Muitos me perguntam o porquê de eu, um jovem nos seus 20 anos, ter tanto interesse na área da política. Uma área que é vista como secante, confusa e para “mais velhos”.
Confesso que a minha resposta muitas vezes se torna extensa por serem vários os motivos que me mobilizam. De forma a não me estender aqui também permitam-me uma breve citação de Jean Jaques Rosseau no seu livro O Estado Social: “Nascido cidadão de um Estado livre e membro do soberano, por pouca influência que a minha voz possa ter nos assuntos públicos, basta-me possuir o direito de votar para me impor o dever de me instruir sobre eles”.
Sendo ensinados desde pequenos sobre a importância do voto e da democracia é interessante ver o nível de desinteresse sobre os assuntos públicos da minha geração
Esta célebre frase do Livro I de Rosseau é algo que levo na ponta da língua quando sou confrontado com o desinteresse comum da minha geração sobre a política em geral e a pouca consideração sobre os assuntos públicos.
Sendo ensinados desde pequenos sobre a importância do voto e da democracia é interessante ver o nível de desinteresse sobre os assuntos públicos da minha geração. Reflito várias vezes, sobre qual o motivo do nível de interesse sobre a política entre os jovens ser tão baixa. Neste exercício de reflexão, que partilho com outros amigos e conhecidos, chegamos sempre à mesma conclusão: não veem um lugar para nós. Ora, não tenho qualquer contra-argumentação contra esta visão, pois se tivesse estar-me-ia a contradizer.
A realidade é que os jovens não se mobilizam sobre os assuntos políticos por não verem ninguém que os represente ou até mesmo um lugar em que eles se possam expor e realmente ser ouvidos. A jeito de exemplo, existem diversos eventos em que se procura “ouvir os jovens”. Posso dizer com franqueza que estes eventos são bastante redundantes, uma vez que as conclusões retiradas são sempre as mesmas “têm boas propostas”; “vamos ver o que podemos fazer” e ficamos por aqui. Assim, torna-se difícil angariar o interesse jovem sobre os assuntos políticos e ainda mais quando estes não se veem representados no espaço público, onde muitas vezes são vistos como inferiores – eu próprio já passei por isso – onde a importância que atribuem à idade é superior à que dão ao conhecimento ou visão sobre os temas. É uma balança desequilibrada.
Apesar destas barreiras levantadas por aqueles que estão confortáveis na sua posição superior, não é o motivo para desistirmos. Nós, aqueles que nada sabem sobre nada e são muito novos para pensar que sabemos alguma coisa.
Somos descendentes de Rosseau, mas também de Kant e é imperativo que nos mobilizemos e sejamos ativos no mundo político. Caso contrário, iremos permitir que outros decidam por nós e nos governem, por consequência da nossa apatia em relação à política.
Na era da revolução digital e do fácil acesso à informação é ilegítima a reivindicação que se contesta sobre a falta de exposição de ideias sobre os demais temas. Vivemos numa altura em que a nossa geração está apenas dependente de ela própria para conseguirmos reclamar os nossos interesses, outrora postos de lado por outros. A crise climática, ou a ascensão dos populistas demagogos que procuram terminar com o sistema liberal ou até mesmo com a república democrática são ameaças presentes no nosso dia-a-dia e cabe a nós não permitir a sua propagação e crescimento.
Pegando novamente em Rosseau, o voto é um direito que tomamos por garantido, atribuindo-lhe pouco valor, mas não duvidem, apesar de não nos atribuírem tanto valor como queríamos, é no voto em que a nossa voz é incontestável, é aqui, no ato eleitoral, em que tudo aquilo que fomos negados e contrariados deixa de ser um argumento. É aqui que a nossa idade vale tanto quanto a do próximo – é aqui que são obrigados a nos ouvir – esta é a beleza da democracia.
Deixo um apelo final através do famoso Sapere Aude (ousa em saber) promovido por Kant. A literacia digital não precisa apenas de ser utilizada para fazer vídeos para o tik tok, esta é a maior arma que temos, neste século 21.
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