“As conclusões [da conferência] foram o reforço da nossa cidadania, da nossa força, do nosso combate e dos nossos argumentos em relação a esta questão importantíssima e nevrálgica para o Estado português. A questão da central de Almaraz não é uma questão de soberania espanhola, mas sim ibérica, porque a eletricidade e as radiações não têm fronteiras”, afirmou à Lusa António Eloy, coordenador do MIA em Portugal.

“Foi o MIA que apresentou o recurso contra a construção do armazém (de resíduos nucleares) e contra a continuação [da actividade] da central de Almaraz durante mais 10 ou 20 anos”, realçou, enquanto os manifestantes, metade dos quais espanhóis, gritavam, sob vigilância policial, palavras de ordem como “encerrar Almaraz e todas as demais” e “mais renováveis, menos nucleares”.

Segundo o responsável, o MIA tem sentido “um ‘feedback’ positivo por parte de todos os partidos”, realçando que durante a conferência que se realizou na Fábrica do Braço de Prata “esteve o presidente da comissão parlamentar [do Ambiente, Pedro Soares] em representação de todos os partidos”, bem como deputados do PS, PSD, Bloco de Esquerda, PAN e Os Verdes.

“Estiveram presentes representantes parlamentares e eurodeputados de vários partidos e todos eles manifestaram a sua angústia, empenho e a necessidade de pressionar mais o Governo português e, sobretudo, o ministro do Ambiente [João Matos Fernandes], porque o ministro do Ambiente está enganado em relação a muitas coisas sobre o nuclear”, referiu António Eloy.

Movimento elogia primeiro-ministro

O primeiro-ministro, António Costa, recebeu elogios do coordenador do MIA, que disse tratar-se de “uma pessoa extremamente consciente e politicamente muito culta” e que “já esteve em Almaraz a manifestar-se pelo fecho da central há alguns anos”.

E reforçou: “Temos um primeiro-ministro informado e temos um ministro do Ambiente desinformado, que acha que uma central nuclear é igual a outra indústria qualquer. O historial das centrais nucleares é trágico”.

Por seu turno, Francisco Castejon, líder do MIA, destacou à Lusa que durante o debate que hoje decorreu durante todo o dia se chegou a uma conclusão importante: “Almaraz permanece aberta pelos enormes interesses económicos das grandes elétricas, que são as suas proprietárias, a Iberdrola, a Endesa e a Gas Natural Fenosa”.

O ativista espanhol apontou os “problemas de segurança” de Almaraz, considerando que a central “deveria ser encerrada, o mais tardar, em 2020”.

De acordo com Castejon, os perigos que Almaraz representa para Portugal, dada a sua proximidade da fronteira e do rio Tejo, devem levar o executivo socialista “a ser firme ao reivindicar ao governo espanhol o seu encerramento até 2020”.

O líder do MIA lamentou ainda a “posição intermédia” do Governo português face a esta matéria, já que “se opõe com muita firmeza à construção do aterro nuclear, mas não se manifestou sobre o funcionamento da central”.

Entre os participantes na ação de protesto encontravam-se também elementos de alguns partidos políticos espanhóis e várias organizações não-governamentais, como a Quercus, a Zero ou a Greenpeace, exibindo cartazes e bandeiras com lemas e imagens anti-nucleares.

“Os cidadãos portugueses e espanhóis encontram-se muito unidos em torno desta questão de Almaraz e, em ambos os lados da fronteira, querem que esta central encerre o mais rapidamente possível devido a todos os perigos que ela comporta”, assinalou à Lusa Nuno Sequeira, dirigente da Quercus.

A construção de um armazém para os resíduos nucleares da central de Almaraz, a 100 quilómetros da fronteira tem sido alvo da preocupação e protestos de ambientalistas portugueses e espanhóis, e já deu origem a uma queixa de Portugal a Bruxelas, devido ao facto de Espanha não ter realizado um estudo de impacto ambiental transfronteiriço, como estipula a legislação comunitária.

O MIA, a Ecologistas en Acción e a Federación Extremena Antinuclear (FEAN) apresentaram na semana passada ao Ministério da Energia espanhol um recurso contra a autorização de construção do armazém, argumentando ser ilegal por faltar consulta a Portugal, e ameaçam recorrer aos tribunais.

Agência Lusa