A segurança constitui o principal factor de decisão na escolha do destino de férias dos turistas à escala mundial. Portugal em geral e o Algarve em particular, têm capitalizado benefícios turísticos importantes, face aos sucessivos conflitos e instabilidades que vêm afectando muitos países concorrentes, designadamente no Norte de África, Magrebe e Mundo Árabe.
Neste sentido, a segurança assumiu-se como uma valência competitiva relevante da nossa oferta relativamente à concorrência mais directa, incluindo a vizinha Espanha, pelo que não deve nem pode ser posta em causa, sem prejuízo de comprometermos o futuro de uma actividade económica estratégica e prioritária para o país.
Não temos dúvidas que as realidades decorrentes de uma sociedade em constante mutação, onde o desemprego e a imigração, muitas vezes descontrolada e ilegal, se traduzem no aumento de uma criminalidade tendencialmente organizada e estruturada em “bandos” de adolescentes e outros e, por conseguinte, mais violenta e, sobretudo, causadora de um sentimento generalizado de insegurança, perante a crença de impunidade, resultante de leis há muito ultrapassadas.
A falta de efectivos policiais no Algarve, especialmente durante a época turística, é lesivo e até ofensivo do interesse da economia do turismo
As estatísticas oficiais são ilusórias e escondem a verdade, uma vez que o crime participado vem diminuindo de forma continuada, consequência natural, salvo honrosas excepções, da não punição dos criminosos.
Infelizmente, apesar da oferta turística ter continuado a crescer, assim como o número de turistas e visitantes, temos assistido a uma redução progressiva do reforço do contingente policial tradicional, especialmente no que se refere a meios humanos e materiais, contradizendo o discurso oficial que atribui à actividade turística um cariz estratégico e prioritário da nossa economia.
Os acontecimentos que se verificam há mais de dez anos consecutivos em Albufeira, por exemplo, revelam uma incapacidade latente das autoridades competentes, designadamente da autarquia, mas também do governo central, incapaz de intervir e legislar em conformidade, tendo em vista prevenir e punir o aumento exponencial de criminalidade que se vem verificando, ano após ano, neste concelho e um pouco por todo o Algarve.
Albufeira registou, em 2023, a maior criminalidade do País com 92,6 crimes por mil habitantes, enquanto a média nacional não foi além dos 35,5 (in Página UM).
O que mais sobressai é um modelo de desenvolvimento errado, ultrapassado e esgotado, centrado numa pseudo-animação noturna dominada por discotecas e bares a céu aberto.
Persistir, como parece ser o caso, neste modelo de desenvolvimento, que já provou ser atentatório do interesse público nacional, é contribuir para acentuar ainda mais a má imagem de Albufeira e do Algarve junto dos principais mercados emissores, nomeadamente dos nichos de mercado que, verdadeiramente, interessam à região – as famílias.
É nossa convicção profunda que a falta de entendimento dos poderes públicos sobre a substância da actividade turística é o principal responsável pelo absentismo dos sucessivos governos sobre esta matéria, traduzida numa incapacidade em gerir os desafios resultantes destas novas realidades.
Os problemas da segurança já não se resolvem não falando de segurança. É preciso determinação e capacidade política para fazer aquilo que é preciso. Só assim poderemos fazer desta valência competitiva uma ferramenta de gestão das nossas empresas e do nosso turismo.
Neste contexto, perante os sinais e os factos em presença, traduzidos numa criminalidade crescente, violenta e sem soluções à vista, importa interrogar os nossos responsáveis políticos sobre algumas questões fundamentais.
O Algarve não pode continuar a ser entendido à luz dos quatrocentos e tal mil residentes oficiais, mas sim nos milhões de turistas que procuram a região anualmente, o que pressupõe uma melhor e mais eficaz gestão dos recursos policiais existentes, através de uma maior mobilidade e distribuição territorial dos seus efectivos.
Neste contexto, a falta de efectivos policiais no Algarve, especialmente durante a época turística, é lesivo e até ofensivo do interesse da economia do turismo, mas também do interesse público nacional, atendendo ao cariz estratégico e prioritário de uma actividade, cuja vocação exportadora é determinante para o nosso país enfrentar com sucesso a sua maior fraqueza – o endividamento externo.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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