Como Sobreviver depois da Morte, de André Canhoto Costa, publicado pela Quetzal, é um romance original e poderoso de uma das novas vozes literárias a ter em conta. Agora que nos aproximamos do final do ano literário, posso afirmar seguramente que este é um dos grandes livros de autoria nacional publicado em 2024.
Muitas vezes vemos livros etiquetados como realismo mágico, o que é geralmente uma boa estratégia de venda. Aconteceu, por exemplo, com Os Segredos de Juvenal Papisco de Bruno Paixão…
Como Sobreviver depois da Morte, e como o próprio título sugestiona, fala-nos da vida depois da morte, uma história intemporal que merece ser lida e agarra o leitor, pela prosa e pela intriga.
Como Sobreviver depois da Morte, e como o próprio título sugestiona, fala-nos da vida depois da morte, uma história intemporal que merece ser lida e agarra o leitor, pela prosa e pela intriga
Um romance em torno de Sulfúreo, uma aldeia atópica, possivelmente algures no norte interior de Portugal (fala-se em Lisboa e nas colónias portuguesas), onde as aparições de defuntos são uma constante. Na verdade, nunca ninguém morre verdadeiramente. E quando decidem partir, é como se se encostassem a uma árvore ou na margem de um ribeiro, e fundem-se com a natureza.
É também em Sulfúreo que se extrai, ao longo dos séculos, o volfrâmio, até chegarmos às grandes guerras, em que a exploração do minério se torna mais desenfreada neste país que supostamente se manteve neutro durante aquele período.
No tratamento do espaço e do tempo, no maravilhoso que ocorre aqui e ali, nas constantes aparições dos mortos, é um romance onde magia e fantasia convivem com história e ironia – pois ao narrador é difícil manter-se permanentemente neutro.
André Canhoto Costa nasceu em Oeiras, em outubro de 1978. Estudou Artes no liceu local, onde frequentou sobretudo a pequena e confortável biblioteca. Após dois anos na Universidade de Évora, regressou a Lisboa para concluir os estudos na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, em 2004. Trabalhou como bolseiro no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e fez o doutoramento em História Económica no ISEG. Concebeu o espetáculo sobre a vida e a poesia de Ruy Belo, Em Louvor do Vento, em 2013. Colaborou num manual de filosofia para o secundário, Ousar Saber. Publicou Os Vícios dos Escritores 2017) e As Cinco Grandes Revoluções da História de Portugal (2019). Escreve para a revista Ler e tem desde 2017 uma rubrica semanal, «Crónicas Portuguesas», na RDP Internacional. Escreveu também um dos volumes da coleção Portugal, Uma Retrospetiva (2019). Participou na construção e integra o Conselho Científico do Quake – Centro do Terramoto de Lisboa.
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