Desde março de 2020, ficaram por realizar cerca de 500 mil rastreios oncológicos, um número que ganha outra dimensão quando junto às consultas e cirurgias adiadas. “As pessoas não foram diagnosticadas durante um ano”, lamenta Tamara Milagre, que avisa que “isso terá e já tem graves consequências”. Tendo em conta que a doença é responsável por quase um quarto das mortes anuais em Portugal, e que são diagnosticados perto de 60 mil novos casos por ano, a pausa forçada na atividade assistencial pode significar que muitos cancros não são detetados numa fase precoce. “Vamos levar com um tsunami de diagnósticos tardios que vão custar bem mais caro em todos os sentidos”, afirma a presidente da associação Evita Cancro.
Para Ana Raimundo, líder da Sociedade Portuguesa de Oncologia, reduzir as fatalidades ligadas à patologia passar por “estabelecer prioridades e estratégias de ação que devem abranger diversas áreas”, como a prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e investigação. A aposta no aumento da literacia em saúde, diz, será particularmente importante para a adoção de estilos de vida saudável. “Precisamos de melhor promoção e monitorização dos rastreios nacionais, com particular enfoque no cancro da mama, colorretal e cancro do colo do útero”, exemplifica. Porém, para que todas estas medidas de prevenção sejam eficazes será importante aumentar o orçamento dedicado a esta componente. “A prevenção tem 1% do orçamento de saúde atribuído, um terço da média europeia”, denuncia Tamara Milagre.
A especialista no acompanhamento de doentes oncológicos pede ainda mais financiamento para áreas como a do Registo Oncológico Nacional (RON), porque, diz, “se queremos garantir um registo de qualidade, não podemos pôr os oncologistas a introduzir os dados”. Esta base de dados assume especial relevância para a monitorização e investigação associadas, nomeadamente no cancro hereditário, aquele com elevado potencial de prevenção. “O cancro hereditário represente cerca de 10% de todos os cancros e, ao mesmo tempo, é o mais caro pela idade precoce em que surge”, explica Tamara Milagre, alertando que muitas pessoas desvalorizam os primeiros sintomas. “Sem dados, não aprendemos e não desenvolvemos”, diz, acrescentando que “em 2021 morrem ainda muitos doentes com um cancro perfeitamente evitável”.
“Precisamos de organizar os dados a nível da Europa para ganhar um grande conhecimento que permita um melhor e maior desenvolvimento”, defende Tamara Milagre, presidente da Evita Cancro
José Dinis, diretor do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas e médico no IPO do Porto, destaca a importância do investimento em investigação como arma para melhorar a assistência prestada. “O IPO Porto criou recentemente a sua Unidade de Ensaios Clínicos de Fase Precoce muito focada nos ensaios [clínicos] de fase 1, que tem por missão permitir um maior acesso dos doentes oncológicos a tecnologias e medicamentos inovadores através da investigação clínica”, sublinha. Desenvolver esta atividade em Portugal, ligada à medicina de precisão, é fundamental e está, inclusive, contemplada no recente Programa Europeu de Luta Contra o Cancro. Adicionalmente, subir a competitividade do país nesta área permite, acredita o especialista, “aumentar os ganhos em saúde para os doentes, promover a sustentabilidade e melhoria da qualidade dos sistemas de saúde”, mas também efeitos positivos na economia.
A questão dos dados é, aliás, uma das prioridades europeias ao nível da saúde, com a partilha de informação entre Estados-membros a merecer reflexão da União Europeia. É, também, uma preocupação da Presidência Portuguesa do Conselho da UE, cuja atividade o projeto ‘Mais Saúde, Mais Europa’ continua a acompanhar em permanência até julho. Além de dois artigos semanais publicados na edição online do semanário, o Expresso, com o apoio da Apifarma, promove o debate com o evento Cancro: Cada Dia Conta, na próxima quarta-feira, 26.
Neste evento – em que participam Ana Raimundo, Tamara Milagre e José Dinis – serão debatidas formas de olhar esta área de especialidade, mas também caminhos para diminuir a incidência da doença na Europa e melhorar o acesso a medicamentos e tratamentos inovadores.
29,5 milhões é o número de novos casos de cancro por ano esperados em 2040, de acordo com a International Agency for Research on Cancer. A mesma instituição estima que, pela mesma altura, sejam registadas 16,4 milhões de mortes anuais
Conheça os destaques da agenda:
Quarta-feira, 26
- «Cancro Cada Dia Conta: da Prioridade à Ação», organizado pela Apifarma com apoio do Expresso, terá transmissão integral, em direto, no Facebook do Expresso. Ao longo de toda a manhã, especialistas europeus juntam-se para discutir estratégias comunitárias no combate às doenças oncológicas e analisar o papel da investigação na melhoria dos tratamentos e da qualidade de vida dos doentes.
- “O plano europeu é muito importante para unirmos forças para garantir a equidade no acesso às melhores práticas na prevenção, no tratamento e no seguimento dos doentes oncológicos”, diz Tamara Milagre. O Plano Europeu de Combate ao Cancro será um dos temas em destaque na agenda da iniciativa, assim como a sua eventual transposição para a realidade nacional.
- Pode consultar o programa completo e concretizar a inscrição no evento através da página oficial da conferência.
CANCRO CADA DIA CONTA: DA PRIORIDADE À AÇÃO
O que é?
A Apifarma, com o apoio do Expresso, organiza o evento Cancro Cada Dia Conta: da Prioridade à Ação para promover o debate em torno dos principais desafios na oncologia, juntando especialistas e políticos nacionais e internacionais. A importância do Plano Europeu de Combate ao Cancro, o impacto da inovação na vida dos doentes e estratégias a adotar em Portugal para reduzir a incidência e mortalidade associadas à doença.
Quando, onde e a que horas?
Quarta-feira, 26 de abril, entre as 08h30 e as 13h, com transmissão em direto na página de Facebook do Expresso
Quem são os oradores?
- João Almeida Lopes, presidente da Apifarma
- Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República
- John F. Ryan, diretor de Saúde Pública da Direção Geral da Saúde e da Segurança Alimentar da Comissão Europeia
- Matti Aapro, presidente da Organização Europeia do Cancro
- Ken Mastris, presidente da Aliança Europeia de Doentes com Cancro
- Thomas Hofmarcher, investigador Instituto Sueco de Economia da Saúde
- Fátima Cardoso, diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud
- Rui Medeiros, presidente da Associação Europeia de Ligas Contra o Cancro
- Carla Bedard Pfeiffer, vice-presidente do Grupo de Trabalho de Medicina de Precisão na EFPIA
- Lídia Pereira, eurodeputada
- Ana Raimundo, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia
- Luís Costa, presidente do Colégio de Oncologia Médica da Ordem dos Médicos
- José Dinis, coordenador do Programa Nacional para as Doenças Oncológicas
- Cláudia Furtado, diretora da Direção de Avaliação de Tecnologias da Saúde no Infarmed
- Branko Zakotnik, coordenador do Programa Nacional de Controlo do Cancro da Eslovénia
- António Faria Vaz, vice-presidente do Conselho Diretivo do Infarmed
- António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde
Como posso ver?
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Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso