Considerada uma das mais belas do mundo, esta biblioteca nasceu no reinado de D. João V, rei que privilegiava a cultura e o saber. É a maior biblioteca do século XVIII numa só sala, com cerca de 1000 metros quadrados.
É também considerada uma das mais importantes bibliotecas europeias, com um valioso acervo de cerca de 30.000 volumes.
Como referi, na crónica de Setembro, esta seria uma das próximas bibliotecas a visitar e posso dizer que foi especial conhecer tantos detalhes e curiosidades por detrás deste magnífico espaço. Foi uma verdadeira viagem no tempo!
Antes de escrever sobre a Biblioteca queria deixar alguns dados sobre o Palácio Nacional de Mafra, que é o mais importante monumento barroco de Portugal e abriga também uma basílica, digamos que é a Basílica de São Pedro (Vaticano) em ponto pequeno.
A Basílica de Mafra tem dois carrilhões com 92 sinos considerados os maiores do mundo e seis órgãos de tubos. Estes, por sua vez, formam “um conjunto de órgãos de tubos, único no mundo, composto por seis instrumentos concebidos e construídos ao mesmo tempo, para tocarem juntos.” Em dias de concerto de música sacra produzem um som impressionante que não deixa ninguém indiferente.
O Palácio Real foi mandado construir por D. João V, no início do século XVIII, e edificado a partir de 1717, sendo a basílica sagrada em 1730 e a restante parte do edifício completada ainda na década de 1740. O edifício tinha duas valências, era um palácio real e agregado ao mesmo existia um convento da Ordem Franciscana.
O Palácio de Mafra ocupa 38.000 m2 e tem 1.200 divisões, 4.700 portas e janelas e 156 escadas.
Durante os últimos reinados da Dinastia de Bragança, o Palácio foi utilizado como residência de caça, actividade que pode ser comprovada na Sala da Caça, onde estão expostas dezenas de troféus de caça.
Há cerca de um ano a filha do Duque de Bragança, D. Maria Francisca, Duquesa de Coimbra, casou na Basílica de Mafra.
A Biblioteca é considerada o maior tesouro deste Palácio e foi construída pelo arquitecto português Manuel Caetano de Sousa, mas há que referir nomes que muito contribuíram para a Biblioteca ser como é hoje: Frei João de Sant’Ana, Frei Joaquim da Conceição e Frei João de S. José do Prado.
Tem mais de 80 metros de comprimento, 9,5 metros de largura e 13 de altura. A planta tem o formato de cruz e um magnífico pavimento revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira em estilo rococó, situadas em duas filas laterais, separadas por um varandim, contêm milhares de volumes encadernados em couro. A ampla sala divide-se em duas zonas: uma com livros de carácter religioso e outra com livros de carácter mais científico.
Na Biblioteca encontram-se algumas obras raras como a “Crónica de Nuremberga”, famoso incunábulo publicado pela primeira vez em latim, em 12 de Julho de 1493.
Existem nesta Biblioteca diversas Bíblias antigas, nomeadamente uma Bíblia escrita em aramaico, hebraico, grego e latim, que foi publicada em 1520 e também Livros de Horas iluminados do século XV.
A Biblioteca guarda uma versão do Alcorão com 500 anos e tem um volume da segunda edição de Os Lusíadas de 1520.
O acervo também chama a atenção por guardar a maior colecção mundial de livros proibidos durante a Inquisição.
A Biblioteca foi autorizada, por via de uma Bula Papal de Bento XIV, a guardar livros proibidos. São cerca de uma centena e tive oportunidade de fotografar um deles, com as devidas autorizações, onde se pode ver a indicação da proibição.
Existe ainda um importante núcleo de partituras musicais, de compositores portugueses e estrangeiros como Marcos Portugal, J. de Sousa e J. Baldi, especialmente escritas para o conjunto dos seis órgãos históricos da Basílica de Mafra.
Os livros são preservados com a ajuda inusitada de uma comunidade de morcegos que têm na Biblioteca um território de caça. À noite, os animais voam livremente e alimentam-se de insectos nocivos para as folhas de papel, ou seja, fazem o processo de controlo de pragas, o que é fundamental para a conservação dos livros.
A Biblioteca de Mafra é mundialmente conhecida por acolher morcegos, que a ajudam a preservar as suas obras. Esta foi a principal razão que levou o jornal norte-americano Book Riot a eleger esta Biblioteca como a mais espectacular do Mundo.
Os morcegos são esquivos e não apreciam o contacto humano. Já foram vistos aquando de concertos nocturnos, mas é algo muito raro. O Palácio tem uma vasta programação que conta entre diversas iniciativas com Concertos de Carrilhão, Concertos de Música de Câmara e neste dia 9 de Novembro será possível ouvir o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, precisamente na Biblioteca do Palácio pelas 16h00.
Este ano recebeu a VII edição do Festival de Órgão de Mafra e neste momento está a decorrer, até 30 de Novembro, o VIII Festival de Música de Mafra que terá lugar no Torreão Sul do Real Edifício.
Vale a pena visitar este magnífico Palácio, a sua Biblioteca e tudo aquilo que tem para enriquecer culturalmente os seus visitantes.
Agradeço ao Dr. Sérgio Gorjão, ao Dr. João Machado e à Drª Teresa Amaral pela forma como me receberam, mostraram os espaços e disponibilizaram informação.
*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia
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