O novo livro do poeta algarvio Nero, natural de Silves, tem lançamento confirmado para o próximo sábado, 5 de abril, no Café Inglês, atrás da Sé Catedral de Silves, pelas 15:00. A entrada é livre.
Depois da epopeia fantástica Oceano – O Reino das Águas (2021) e do poemário de raízes autobiográficas Telúria (2023), o novo livro de Nero Akbar – Lunário Poético duma Alma ainda Árabe (2025) é inspirado no legado árabe pela Península Ibérica e na poesia luso-árabe. É dedicado aos sopros poéticos de Ibn ‘Ammar e al-Mu’tamid e “à luz e às sombras da cidade de Silves e às suas pedras mnemónicas”.

Nuno Campos Inácio (prefaciador da obra) e Esmeralda Lopes e Irene Ferreira (professoras especializadas em Língua e Literatura Portuguesa) apresentarão o livro, na companhia do poeta, antes deste avançar para a leitura de alguns poemas, para o convívio com os leitores e para a sessão de autógrafos.
Dizia Fernando Pessoa que “a alma árabe é o fundo da alma portuguesa”. O arabista Adalberto Alves repercute, depois: “o meu coração é árabe”. Nero, perpetuando a mesma linhagem, canta: “há um árabe vivo dentro de mim, ainda”; a que nos versos seguintes acrescenta, embebido no ateísmo místico que não raras vezes o caracteriza: “um ou mais, escuto-os quando cego passeio / e dos caminhos p’ra meca nem vereda”.
Haverá, em Akbar (“maior”, em árabe; adjetivo que medirá a escala transcendente de Deus) a viagem às origens do islamismo, desde cedo empenhada em não confundir, necessariamente, o que é da religião com o que é da cultura e em não reduzir os árabes aos praticantes do islão.

Inspirado nas fases da lua — o demorado subtítulo “Lunário Poético duma Alma ainda Árabe” é, propositadamente, mais elucidativo do que o próprio título —, o poeta divide a obra em quatro partes: busca pela origem e expansão da fé islâmica, numa toada simbólica e mística, em quarto crescente; celebra, com fervor popular, a expansão árabe pela Ibéria, em plenilúnio; recupera o tom épico, recriando episódios históricos da queda, em quarto minguante; propõe, em quiasmo, o diálogo e o silêncio como instrumentos essenciais ao perdão, ao convívio e à tolerância, de que se farão as luas novas de qualquer idade, ao mesmo tempo que lapida influências do sufismo, em quatro interstícios que antecedem ou sucedem cada lunação, meditando sobre as razões de deus e dos Homens.
Nuno Campos Inácio é perentório: “Nero encarna a essência mourisca do Gharb al-Andalus como poucos. […] Talvez não saiba, mas nesta obra enverga ‘kandoora’ de mestre e inicia a caminhada de um ‘mahdi’”.
Com grafismo de João Lourenço e ilustração interior de Miguel de Sousa, o novo livro de poesia de Nero ficará disponível nas livrarias portuguesas muito em breve.
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