Os números divulgados esta segunda-feira pela Agência Lusa, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), trazem boas notícias para o setor do turismo em Portugal: agosto de 2024 foi um mês de recordes, com os proveitos do alojamento turístico a atingirem máximos históricos. Este crescimento, que atravessa todo o país e se destaca em regiões como o Algarve e os Açores, confirma a força do turismo como motor essencial da economia nacional.
Com um aumento de 7,8% nos proveitos totais, para um valor impressionante de 948,1 milhões de euros, e um crescimento de 7,7% nos proveitos de aposento, o setor demonstrou uma resiliência notável, mesmo em tempos de incerteza económica global. Mais de 3,8 milhões de hóspedes e 10,5 milhões de dormidas registadas em agosto comprovam que o país continua a atrair, com sucesso, visitantes tanto nacionais quanto internacionais. O aumento das dormidas de não residentes (+5,2%) é particularmente significativo, revelando que o turismo internacional ainda é o principal impulsionador do crescimento.
Como podemos gerir este crescimento de forma sustentável e garantir que as comunidades locais e o meio ambiente não sejam sacrificados no altar do desenvolvimento económico?
É especialmente relevante notar o papel preponderante do Algarve, que continua a ser a principal âncora do turismo nacional, concentrando mais de um terço dos proveitos totais. Lisboa e o Porto também desempenham papéis cruciais, com a capital a registar um aumento de 5,2% nas dormidas. O turismo rural e no espaço de habitação destacou-se, com crescimentos de 14,1% e 13,8%, respetivamente, confirmando a diversificação da oferta turística, um ponto positivo para o desenvolvimento sustentável e descentralizado do turismo no país.
Contudo, nem tudo são rosas. Albufeira, que representa 11,4% das dormidas, viu uma quebra nas dormidas de não residentes (-4,5%), um sinal de que, mesmo em regiões turísticas maduras, há desafios a enfrentar. Além disso, a Grande Lisboa registou um decréscimo nos rendimentos médios por quarto ocupado, um indicador que merece atenção.
Este cenário positivo levanta, no entanto, questões estratégicas. Será que o país está preparado para sustentar este crescimento a longo prazo? O turismo é um setor particularmente vulnerável a fatores externos, como crises económicas, políticas ou sanitárias. A pandemia de COVID-19 mostrou o quão rapidamente o turismo pode sofrer choques devastadores. A aposta numa economia dependente do turismo é uma faca de dois gumes: por um lado, gera receitas e emprego, mas, por outro, é necessário investir na diversificação da economia e na criação de um turismo sustentável, que não dependa exclusivamente dos fluxos sazonais ou internacionais.
O turismo massificado pode, também, trazer consequências indesejadas, como a pressão sobre infraestruturas locais, a gentrificação e o aumento do custo de vida. A crescente popularidade do alojamento local tem levantado preocupações sobre o impacto nas comunidades locais, nomeadamente no mercado de habitação, onde a oferta de arrendamento para residentes é cada vez mais limitada.
A par dos desafios ambientais, o turismo coloca uma pressão significativa sobre os recursos naturais e o meio ambiente. O Algarve, por exemplo, enfrenta sérios desafios de gestão de recursos hídricos, um problema exacerbado pelo aumento do número de turistas e pela necessidade crescente de acomodar mais hóspedes.
Em última análise, Portugal precisa de um plano estratégico robusto que equilibre a expansão do setor turístico com a preservação dos recursos naturais e a qualidade de vida das populações locais. A aposta no turismo de qualidade, e não apenas de quantidade, é uma das chaves para garantir que o país continue a colher os frutos deste setor a longo prazo.
Os números recorde de agosto são, sem dúvida, uma razão para celebração. No entanto, devem ser encarados como um incentivo para refletirmos sobre o futuro do turismo em Portugal: como podemos gerir este crescimento de forma sustentável e garantir que as comunidades locais e o meio ambiente não sejam sacrificados no altar do desenvolvimento económico? A resposta a estas perguntas será crucial para o futuro de um dos setores mais importantes da nossa economia.
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