A 1 de novembro de 1755, o terramoto conhecido como o Grande Terramoto de Lisboa marcou para sempre a história de Portugal. Com uma magnitude estimada entre 8.5 e 9 na escala de Richter, este sismo devastador não só destruiu Lisboa, como também causou destruição profunda no Algarve, onde várias localidades foram arrasadas. Este desastre foi seguido por um tsunami e incêndios, que intensificaram ainda mais a tragédia, resultando na perda de dezenas de milhares de vidas e impactando a política, cultura e ciência da época. Hoje, os especialistas alertam para a possibilidade de um evento semelhante e para os riscos que ele representa, em especial para a geração mais jovem residente na metade sul do país, incluindo o Algarve.
Peritos em engenharia e geologia têm apelado ao Governo para a criação urgente de um plano de reforço sísmico em infraestruturas que acolhem os mais jovens, como infantários e escolas. Mário Lopes, professor do Instituto Superior Técnico e especialista em engenharia sísmica, sublinha a necessidade de um “programa nacional de reforço de infantários e de escolas”. Este apelo é particularmente relevante no Algarve, onde um levantamento técnico identificou que a maioria das escolas da região são altamente vulneráveis a um sismo de grande magnitude. Muitas dessas instituições localizam-se em áreas costeiras que poderiam ser inundadas por um tsunami gerado por um terramoto no mar.
O cenário de vulnerabilidade não se limita às escolas. Segundo estudos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), grande parte do parque habitacional da Grande Lisboa e outras zonas do sul do país não está preparado para resistir a sismos severos. Em Lisboa, o LNEC avaliou 28 escolas, recomendando o reforço sísmico em 18 delas, mas a implementação destas melhorias tem sido travada por impasses de financiamento entre a câmara municipal e o Governo.
Os hospitais públicos também enfrentam um panorama alarmante, com destaque para os dois hospitais centrais de Lisboa, Santa Maria e São José, que não resistiriam a um sismo de grande intensidade. No caso do novo Hospital de Todos os Santos, que começou recentemente a ser construído, os cientistas alertaram o Tribunal de Contas para a ausência de isolamento de base, uma tecnologia comum em países como Turquia, Estados Unidos e Japão, que permite que os edifícios hospitalares se mantenham operacionais em caso de sismo. Em resposta, o Tribunal de Contas exigiu a implementação desta medida de segurança, corrigindo o que muitos consideraram um erro grave de concepção.
Para além das infraestruturas públicas, o parque habitacional também não está preparado para um novo sismo de grande escala. Estima-se que cerca de seiscentas mil pessoas vivem em edifícios vulneráveis na Grande Lisboa. O economista António Nogueira Leite afirmou que, caso o terramoto de 1755 ocorresse hoje, os prejuízos económicos seriam equivalentes ao produto interno bruto de um ano inteiro.
Os especialistas criticam o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português, que prevê 700 milhões de euros para a melhoria energética de edifícios, mas não contempla qualquer verba para resistência sísmica. Carlos Sousa Oliveira, o primeiro português doutorado em engenharia sísmica, defende que “reabilitar energeticamente um edifício sem reforço sísmico é inútil, pois num grande sismo tudo se perde”.
Num recente pequeno sismo, que despertou a população portuguesa durante a noite, foram reavivados os receios de que o país não está adequadamente preparado para enfrentar um terramoto de grande escala. A CNN Portugal transmitiu uma reportagem especial sobre o tema, produzida por Carlos Enes, e destaca-se como um importante recurso de sensibilização para este risco iminente, onde especialistas alertam que a situação atual “exige medidas proativas para proteger o Algarve e outras regiões vulneráveis. As gerações mais jovens, que são o futuro do país, merecem crescer em segurança e num ambiente preparado para responder eficazmente aos riscos sísmicos”.
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