A comissária europeia Elisa Ferreira defendeu esta terça-feira, em Faro, que o país deve aproveitar os “fundos extraordinários” que vai ter nos próximos anos para fazer “mudanças radicais”, combinando os recursos digitais com o ambiente.
“Os financiamentos disponíveis hoje são três vezes e meia mais, por ano, do que aquilo que estávamos habituados a gerir. Neste momento, não há condições para se falar de falta de dinheiro. O que há é uma responsabilidade brutal de, tendo em conta os cenários que se nos deparam e a situação em que estamos, concentrar esforços a fazer mudanças radicais na nossa maneira de funcionar e de trabalhar”, apontou.
Falando durante a inauguração do UAlg Tec Campus, um hub empresarial promovido pela Universidade do Algarve (UAlg), a comissária europeia para a Coesão e Reformas aludiu a “um mundo em revolução”, que passa pelo aproveitamento dos recursos digitais e da inteligência artificial combinados com a aposta numa economia verde, dando “um sentido estratégico aos fundos extraordinários que os contribuintes europeus estão a canalizar para Portugal”.
Elisa Ferreira deu os exemplos da gestão de energia num edifício – “porque os custos da energia vão aumentar, e estão já a aumentar”, sublinhou -, ou da aplicação de inteligência artificial à gestão da água ou gestão do trânsito.
“As condições excecionais de financiamento que neste momento existem têm de ser dirigidas exatamente neste sentido, porque amanhã vai ser tarde e porque amanhã as oportunidades já passaram. Estaremos a cometer um grave erro para a geração que se segue”, frisou, referindo-se ao aproveitamento dos fundos europeus dos ciclos 2014-2020, ainda com margem de execução, 2021-2027 e das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
O projeto do UAlg Tec Campus, um espaço de 4.500 metros quadrados promovido pela UAlg através da requalificação de um antigo polo da academia, que abriu com 16 empresas e 300 trabalhadores, é um exemplo de “valor acrescentado” e que “vai andar pelos seus próprios meios”, mas Elisa Ferreira quer ver o retrato do projeto a médio prazo.
“Isto é uma fotografia, mas eu quero ver o filme todo. Daqui a dois anos vamos ver quantas empresas, a partir deste embrião, saíram daqui, criaram postos de trabalho, estão afirmadas no mercado ou registaram patentes. O objetivo é ter um tecido produtivo capaz de gerar salários bem pagos e dar satisfação e qualidade de vida aos nossos jovens e cidadãos em geral”, sustentou.
Na mesma ocasião, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, apontou o Ualg Tec Campus como um exemplo de “boa aplicação” dos fundos europeus, em que “uma aliança” entre academia e conhecimento gera “novas soluções para velhos problemas e novas soluções para novos problemas”, além de tornar o território “muito mais desenvolvido”.
“Quanto temos empresas mais competitivas, que pagam melhores salários, as pessoas têm melhor qualidade de vida. O objetivo último dos fundos europeus é fazermos diferente. Este é um projeto que não tem fim, em termos de desafios que se colocam à universidade e dos benefícios para a comunidade, não só para o Algarve, mas para todo o país”, disse a governante.
O reitor da UAlg, Paulo Águas, garantiu que as empresas ali alojadas “estão obrigadas” a trabalhar com a universidade, nomeadamente no acolhimento de estudantes de doutoramento, sendo parceiras da academia na candidatura a projetos e solicitando trabalho à universidade na área da investigação e desenvolvimento.
“É uma obrigação porque está no contrato, mas as empresas terão todo o interesse em relacionar-se com a universidade nessas áreas, porque também sairão beneficiadas”, sublinhou o reitor, realçando que o projeto “vai mudar” o campus onde está situado e “contribuir para a cidade e para a região, com emprego mais qualificado”.
O projeto do UAlg Tec Campus, que integra ainda um centro de simulação clínica noutro campus da academia algarvia, representa um investimento de 7,2 milhões de euros, com 5,8 milhões provenientes de fundos comunitários.