Em entrevista ao POSTAL, a conceituada pianista Patrícia Costa partilha as motivações para conduzir a Masterclass em Tavira, os principais focos técnicos e interpretativos, a influência de professores renomados na sua metodologia de ensino, a importância destes eventos para jovens pianistas e as suas experiências enriquecedoras ao lado do Maestro António Victorino D’Almeida. A pianista destaca ainda o valor do recital final como culminar do trabalho desenvolvido ao longo da Masterclass.
P – O que a motivou a aceitar o convite para ministrar esta Masterclass em Tavira?
R – O que me motivou foi poder contribuir, através da partilha de saberes, entre mim e os participantes, para o desenvolvimento pianístico dos nossos jovens alunos de piano, especialmente dos Conservatórios do Algarve, onde resido e leciono atualmente.
P – Quais são os principais focos desta Masterclass em termos de técnica e interpretação?
R – A contextualização das peças em termos de época, assim como do compositor, é de extrema importância, para a melhor compreensão da obra que se está a trabalhar. Pretendo focar esse aspeto, sugerindo a pesquisa sobre compositores e época, como base para se trabalhar uma peça, assim como da importância da adequação técnica à execução expressiva, na interpretação. Irei trabalhar individualmente a peça escolhida por e com cada aluno, dando ênfase a aspetos como a correta leitura, à forma de estudar, ao ritmo, ao fraseado e dinâmicas, à qualidade do som. O objetivo é capacitar os participantes da Masterclass a fruir a música, com prazer e motivação, não descurando o som que chega ao ouvinte.
P – Como a sua formação com professores de renome influenciou o seu método de ensino?
R – Todos os meus professores, começando pela grande professora Maria Cristina Pimentel, e terminando com Cármen Graff, passando por vários outros grandes pianistas e pedagogos, me influenciaram no modo de tocar e de ensinar. De todos colhi muito, aprendi muito, no que toca à técnica, interpretação e qualidade do som que se tira do piano. Mas, as notas constantes que posso aqui salientar, foram sempre a exigência, o rigor e a disciplina de estudo. Estas características, cada vez mais raras nos dias de hoje, fazem parte do que tento passar aos meus alunos.
P – Qual a importância de eventos como este para o desenvolvimento de jovens pianistas?
R – São de extrema importância, quer ao nível das aprendizagens pianísticas entre os próprios participantes, a partilha de diferentes técnicas e saberes, mas também e não menos importante, o seu lado humano, o convívio, a socialização com outros jovens com o mesmo interesse pelo piano. Tudo é muito enriquecedor e só posso enaltecer a iniciativa do Jornal Postal do Algarve.
P – Pode falar-nos sobre a sua experiência de ter trabalhado com o Maestro António Victorino D’Almeida e como isso enriqueceu a sua carreira?
D – O Maestro, para além de ser um génio, um músico e compositor de excelência, é também um ser humano fantástico e com um brilhante sentido de humor. Por todas essas razões e também pela amizade que nos une, a riqueza que foi trabalhar com António Victorino D’ Almeida é imensurável, foi e é um marco na minha vida artística e pessoal. A primeira vez que toquei com o Maestro tinha 14 anos, tive uma participação num concerto em palestra, no Museu José Malhoa, em Caldas da Rainha, onde, entre outros compositores, falou sobre Schubert, compositor que executei. Foi uma enorme honra e responsabilidade para mim. Posteriormente toquei com o Maestro em vários concertos, tendo sido o próprio a levar-me para Viena, Áustria, para ter aulas com Carmen Graff, professora da Hochschule für Musik.
P – O que os participantes podem esperar do recital final e qual é o seu significado no contexto da Masterclass?
R – Os participantes irão executar as peças que forem trabalhadas, mostrando o resultado do trabalho desenvolvido ao longo da Masterclass, assim como a minha própria execução de algumas peças, no final.
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