A mera existência da máquina fotográfica, transformou o Mundo como nós o conhecemos, a imagem como forma de documentar a realidade autêntica e como forma de expressão artística da condição Humana veio criar ao longo da sua História momentos e figuras controversas que testam os limites da liberdade de expressão. Eu sou da opinião que a Humanidade é capaz do melhor e do pior e são sempre nos limites da nossa compreensibilidade, tanto física como mental, que o Mundo realmente avança ou se manifesta ou se descobre com novo conhecimento… sobre ciência, intelecto, lugares ou simplesmente sobre a nossa relação de uns com os outros e de como a sociedade tem de dar lugar a todas as formas de expressão e opinião sem que daí resulte a nossa própria aniquilação ou desentendimentos como por exemplo a guerra e a exploração.
O fato de a fotografia ou outras artes do entretenimento como a música, o cinema, escultura, desenho, pintura ou a escrita, mostrarem estes momentos extremos ou escandalosos, só mostra que o artista em causa desencadeou uma emoção em nós que pode ser de vergonha, raiva, constrangimento ou surpresa, emoções essas que dado o que a fotografia mostra podem ser desencadeadoras de ação, podem dar início a discussão e debate que no fim podem ser benéficos para o avanço da sociedade.
Vamos conhecer algumas dessas fotografias e fotógrafos que de alguma forma ou outra criaram ou exploraram temas controversos, principalmente na área do fotojornalismo, como por exemplo Charles Moore (1931-2010) que foi responsável por documentar o movimento de direitos civis da comunidade negra nas décadas de 50/60 nos EUA, o debate sobre o racismo seria iniciado seriamente quando fotografou Martin Luther King Jr. ao ser preso por dois polícias. Donna Ferrato (1949-), fotojornalista na década de 80 foi responsável por muitas fotografias cândidas e íntimas dos seus sujeitos, da sua vida familiar, onde capturava situações de violência doméstica, principalmente contra as mulheres, algumas delas bastante violentas, o que originou um intenso debate sobre o assunto, que levou à aprovação de legislação para combater este problema. Mathew Brady (1822-1896) foi um dos primeiros fotógrafos de guerra, nomeadamente a Guerra Civil Americana. Em 1862 realizou uma exposição em Nova York em que mostrava a violência dos campos de batalha, onde seriam mostradas pela primeira vez cenas de alta brutalidade das consequências da guerra, com corpos mutilados e desfigurados caídos nos campos e nas ruas.
Ron Galella (1931-) é o original fotógrafo que desencadeou o estilo de fotografia paparazzo, tendo imortalizado muitas celebridades fora do olhar do público, principalmente a partir dos meados dos anos 60, as fotografias saíram na maior parte das grandes publicações mundiais, mas também criou um movimento que testa os limites do direito à privacidade mesmo sendo figuras públicas. Stanley Forman (1945-) ficou famoso por ter sido o primeiro fotógrafo a ganhar o Prémio Pulitzer na categoria de fotojornalismo, duas vezes seguidas, uma dessas fotografia foi a de uma mãe e filha que em 1975 caíram desamparadas de umas escadas de serviço de incêndio de um prédio, esta série de fotografias quando foram publicadas no jornal, criaram sentimento de raiva e foram acusadas de sensacionalismo por parte do público um pouco por todo o mundo, mas levaram a que as leis de segurança destes equipamentos fossem revistas em muitas cidades dos Estados Unidos.
Kevin Carter (1960-1994) era um fotojornalista Sul Africano que além da brutalidade do apartheid na África do Sul documentou também a fome extrema no Sudão, em que numa das suas fotografias, fotografou um pequeno rapaz negro de magreza extrema caído no chão, com um abutre ao seu lado. Devido a depressão, dívidas e ao constante testemunho de tamanhas atrocidades que documentou, acabou por se suicidar, uma sombra que paira em muitos destes fotógrafos. Nilufer Demir (1986-) mostrou ao mundo o quanto problemático se encontra a crise dos refugiados na Europa quando em 2015 fotografou um pequeno rapaz Sírio afogado numa praia, fotografia essa que causou uma reação bastante intensa entre o público do mundo moderno e desenvolvido, que pressionou os governos a tomarem atitudes e projetos mais humanitários para lidarem com este problema, além de ter mudado o rumo das eleições no Canadá.
