Recentemente, todos nós fomos informados que Cristiano Ronaldo, através da sua empresa CR7, S.A., adquiriu 10% do capital da Vista Alegre Atlantis, num investimento avaliado em 17,3 milhões de euros.
Obviamente que no período de dias, após anunciada publicamente esta aquisição, o valor das ações da Vista Alegre valorizou cerca de 4%, resultado claramente influenciado pela iniciativa de investimento do jogador português.
Cristiano Ronaldo e a Vista Alegre anunciaram, também, que iriam ser parceiros na realização de investimentos para a criação de uma empresa para comércio das marcas Vista Alegre e Bordallo Pinheiro no mercado do Médio Oriente.
Além das porcelanas portuguesas, CR7 já nos foi habituando aos mais diversos investimentos no nosso país, com negócios em diferentes setores de atividade, como turismo, como exemplo do investimento conjunto com o grupo Pestana, imobiliário, moda, media, estética e águas.
CR7 é, assim, uma marca complexa, com várias sociedades ligadas e desligadas, que afunilam todas na pessoa titular de um estatuto, para muitos, de autêntico herói português do século XXI.
Efetivamente Cristiano Ronaldo criou uma imagem de um verdadeiro self-made-man de um sucesso inegável. Seguido por cerca de 633 milhões de pessoas no Instagram, é a pessoa com mais seguidores do planeta. Cria conceitos, influencia massas, através da sua mensagem falada ou escrita, e manteve uma imagem e fama, tal como a sua carreira futebolística, dotadas de enorme consistência e trabalho.
E, obviamente, tem o impacto de levar o nome de Portugal a ser conhecido e falado por todo o mundo. Uma espécie de novos descobrimentos, não em caravelas, mas em sucesso individual associado ao seu país de origem.
Igualmente, criou uma imagem positiva do povo português uma vez que os diferentes fãs de Cristiano espalhados por todo o mundo, gostando do jogador, animam-se em conviver com os seus compatriotas com quem têm a oportunidade de estar em contacto nas mais diversas circunstâncias da vida. A famosa história já vivida por muitos portugueses, contada a toda a família, que numa determinada viagem de lazer ou negócios nos é perguntado de onde vimos e com a resposta “de Portugal”, há uma imediata euforia na reação, concluída com a famosa ligação lógica “Portugal? CRISTIANO RONALDO!”.
Mas agora que caminhamos para as últimas semanas do Campeonato Europeu de Futebol de 2024, o último Europeu de Cristiano Ronaldo, continuamos, na boa maneira portuguesa, a ignorar a dimensão que Ronaldo enquanto pessoa, atleta, personalidade, influenciador e, acima de tudo, marca, atinge na realidade do nosso mundo. Continuamos a criticá-lo, de uma forma ingrata e incompreensiva.
Talvez não tenhamos sabido devidamente aproveitar essa mesma dimensão que falei acima, durante as duas décadas de sucesso profissional do jogador. Criámos uma certa vaidade (e arrogância) em redor do facto de termos o melhor jogador de futebol do mundo, apesar de sermos um pequeno país, junto ao Atlântico. Mas como todas as oportunidades que nos aparecem à frente, apenas relaxamos, vendo os frutos a produzirem-se naturalmente, mas nunca planeando o modo como podemos criar riqueza com as raras e extraordinárias oportunidades que nos aparecem em Portugal.
Nunca houve uma relação de absoluto orgulho e proteção da pessoa que nos representou tão bem ao longo de tantos anos volvidos. Ora, umas vezes foi herói declarado, outras arguido em julgamentos públicos, criticado, gozado e com muitas tentativas de imputar nele culpas de que ele não era responsável, sempre por um povo movido pela velha inveja e frustração do sucesso alheio.
Hoje, ao escrever este texto, não sei se seremos campeões europeus em 2024. Não sei se verei o meu herói uma última vez campeão pela nossa seleção nacional. Muito menos, consigo antecipar se teremos, novamente, um atleta com a dimensão e influência mundial que CR7 tem.
Contudo, tenho uma certeza: que o povo português, em razão de uma estranha cultura de sentimentos negativos, de um fado que nos faz viver de forma triste, irá continuar a desaproveitar todas as futuras oportunidades que surgirão de colocar Portugal em posições mais elevadas nos rankings de sucesso mundial.
Se a inveja é um dos 7 pecados capitais, foi, por demasiadas vezes, o principal pecado do povo português quando falhou no devido aproveitamento da incrível dimensão de um dos maiores 7 do mundo do futebol – de Cristiano Ronaldo.
*Turbulências III escrito por João Fernandes Moreira, advogado
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