelo primeiro-ministro durante a Web Summit, o Amália é o resultado de uma colaboração entre o Centro para a AI Responsável, liderado por Paulo Dimas, e centros de investigação como a Nova FCT e o Instituto Superior Técnico. Este projeto ambicioso combina décadas de trabalho em linguística computacional e aproveita infraestruturas de computação avançadas, incluindo uma supercomputador localizado em Barcelona, parcialmente pertencente ao Estado português.
Segundo Paulo Dimas, citado pelo Executive Digest, CEO do Centro para a AI Responsável, a primeira versão beta será lançada no início de 2025. “Vamos estar a trabalhar em cima de trabalho já desenvolvido por estes centros de investigação”, explica, destacando que a colaboração com a Fundação para a Ciência e Tecnologia foi crucial para assegurar os recursos necessários.
Português de Portugal e representatividade cultural
A grande promessa do Amália está na sua capacidade de trabalhar exclusivamente em português europeu, algo que os modelos globais, como os da OpenAI ou da Google, não conseguem fazer com a mesma precisão. Este foco na variante linguística é acompanhado por uma forte preocupação com a proteção de dados e a representatividade cultural.
“Vamos poder controlar aquilo que é dito nestas conversas”, salienta Dimas, referindo-se a aplicações como o apoio a doentes com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que poderão comunicar em português europeu com vozes clonadas de forma personalizada.
Aplicações transversais
O Amália terá impacto em diversas áreas, desde a educação até à modernização administrativa. Na educação, por exemplo, poderá atuar como tutor virtual, ajustando-se ao currículo nacional para auxiliar os estudantes. Já na administração pública, o modelo será fundamental para criar soluções mais eficientes e culturalmente adequadas.
Outro campo de destaque será o das startups, onde o Amália será um recurso essencial para desenvolvimento de novas aplicações tecnológicas. Embora a versão inicial do modelo seja apenas textual, no futuro prevê-se a introdução de funcionalidades multimodais, como o processamento de imagem e som.
Autonomia tecnológica e inovação
Uma das grandes vantagens do Amália é a autonomia tecnológica que oferece ao país. Em vez de depender de soluções estrangeiras, Portugal poderá adaptar e melhorar o modelo de forma contínua, respondendo às necessidades locais e reforçando a sua soberania digital.
“É um recurso tecnológico nacional que é transversal a todas as áreas da nossa sociedade”, sublinha Paulo Dimas. Mais do que um modelo de linguagem, o Amália é visto como uma peça-chave no ecossistema nacional de inteligência artificial, com potencial para impulsionar a inovação e preservar a cultura portuguesa num mundo cada vez mais globalizado.
Com o lançamento da versão beta já em 2025 e a versão final prevista para 2026, o Amália promete marcar uma nova era para a tecnologia e a língua portuguesa.
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