Pela mesma altura em que se tomava conhecimento de que Costa, primeiro-ministro, era investigado judicialmente no âmbito da operação «Influencer», igual conhecimento se tomava duma investigação judicial sobre Montenegro, presidente do PSD, a propósito da reconstrução ou construção de uma casa sua.
Todavia, enquanto este achou que tal investigação não afetaria o seu estatuto no PSD, mantendo-o e candidatando-se, até, ao lugar de primeiro-ministro, conseguindo vir a sê-lo (afinal, não havia um principio constitucional a dizer que todo o cidadão se deverá presumir inocente até haver trânsito em julgado de sentença condenatória sobre si recaída?)*, já o primeiro decidiu pedir a demissão do cargo que ocupava, com o sentido de oportunidade que sempre lhe foi conhecido e que o levou, por exemplo, a «montar» um PCP e um BE na sua conquista de poder, para, logo na primeira oportunidade, os despachar.
Marcelo prepara-se para agraciar Costa pelos altos serviços prestados ao país, enquanto às portas dos supermercados se continuam a pedir alimentos para não deixar morrer à fome os pobres
Dizemos com sentido de oportunidade, porque convictos de que o seu pedido não terá sido ditado pelo facto de se ver vítima duma cabala (e Montenegro não?) que o levava a sentir que deixara de ter condições para continuar à frente da governação do país, como, convenientemente, foi posto a correr e muito boa gente comprou, mas, apenas, para, assim, conseguir jogar, simultaneamente, em dois tabuleiros:
a) Num, apostando que Marcelo não convocaria eleições antecipadas, dado ter havido, ainda pouco tempo antes, umas que tinham dado maioria parlamentar ao PS e, assim sendo, aceitaria que para o seu lugar fosse nomeado um «delfim» por si proposto, Centeno, continuando a governação do país, pois, entregue à família socialista.
Só que Marcelo conseguiu perceber-lhe a jogada e trocou-lhe as voltas, passando ele a aproveitar a ocasião para abrir o caminho do poder ao partido seu, o PSD.
b) Noutro, apostando na presidência dum Conselho Europeu que lhe enchesse o ego, dado o país já se apresentar muito pequenino para ele, presidência que acabou por conseguir, ainda que à custa do retorno da direita ao poder na lusa terra, que, agora, o seu partido diz querer combater tenazmente, tão maléfica que ela será!
Entretanto, Marcelo prepara-se para agraciar Costa pelos altos serviços prestados ao país, enquanto às portas dos supermercados se continuam a pedir alimentos para não deixar morrer à fome os pobres carentes deles e mais de setecentos idosos, não tendo quem os vá buscar, aguardam, abandonados, em hospitais por vaga num lar**.
* Dando razão ao princípio constitucional em causa, o MP acaba de arquivar o processo respeitante a Montenegro, por nada se ter apurado contra ele. O de Costa continua em aberto, aguardando-se se sempre se apurará algo contra ele ou não, com a devida presunção de inocência que, entretanto, lhe se será devida, tal como o foi em relação a Montenegro.
** Pobreza nos idosos com valor mais alto dos últimos 15 anos. Segundo o INE, um quinto dos portugueses acima dos 65 anos é pobre.
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