Nick Ut (1951-) um fotógrafo Vietnamita-Americano ganhou um prémio Pulitzer quando em 1973 fotografou uma série de crianças a fugir de um bombardeamento na guerra do Vietnam, incluindo uma rapariga totalmente despida, depois do seu corpo ter sido regado com Napalm (um agente químico incendiário extremamente volátil), o fotógrafo posteriormente acabou por salvar a sua vida do fogo. Esta fotografia veio mostrar ao povo Americano que o governo estava errado na demonização do povo Vietnamita. Chris Hondros (1970-2011) foi um fotojornalista da guerra do Iraque que em 2005 mostrou ao mundo como as motivações e participação dos EUA nesta invasão, eram bastante questionáveis quando soldados americanos dispararam contra cidadãos inocentes que regressavam a casa e foram confundidos por terroristas, a fotografia mostra uma criança coberta de sangue a chorar pela morte dos pais, rodeada de soldados norte-americanos. Perante tal violação dos direitos humanos, os EUA foram obrigados a rever as suas políticas e a procurar por soluções alternativas na deteção de terroristas.
Kerstin Langenberger, fotógrafo de natureza, em 2015 fotografou um urso polar tão magro que só se notavam os ossos, esta visão é simplesmente mais um aviso sério, uma peça no puzzle das alterações climáticas, que pouco a pouco alteram significativamente o ambiente natural em que estes animais vivem, levando-os, tal como o urso polar, ao risco de ficarem extintos para sempre. Therese Frare (1958-) em 1990 fotografava David Kirby, um gay ativista vítima do flagelo pandémico do vírus da SIDA, num estado moribundo, rodeado pela sua família numa cama de hospital, esta foto foi usada pela United Colors of Benetton numa campanha publicitária, que durante dois anos espalhou sensibilidade e notoriedade sobre a real escala e problemática da doença.
Richard Drew (1946-) ficou famoso pela fotografia que tirou a 11 de setembro de 2001 de um homem em queda livre, quando se atirou do arranha-céus World Trade Center em desespero para fugir das chamas e do fumo, edifícios que momentos antes tinham sido vitimas de ataque terrorista, vários aviões comerciais foram desviados num curto espaço de tempo com o intuito de criar caos e terror numa das mais desenvolvidas metrópoles do Mundo. Sebastião Salgado (1944-), fotógrafo brasileiro, é responsável por documentar muitas condições desumanas em redor do Mundo, como por exemplo a exploração das minas de ouro da Serra Pelada (Brasil) e campos/rotas migratórias de refugiados em África entre outros locais.
Por fim, não vou deixar de falar do fotógrafo português José Ferreira (1986-) que em 2012 fotografou uma das maiores lixeiras do Mundo em Moçambique, onde retratou pessoas que viviam nas condições mais desumanas, fotografias que impressionaram o canal de notícias da CNN, onde foi convidado para uma entrevista. O fotógrafo dedica-se a retratar outros temas controversos como por exemplo drogados, travestis, comunidades ciganas, entre outros.
É preciso dizer que infelizmente, só quando é chocante, provocatório, escandaloso e aos olhos de todos que realmente se passa à ação e se mudam as coisas. O fotojornalismo é um dos pilares da liberdade de expressão, informação e comunicação e deve ser visto sempre com um olhar crítico de análise, mas também de Humanidade, estas fotografias servem para mostrar um lado negro da História da Humanidade que deve servir de reflexão, principalmente pelos que governam o Mundo. No próximo artigo vamos explorar figuras importantes e controversas na área mais artística.