Viajar é um alimento para a alma, enriquece-nos de uma forma inexplicável e, como fotógrafo, a felicidade é a dobrar.
Cuba sempre me fascinou por uma série de imagens que viajaram mundo, as imagens de um país revolucionário, de gente feliz com uma musicalidade única e contagiante.
Finalmente a tão esperada viagem a Cuba, tentando em 13 dias visitar e conhecer o máximo possível.
Depois de dez horas de voo, chegar à cidade de Havana foi deveras um impacto, não só pela humidade e temperaturas altas mas, acima de tudo, pelo excesso de fumo libertado pelos milhares de carros que, ao contrário da Europa, não sabem o que são catalisadores.
Assim começava a aventura em terras de “El Comandante”.
Havana é praticamente um museu vivo dos anos 50, a cidade parece que parou no tempo, mas não é bem assim, denota-se e muito a invasão chinesa com os “riquexó”, triciclos a motor, scooters e automóveis “Made in China”. O fumo das centenas de veículos a passar é uma constante.
Andámos cerca de 25 quilómetros a pé no primeiro dia e a palavra mais ouvida era “Táxi!??” Alugar um automóvel foi um grande problema, pois não havia disponíveis face à alta procura, pois em Cuba só o Estado pode adquirir viaturas novas e o parque automóvel está, por consequência, bastante envelhecido! Ao segundo dia lá conseguimos um “excelente preço”, cerca de 86 euros por dia (1,00€ = 1,09 CUC – Peso Convertível Cubano, como tal, vou falar em euros para ser mais simples).
Comer em Havana também não é propriamente barato (média de 12 euros por pessoa), contando que o ordenado mínimo em Cuba ronda os 10 euros e o médio os 30 euros por mês. Atenção, também com produtos frescos, gelo, etc… a água da torneira não é propriamente aceite pelo nosso organismo, como tal, tudo tem de estar cozinhado e as “Cuba Libre” com gelo proveniente de água filtrada ou engarrafada.
Fotograficamente encontrei o postal típico de Cuba, com os veículos antigos a circular em grande número, muito turismo e muita gente a viver, ou a tentar sobreviver, do turismo.
Fora os carros e algumas imagens típicas de Havana tudo o resto está bastante envelhecido e degradado, sujo e pouco recomendável ao turista que está habituado, por exemplo, ao Algarve.
Após dois dias extenuantes em Havana partimos rumo a sueste,“despacito”!
A “Autopista Nacional” de Cuba é uma via automóvel muito diferente das auto-estradas que conhecemos na Europa, muita gente junto à estrada, uns à boleia, outros à espera de autocarro, carros de mula, camiões a cruzar a estrada e, o maior perigo de todos, do nada aparece no meio da estrada uma cratera que, cheia de água, daria uma bela piscina.
Chegados a Playa Larga, mais concretamente Baia dos Porcos, deparamo-nos com uma zona rural com palmeiras, praia e algumas infra-estruturas turísticas. Nada demais, tudo calmo, um restaurante e bar de praia, propriedade do Estado. As casas rondavam os 100 euros por dia para três pessoas, como tal, logo ali perto arranjámos uma casa particular por 50 euros por dia, pequeno-almoço 5 euros cada, com papaia, banana, ananás e laranja, ovos mexidos, café com pão e sumo natural de papaia ou manga. Bem Bom!
Um dos famosos petiscos de Playa Larga são os caranguejos com chilli, eu gostei. A praia é relativamente pequena, algumas palmeiras e, em Novembro, água do mar a rondar os 29 graus.
Animais de rua são uma constante em Cuba, Playa Larga não é excepção, magros e doentes, não vi ninguém maltratá-los mas também ninguém os trata, são simplesmente ignorados. Questionei a proprietária da casa onde pernoitava o que faziam com tantos animais de rua, ao que ela me respondeu com uma expressão muito natural: “Quando são muitos e começam a incomodar chamamos uma carrinha que os carrega a todos e os leva para alimentar os crocodilos!” Fiquei em silêncio alguns segundos, a digerir a informação…
Depois de dois dias de praia partimos rumo a Cienfuegos, passámos por Playa Girón, que tem uma praia com um muro em frente, sem dúvida um belo postal turístico (risos). O nosso carro tinha sempre o indicador de “tanque cheio” e desconfiamos que estaria avariado, a bomba de gasolina em Playa Girón estava igualmente avariada e fomos, ainda mais devagar.
Chegados a Cienfuegos encontrámos uma cidade com uma luz diferente, muito turismo onde logo somos abordados por alguém que nos tenta arranjar casa para pernoitar. Depois de acomodados partimos à descoberta. Sem dúvida uma cidade mais agradável e limpa, diferente daquilo que tínhamos encontrado até agora, comemos bem e sempre rodeados de um bom ambiente. No dia seguinte partimos rumo a Trinidad, com altas expectativas da cidade e praias.
