O Programa de Aumento do Nível do Mar da Climate Central permite ter uma ideia do que pode estar submerso em 2050, isto se as emissões de carbono continuarem ao ritmo atual e que está a ser mais rápido do que se temia.
O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) estima que o limiar do aquecimento global (de +1,5° centígrados) em comparação com o da era pré-industrial vai ser atingido em 2030, 10 anos antes do que tinha sido projetado anteriormente, “ameaçando a humanidade com novos desastres sem precedentes”.
De acordo com ferramentas que estão disponíveis online e de forma gratuita da Climate Central, é possível ver o cenário daqui a 30 anos se nada for feito.
No Algarve, cidades como Faro, Olhão e Tavira poderão estar ameaçadas já nos próximos trinta anos.
A sul do país, a subida do nível médio do mar e a intensificação de tempestades, colocará em risco as ilhas barreira da Ria Formosa, como o Farol, e todas as praias de Faro a Tavira. Ainda no sotavento algarvio, Monte Gordo e a margem do Rio Guadiana entre Vila Real de Santo António e Castro Marim são zonas ameaçadas
O cenário é igualmente inquietante na zona costeira de Andaluzia. A cidade vizinha Ayamonte é motivo de grande preocupação, além de Punta Humbria em Huelva e uma grande mancha que atinge o Parque Nacional de Doñana, Isla Mayor e toda a área envolvente onde vai desaguar o rio Guadalquivir.
Em Portugal, regiões como o Estuário do Tejo e o Estuário do Sado também poderão sofrer grandes alterações, com o caudal dos rios a apoderar-se de áreas significativas para a produção agrícola. Cidades como Aveiro e Figueira da Foz, além dos lugares emblemáticos como o Padrão dos Descobrimentos, em Belém, e as Caves do vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, também estarão ameaçados pela subida das águas.
DEGELO: Quantidade de água pode fazer o nível médio dos mares subir até seis metros
De acordo com os especialistas da ONU, os “humanos são indiscutivelmente responsáveis” pelas alterações climáticas e não há outra alternativa senão a redução dos gases de efeito de estufa.
A fusão da calote glaciar é o principal motor da subida do nível dos mares, à frente da fusão dos glaciares e da expansão dos oceanos sob efeito do aquecimento da água. A fusão do banco de gelo, que está submerso, não faz subir o nível do mar. Segundo o painel de peritos do clima das Nações Unidas (IPCC, na sigla em Inglês), o nível dos mares subiu 20 centímetros desde 1900. Ora, o ritmo desta subida quase triplicou desde 1990 e, conforme os cenários, os oceanos poderiam ainda ganhar 40 a 85 centímetros até ao final do século. A calote glaciar da Gronelândia, que se poderia aproximar do ponto de não retorno da fusão segundo estudos recentes, contém uma quantidade de água gelada capaz de fazer subir o nível médio dos mares até seis metros.
Esta Ferramenta de Triagem de Risco Costeiro mostra como a ameaça do degelo dos glaciares pode colocar territórios abaixo da linha da maré
Este mapa da Climate Central é usado para explorar as implicações de diferentes projeções científicas sobre a perda de mantos de gelo que são publicadas de tempos em tempos. O mapa por si só não indica a probabilidade nem o momento em que a perda de gelo em qualquer nível pode ocorrer.
O aumento do nível do mar e os mapas de inundações costeiras do Climate Central são baseados em ciência revista por pares nas principais publicações especializadas. Como esses mapas incorporam grandes conjuntos de dados, devem ser considerados como ferramentas de triagem para identificar locais que podem exigir uma investigação mais profunda de risco.
O apoio financeiro para este mapa – e a pesquisa subjacente – é fornecido pela The Schmidt Family Foundation; a Fundação MacArthur; A Fundação Kresge; A Fundação Cúpula; a Fundação V. Kann Rasmussen; One Earth, projeto da Sustainable Markets Foundation, em parceria com a Fundação Leonardo DiCaprio; a Fundação Nacional de Ciências dos EUA (concessão ARC-1203415); e a Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (80NSSC17K0698).
Aquecimento do Ártico foi o quádruplo do resto da Terra nos últimos 40 anos
O Ártico aqueceu cerca de quatro vezes mais do que o resto do mundo nos últimos 40 anos, concluiu um estudo, o que evidenciou as estimativas aquém da realidade dos modelos climáticos dos polos. O estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, do grupo Nature, reavaliou claramente em alta o ritmo de aquecimento da região em torno do Polo Norte.
Em 2019, o painel de peritos do clima das Nações Unidas (IPCC, na sigla em Inglês) tinha estimado que o Ártico estava a aquecer “mais do dobro da média mundial”, sob o efeito de um processo específico da região. Este fenómeno, designado “amplificação ártica”, ocorre quando o gelo e a neve, que refletem naturalmente o calor do sol, se derretem na água do mar, que absorve assim mais o calor solar e aquece.
Se os cientistas estão de acordo desde há muito sobre a constatação do aquecimento acelerado do Ártico, as suas estimativas do fenómeno divergem sobre o período que escolhem estudar ou a definição, mais ou menos externa, da zona geográfica do Ártico.
No novo estudo, os investigadores, baseados na Noruega e na Finlândia, analisaram quatro séries de dados de temperatura recolhidas no conjunto do círculo ártico por satélites desde 1979, ano a partir do qual a informação por satélite ficou disponível. Concluíram que o Ártico aqueceu em média 0,75 graus centígrados (ºC) por década, ou seja, cerca de quatro vezes mais depressa do que o resto do planeta.
Devido aos gases com efeito de estufa geridos pelas atividades humanas, principalmente devido à queima dos combustíveis fósseis, a temperatura média global do planeta já subiu cerca de 1,2ºC desde a era pré-industrial. “A literatura científica considera que o Ártico está a aquecer duas vezes mais depressa do que o resto do planeta, portanto, estou surpreendido que a nossa conclusão seja bem mais elevada do que o número habitual”, disse Antti Lipponen, membro do Instituto finlandês de meteorologia e coautor do estudo, à AFP.
Mas o estudo detetou importantes variações locais do aquecimento no círculo ártico. Por exemplo, o setor euro-asiático do Oceano Ártico, perto do arquipélago norueguês de Svalbard e do russo de Nova Zembla, aqueceu 1,25ºC por década, ou seja, sete vezes mais do que o resto do mundo.
A equipa constatou que os modelos climáticos mais modernos previam um aquecimento do Ártico inferior em cerca de um terço ao que demonstram os seus próprios dados. Este afastamento, na sua opinião, poderia explicar-se pela obsolescência das anteriores modelizações do clima ártico, em aperfeiçoamento constante. “A próxima etapa seria talvez dar uma olhadela para estes modelos, ver porque é que não previram o que nós constatámos nas observações e qual o impacto que vai ter sobre as futuras projeções climáticas”, declarou Lipponen.
O aquecimento intenso do Ártico, além de um impacto grave sobre as populações e a fauna local, que depende da continuidade do mar de gelo para caçar, vai ter também repercussões mundiais. “As alterações climáticas são causadas pelo Homem e à medida que o Ártico aquece, os seus glaciares vão fundir, o que vai ter uma incidência global sobre o nível dos mares”, especificou Lipponen. “O que se passa no Ártico afeta-nos a todos”, disse, inquieto.