A Associação de Apoio à Vítima presta serviços de apoio a todas as vítimas de crime desde 1990, embora esteja sobretudo associada à temática da violência doméstica. Os apoios são confidenciais e gratuítos. No Algarve existem cinco gabinetes em: Albufeira, Portimão, Faro, Loulé e Tavira, que funcionam com horários distintos, o que permite à vítima uma maior cobertura de apoio em termos horários.
A violência doméstica afecta a vítima e também a comunidade
A violência doméstica afecta a vítima, mas também a comunidade. A gestora do gabinete de Apoio à Vítima de Tavira, Ilda Gonçalves, explicou ao POSTAL que “quando existe um problema de violência doméstica dentro de uma comunidade, este problema acaba por se transmitir aos restantes, quer estejamos a falar dos familiares mais próximos, dos vizinhos ou até daqueles que estão distantes e sabem o que se passa”.
Segundo as estatísticas de 2017, a APAV registou um total de 40.928 atendimentos, firmados em 12.086 processos de apoio, onde foi possível identificar 9.176 vítimas e 21.161 crimes e outras formas de violência.
Em comparação com anos anteriores, foi possível identificar um aumento do número total de atendimentos na ordem dos 19% entre 2015 e 2017. De acordo com os dados apurados, e no que diz respeito aos crimes e outras formas de violência, os crimes contra as pessoas apresentam-se com uma dimensão na ordem dos 95% face ao total de crimes registados, com grande destaque para os crimes de violência doméstica (75,7%).
A violência doméstica continua a ter uma grande expressão
Como é possível constatar através dos dados anteriores, a violência doméstica continua a ter uma grande expressão e a crescer ao longo dos anos.
Sobre a importância de falar sobre a temática da violência doméstica, Ilda Gonçalves referiu ao POSTAL que “apesar de tanta divulgação, apesar dos apoios e dos recursos que já existem, a violência doméstica continua a proliferar nas famílias e na sociedade em que vivemos. No entanto, é importante reter o facto de que as estatísticas de violência doméstica nunca são o espelho daquilo que realmente acontece”.
A gestora do gabinete de Tavira esclarece ainda que “por exemplo a APAV tem uma estatística que muitas vezes acaba por não se cruzar com dados estatísticos de outras entidades nacionais, porque existem vítimas que apesar de serem vítimas nunca apresentaram queixa oficial, mas prestamos apoio na mesma. É claro que ao longo de todo o processo de apoio vamos sempre incentivando a pessoa a romper com o ciclo de violência”.
Ilda Gonçalves explicou ao POSTAL como se processa todo o apoio à vítima.
“Por vezes a vítima precisa de ser multi-intervencionada”
“Trabalhamos em rede com outras instituições, porque às vezes a vítima precisa de ser multi-intervencionada. Por exemplo, prestamos apoio ao longo do processo crime, mas existem outras necessidades sociais que também articulamos com outras entidades. Se estão com necessidades alimentares, trabalhamos com quem auxilia nessa vertente no concelho, se têm necessidades de se reestruturar em termos de emprego articulamos com o instituto de emprego para que se possa fazer um plano de intervenção e integração da pessoa no mercado de trabalho. Para além do apoio jurídico e social, prestamos apoio psicológico, direccionado à problemática da vitimação. Trabalhamos a violência, o alívio da sintomatologia e a reorganização emocional da vítima para que se possa fechar um ciclo e iniciar outro”.
Relativamente à caracterização das vítimas de crime apoiadas pela APAV em 2017, a maioria era do sexo feminino (82,5%), tinha idades entre os 25 e os 54 anos (38,9%). O estado civil destas vítimas dividia-se sobretudo entre as vítimas casadas (28,2%) e as solteiras (23,1%) e pertenciam a um tipo de família nuclear com filhos/as (33,4%).
Acolhimento é um dos serviços que a APAV disponibiliza
Quanto à violência no Algarve, a gestora do gabinete de Tavira referiu que está sobretudo associada à desigualdade de género e a problemas socioeconómicos.
Um dos serviços que a APAV disponibiliza é o acolhimento. Existe uma rede de casas onde as vítimas podem ficar longe dos agressores com vista à sua reorganização física e mental e à superação da situação. “Estas situações têm muitas vezes sucesso porque são espaços seguros, onde a mulher e os seus filhos podem permanecer e reorganizar as suas vidas. O nosso objectivo é ajudar as vítimas a superar a situação e iniciar um novo projeto de vida”, sublinhou.
“As mulheres são ainda as principais vítimas de violência doméstica”, afirma.
“A violência doméstica no fundo acaba por nos remeter para a violência de género. Por outro lado, os homens são maioritariamente vítimas de violência psicológica, enquanto as mulheres acabam por ser vítimas de violência doméstica de caráter mais físico”.
Quanto ao número de processos por resposta de proximidade existiam, em 2017, 166 casos em Tavira, 177 em Loulé, 232 em Faro, 235 em Albufeira e 359 em Portimão.
Ilda Gonçalves reforça a importância de continuar a insistir na divulgação, “quando as pessoas se encontram numa situação complexa da sua vida e não têm recursos nem respostas, confrontam-se com um desespero enorme. Quando percebem que há formas de resolver, que há formas de ajuda, sentem alívio. É muito difícil sair destas situações sem ajuda e quem consegue normalmente tem mais recursos económicos e sociais. Uma rede social informada ajuda muito”.
Em Tavira existem dois espaços de apoio às vítimas
Em Tavira existem dois espaços de apoio às vítimas, o Gabinete de Apoio à Vítima, nas instalações da GNR, e uma sala de atendimento, recentemente restaurada, na PSP.
“Antigamente estávamos mesmo na entrada da PSP, o que comprometia a confidencialidade. Neste momento, a sala fica no interior da esquadra, num espaço muito mais reservado e funcional”, esclarece.
O pólo de formação do Algarve está sediado em Tavira e disponibiliza formação interna e externa. Na APAV, os técnicos têm uma formação inicial e contínua dentro da instituição.
Periodicamente, realizam acções de formação na sua área de atuação, bem como noutras áreas relacionadas com a problemática da violência.
Quanto às estatísticas do presente ano, a gestora referiu que “as pessoas que chegaram até nós, nos meses de Janeiro e Fevereiro, já ultrapassaram em muito as estatísticas dos anos anteriores”.
Nada justifica a violência. Se é vítima de violência doméstica ou de qualquer outro tipo de violência ou conhece alguém que esteja a sofrer não fique calado. Denuncie. Se ficarmos calados só estamos a contribuir para que mais situações destas se perpetuem.
Conselhos a quem sofre de violência
doméstica:
– Peça ajuda;
– Denuncie às entidades competentes: PSP e GNR;
– Se tiver dúvidas pode inicialmente dirigir-se a qualquer gabinete de apoio à vítima;
– Ligue para a linha de apoio à vítima: 116006. O número é gratuíto e tem um horário das 9 às 21 horas. Pode falar com técnicos especializados que ajudam e reencaminham a pessoa para o gabinete de apoio à vitima mais próximo da sua residência ou outras estruturas de apoio à vítima;
(Stefanie Palma / Henrique Dias Freire)