A Procissão da Ressurreição alia a cor, as flores e a tradição às celebrações desta época festiva. A vila de São Brás de Alportel saiu à rua com as tradicionais tochas floridas e foi presenteada com um tempo soalheiro, que motivou a junção de milhares de habitantes, visitantes oriundos de diversas zonas do país e, ainda, alguns estrangeiros.
São Brás de Alportel provou, uma vez mais, que a tradição ainda é o que era por terras da serra algarvia e aperaltou-se a rigor para a Páscoa. Como tem vindo a acontecer todos os anos, no passado dia 21 de abril, as ruas deste recanto algarvio foram cobertas de flores e as tochas erguidas ao alto pelos homens da vila, ao ritmo da centenária ladainha, cantada em uníssono, “ressuscitou como disse… Aleluia! Aleluia! Aleluia!”.
Pedro Faísca, natural de São Brás, considera que esta festa, cujas origens remontam ao século XVI, “faz parte da tradição de toda a comunidade são-brasense”, dizendo ainda que começou a participar na procissão “em pequeno, com seis ou sete anos a ir com o meu pai e tios e, ainda hoje, com 24 anos o faço. E assim farei no futuro, até passar a tradição aos meus filhos e netos. A procissão tem um enorme significado católico para a nossa igreja mas, com o passar do tempo, tornou-se num símbolo para a vila”.
As varandas são enfeitadas, as colchas ondulam ao vento, pelas ruas sentem-se os aromas da Primavera…
No Domingo de Páscoa a alvorada dá-se pelas cinco da madrugada. As varandas são enfeitadas, as colchas ondulam ao vento, pelas ruas sentem-se os aromas da Primavera… Os mais de 100 voluntários, de todas as idades, começaram o dia ainda antes do início da procissão. Milhares de flores foram colhidas e aprumadas a preceito pelos voluntários de forma a constituir os tapetes de mil cores com cerca de um quilómetro de extensão. Estes mantos de flores, trabalhados à mão, bordaram as ruas por onde passa a Procissão de Aleluia. No entanto, “a tradição começa uns dias antes quando vamos para o campo procurar flores selvagens, sendo a rosa albardeira a preferida. E depois a construção da tocha que tem o seu papel importante nisto tudo”, acrescenta Pedro Faísca em conversa com o POSTAL.
O jovem são-brasense lamenta, apenas, que “hoje em dia se perca um pouco a consciência do que é uma tocha ou, pelo menos, o que era considerado uma tocha na história desta festa. Atualmente os jovens só pensam em fazer enorme andores, enormes construções que em nada se parecem com tochas floridas. E passam essa imagem para os mais novos que esquecem o verdadeiro significado daquela festa, aprendem apenas a fazer esses mesmos andores de forma a ganhar prémios. Felizmente, ainda existem famílias tradicionais que vão transmitindo o popular ensinamento de modo a que este não se perca”.
Durante o dia, para além da procissão florida e das ruas coloridas e com cheiro a primavera, os visitantes tiveram oportunidade de provar as tradicionais amêndoas de pinhão, confecionadas de forma artesanal há mais de um século.
(Andrea Camilo / Henrique Dias Freire)