O Algarve encontra-se numa encruzilhada no que diz respeito à gestão dos seus recursos hídricos. As alterações climáticas, com períodos de seca cada vez mais prolongados, e a pressão sobre as reservas de água têm colocado em evidência a necessidade de repensar estratégias para garantir a sustentabilidade da região. Muitas vezes apontada como vilã, a agricultura é, na verdade, uma aliada essencial quando bem gerida, podendo contribuir significativamente para a resolução dos desafios hídricos que enfrentamos.
Os agricultores algarvios têm demonstrado uma crescente consciência ambiental, investindo em tecnologias que promovem a eficiência no uso da água. Sistemas de rega inteligentes, como a rega gota-a-gota e a utilização de sensores de humidade no solo, permitem uma aplicação precisa e necessária de água às culturas, evitando desperdícios. Estas práticas não só conservam água como também aumentam a produtividade, demonstrando que é possível produzir mais com menos.
A escolha de culturas adaptadas ao clima mediterrânico do Algarve é outro passo crucial. Plantas que requerem menos água ou que são resistentes à seca podem ser uma opção viável e sustentável. Além disso, técnicas como a agricultura de conservação, que inclui a manutenção da cobertura do solo e a rotação de culturas, melhoram a retenção de água e a saúde do solo, reduzindo a necessidade de irrigação excessiva. Uma solução inovadora e sustentável é a reutilização de águas residuais tratadas para fins agrícolas. Esta prática permite aliviar a pressão sobre as fontes de água potável e fornece uma alternativa segura para a irrigação.
A agricultura, quando orientada por práticas sustentáveis e inovadoras, é um pilar fundamental para garantir a segurança hídrica no Algarve
Projetos piloto no Algarve têm mostrado resultados promissores, indicando que, com o investimento adequado e regulamentação eficiente, esta pode ser uma estratégia eficaz para a região. As estufas, frequentemente vistas como consumidoras intensivas de recursos, podem, na realidade, ser parte da solução. Quando equipadas com tecnologia moderna, permitem um controlo rigoroso das condições de cultivo, reduzindo a evaporação e permitindo uma utilização mais racional da água. Além disso, promovem a produção durante todo o ano, diminuindo a pressão sobre os recursos hídricos em épocas específicas.
A transição para uma agricultura mais sustentável exige investimento em formação e capacitação dos agricultores. Programas educativos e de extensão rural podem disseminar boas práticas e promover a adoção de tecnologias eficientes. Paralelamente, é fundamental que as políticas públicas apoiem estas iniciativas, através de incentivos financeiros, subsídios e criação de infraestruturas que facilitem a gestão eficiente da água.
A resolução do desafio da água no Algarve não é responsabilidade exclusiva dos agricultores. Requer a colaboração entre setores, incluindo o turismo, a indústria e a população em geral. Campanhas de sensibilização sobre o uso responsável da água, investimentos em infraestruturas de armazenamento e distribuição, e uma gestão integrada dos recursos hídricos são essenciais.
A agricultura, quando orientada por práticas sustentáveis e inovadoras, é um pilar fundamental para garantir a segurança hídrica no Algarve. Em vez de ser vista como um obstáculo, deve ser encarada como uma parte ativa da solução. Com a combinação certa de tecnologia, formação e políticas públicas favoráveis, é possível assegurar que a agricultura continue a prosperar sem comprometer os recursos hídricos da região.
O futuro do Algarve depende da capacidade de todos os setores trabalharem em conjunto para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela escassez de água. A agricultura bem gerida tem o potencial de liderar este esforço, demonstrando que é possível harmonizar desenvolvimento económico com sustentabilidade ambiental. Cabe-nos, enquanto sociedade, apoiar e promover este caminho para assegurar um futuro próspero e sustentável para a região.
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