Em Portugal, no que à economia diz respeito, é recorrente fazer-se o que não se deve e raramente o que deve ser feito. Esta realidade encaixa bem na actividade turística.
O não entendimento por parte dos organismos públicos e dos mais altos responsáveis da governação sobre a substância do turismo e a sua importância presente e futura na economia e sociedade portuguesa, assume-se como um dos principais responsáveis por esta fragilidade.
Muitos dos organismos oficiais do turismo não só não adicionam qualquer valor acrescentado à actividade turística, como contribuem para atrapalhar o seu desenvolvimento e afirmação, devendo ser reestruturados e, em alguns casos, definitivamente extintos.
Assim sendo, o sector vem perdendo perigosamente competitividade nos últimos anos, atendendo a um conjunto de factores condicionantes, designadamente em matéria fiscal, autárquica, transporte aéreo e promoção turística.
Mais que insuficiente a nossa promoção é desajustada das realidades da nossa oferta e, muito principalmente, das necessidades empresariais e turísticas
Há muita política no turismo e pouca política de turismo. Os organismos regionais de turismo, por exemplo, sempre estiveram ao serviço de interesses partidários, pessoais e particulares e nunca ao serviço do sector.
Neste sentido, corremos o risco da política de sacrifícios sucessivos, e em crescendo, se revelar um desperdício e um prejuízo para a economia nacional. E isto porque o montante de impostos a pagar ao Estado continua a aumentar, naquilo que podemos considerar uma espiral económica negativa.
A política de transporte aéreo e gestão aeroportuária seguida ao longo dos anos tem sido pouco competitiva comparativamente aos principais destinos concorrentes e, ao que julgamos saber, não terá sido suficientemente acautelada na privatização da ANA e, muito menos, na estratégia que está a ser delineada para a alienação da TAP. A oferta e o transporte são duas faces da mesma moeda, não podendo continuar a ser tratados separadamente como até aqui.
As taxas e impostos municipais atingiram níveis incomportáveis, indo continuar a subir exponencialmente, quer através do aumento dos existentes, quer através do lançamento de muitos outros, criados ao sabor da imaginação das autarquias e de autarcas famintos de receitas para custear despesas que não podem suportar.
Para além de discursos políticos mais ou menos bem-intencionados e programas de apoio cheios de milhões que ninguém viu, não é verosímil acreditar que as instituições financeiras apoiem o tecido produtivo nos tempos mais próximos.
A redução da burocracia e da informalidade, assim como as sempre apregoadas reformas na justiça, saúde, estado, etc. continuam convenientemente adiadas, não sendo expectável uma alteração substancial destas políticas no curto/médio prazos.
Por estes motivos, a actividade turística confronta-se com um problema grave de comercialização, o que só por si exigiria uma estratégia de marketing proactiva, desenvolvida em parceria com o sector privado e orientada para as vendas, incluindo a negociação com companhias aéreas, visando a consolidação e criação de novas rotas aéreas para o Algarve.
A importância crescente das novas tecnologias na comercialização de férias e o papel cada vez maior do “independent traveller” na procura de estadias, exige repensar a estratégia de promoção que, em boa verdade, evoluiu pouco ou nada nos últimos 30 anos.
Mais que insuficiente a nossa promoção é desajustada das realidades da nossa oferta e, muito principalmente, das necessidades empresariais e turísticas.
Em resumo, na economia portuguesa e na actividade turística, o governo deve abandonar uma estratégia de governação consubstanciada na “fezada” e empreender uma administração séria, transparente, coerente e, sobretudo, rigorosa e consensual, melhor forma de gerar confiança nos agentes económicos e nos mercados turísticos.
Assim sendo, as instâncias oficiais, principalmente o governo, deverão reduzir a carga fiscal sobre as empresas (IVA entre outros), despartidarizar os organismos públicos regionais (refundar as ERT´s), estabelecer entendimentos duradouros com a iniciativa privada para o marketing e vendas, definir políticas de gestão aeroportuária e transporte aéreo mais competitivas, repor a figura dos financiamentos directos às empresas, suspender as portagens na Via do Infante, fazer as reformas estruturais (saúde, justiça, administração pública, etc.), apoiar financeiramente novos canais de comercialização e distribuição de férias, com especial destaque para os portais de venda online, etc.
O grande desafio que se coloca ao turismo é sermos capazes de reposicionar a nossa oferta, atenuar a sazonalidade, aumentar a ocupação e restabelecer a sustentabilidade financeira das empresas hoteleiras e turísticas. Só assim poderemos voltar a ser verdadeiramente competitivos nos mercados internacionais.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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