Várias vezes temos assumido que consideramos a arte visual como uma forma de comunicação que, através da imagem, pode permitir sintetizar conceitos ou ideias complexas.
Ao longo da história da ciência, da astronomia à anatomia, a imagem visual revelou-se essencial para permitir compreender a realidade e registar a mesma, através da ilustração.
Isto para além de outras formas de ligação entre a ciência e a arte visual, nomeadamente porque os primeiros grandes cientistas foram também identificados como artistas, como foi o caso de Leonardo Da Vinci. Na história moderna, há vários casos de cientistas, inclusivamente vencedores de Prémios Nobel de medicina ou fisiologia, que também desenvolveram trabalhos no domínio da arte visual, sendo a criatividade necessária à produção científica e à produção artística que permite fazer a ponte entre os dois domínios. Ambas se nutrem da curiosidade humana, a criatividade, o desejo de experimentar. Neste sentido, o fazer artístico e o fazer científico constituem duas faces complementares da ação e do pensamento humanos.
Isto não obstante a ciência procurar aproximar-se progressivamente duma “verdade” cada vez mais estável e constante na forma de explicar a realidade, enquanto a arte não tem nenhum compromisso com a verdade.
Mas, voltando à importância da imagem, considera-se que esta, depois da voz e da escrita, tem um papel cada vez mais relevante nos processos de expressão e comunicação. Assim, a imagem pode ser um bom instrumento para permitir estabelecer pontes entre a ciência e a arte, pois a imagem é universal.
Um conceito que tem vindo a ser muito estudado, sobretudo no domínio da Psicologia, é o stresse, o qual expressa a discrepância entre os recursos do sujeito e a exigência que sobre ele é colocada. Em geral, é usado no sentido negativo, quando a exigência é muito elevada, podendo ocorrer consequências negativas no sujeito, nomeadamente entrar em exaustão. No entanto, o stresse pode ser positivo, pois as exigências podem constituir uma oportunidade para o sujeito sair da sua zona de conforto e desenvolver as suas competências para lidar com as situações potencialmente stressantes. No primeiro caso temos uma situação de distress (stresse negativo), enquanto no segundo temos uma situação de eustress (stresse positivo).
Esta distinção é ilustrada através do ready made “Stresse – Entre a energia e a exaustão”, sendo uma das obras expostas na Biblioteca da Universidade do Algarve, no Campus de Gambelas. Esta exposição, intitulada “Stress approach by visual arts”, inaugurou no dia 18 de julho, sendo apresentadas obras realizadas segundo diversas técnicas de artes visuais, nomeadamente fotografia, pintura, desenho e escultura, que procuram ilustrar o conceito de stresse, os seus sintomas e fatores. Os trabalhos são da nossa autoria e também de Pedro Cabral Santo e de alguns estudantes do curso de licenciatura em artes visuais (Ana Viegas, Célia Howell, Denise Antunes, Marina Pestana, Marta Aleixo e Ruben Dias).
A inauguração desta exposição marcou o início do “44th International Conference of the Stress, Trauma, Anxiety, and Resilience Society (STAR)” (https://star2023.ualg.pt), sociedade mundial com especialistas de várias dezenas de países dedicados ao estudo do stresse, mostrando a proximidade entre a ciência e as artes visuais.
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