A entrada em Trinidad é feita por uma estrada empedrada que nunca deve ter sido arranjada, o nosso carro chinês ia-se desmontando no caminho.
Muito turismo e um estilo arquitectónico muito semelhante ao que encontramos nalgumas localidades de Espanha, mas menos limpo e arranjado.
Ficámos numa casa localizada no centro e, como a proprietária tinha um animal de estimação, resolvi contar-lhe que, em Playa Larga, os animais de rua recolhidos são comida viva para crocodilos, ao que ela me respondeu com uma expressão de repulsa: “Aqui em Trinidad são levados para o Zoo”. Foi a última vez que perguntei algo mais sobre os animais de rua em Cuba.
A famosa praia de Trinidad (Playa Ancoa), que os habitantes se gabam de ser a fornecedora de areia para as praias de Varadero, encontra-se a cerca de 16 quilómetros da cidade.
Típica praia tropical com água quente e transparente, fundo com pedras de coral morto e infra-estruturas turísticas que recordam os anos 80 no Algarve.
Tudo em Cuba peca pela falta de brio e limpeza, o que não nos deixa fascinados com a envolvência.
Logo à noite, o largo principal de Trinidad tinha várias dezenas de turistas agarrados ao telemóvel, pois era aí o ponto de internet da cidade, fora isso ouvia-se música no ar.
Passámos por várias casas de arte com pintores locais e fomos ver música ao vivo na famosa “La Bodeguita Del Medio”.
A música ouviu-se toda a noite. No dia seguinte o lixo era muito pelas ruas, mais ainda do que o normal e partimos rumo a Santa Clara, para visitar o túmulo do famoso Che Guevara.
No caminho deparámo-nos várias vezes com duas e três centenas de metros de arroz na estrada, homens espalhavam o arroz para secar e carros em sentido contrário passavam por cima do mesmo. Pensei no arroz que já tinha comido e pensei em alcatrão, borracha dos pneus, gasóleo, gasolina e óleo… o que não mata, engorda, pensei!
Encontrámos belas paisagens pelo caminho, um pouco de ar fresco que merecíamos e chegámos, depois de muitas curvas, travagens bruscas em fuga das crateras na estrada, a Santa Clara.
O Memorial Ernesto Che Guevara é um espaço aberto e verde, que se encontra de frente para a Praça da Revolução. Uma imponente estátua de Che Guevara marca a força da revolução em Cuba. A fila para visitar o túmulo era grande, pois chegavam constantemente autocarros com turistas. Dentro do túmulo muitas fotografias da época com Fidel Castro e Che Guevara como cabeças-de-cartaz, roupas e uniformes e muitas armas usadas pelos próprios em “La Revolución”. Entrei depois num espaço onde, supostamente, seria o túmulo de vários combatentes revolucionários da época, inclusive Che Guevara. Espaço esse muito bem preparado do ponto de vista comercial, pois em ambos os lados do espaço ouvia-se água a correr de umas pequenas nascentes lá colocadas, o espaço estava particularmente frio e húmido do ar condicionado, dando a sensação que nos encontrávamos num jazigo subterrâneo.
Seguimos para norte para seguir junto à costa, passámos por Playa La Fé, Playa Ganuza, Playa El Salto mas, em Novembro, tudo estava fechado e com aspecto de abandono. Praia cheia de erva e os poucos hotéis e restaurantes encerrados. Quando demos por nós estávamos a chegar a Varadero debaixo de chuva torrencial. Varadero é basicamente uma parede de hotéis frente ao mar e alguns campos de golf. Não tivemos muita vontade de ficar e ficámos a dormir nas redondezas.
No dia seguinte partimos rumo a Matanzas, onde encontrámos uma cidade semelhante a Cienfuegos, um pouco mais limpa e com melhores restaurantes.
A viagem a Cuba estava a revelar-se uma desilusão, as paisagens não eram assim tão bonitas como os postais turísticos, as praias muito menos, as cidades eram muito poluídas e sujas, os preços tão ou mais altos do que os praticados em Portugal. Os cubanos sofriam na pele a inflação e o aumento do custo de vida. Com isto a alegria típica latina não se via com regularidade em Cuba, pois não se vive e, sim, sobrevive-se todos os dias.
Se eu fosse o turista de Varadero com pulseira no pulso com tudo incluído e fizesse férias de hotel praia e praia hotel viria certamente com uma ideia muito melhor de Cuba. Mas essa não seria a visão correcta e real do país.
Voltei com mais vontade do que fui, devemos sempre reivindicar e querer mais e melhor do nosso país mas, devíamos acima de tudo, pensar duas vezes antes de nos queixarmos de tudo e de nada. Vivemos literalmente no paraíso, em comparação com Cuba.