Patrícia Andrade interpreta uma mulher que tenta resistir a um abismo provocado pelo casamento do seu amante com outra mulher, numa adaptação do texto de Jean Cocteau, assumindo também a encenação da peça – em parceria com David Pereira Bastos -, para onde procurou levar o universo da música que lhe é tão familiar.
“[Pensei em] como é que eu poderia explorar um texto que me fascina tanto e misturar um bocadinho o universo da música, que é também de onde eu venho, criando algo que misture as duas linguagens”, contou a atriz à Lusa.
A sua experiência musical – como vocalista da banda de metal Sinistro – levou os dois encenadores a questionarem-se como poderiam abordar o texto num contexto mais de rock, “com música, guitarras distorcidas e sonoplastia”, para “criar o ambiente do quarto ou o estúdio onde aquela personagem está”.
Ambos referem que procuram “despir o espetáculo do seu contexto narrativo e da recriação realista” para o tornar em algo onde “não está tanto em jogo a recriação do telefonema e do interlocutor” que nunca se ouve, mas “uma apropriação do texto que possa constituir uma espécie de canto de dor de revolta, de inconformismo e de desespero”.
Segundo o encenador, tentaram ir ao “encontro do anseio da criadora do projeto” – Patrícia Andrade–, que em palco “está em confronto com dois mundos que lhe são caros: o do teatro e o da música”, e procuraram “resgatar, num momento teatral, o prazer e o gozo pessoal que consegue tirar quando está em palco em performance musical”.
“Falámos muito disto, que no concerto e na música a Patrícia se sente muito mais livre e consegue tirar muito mais prazer do que no formato mais formal do teatro”, apontou.
A música do espetáculo é toda tocada ao vivo pela atriz e inclui um tema “original composto propositadamente para a peça” e um outro “adaptado” de uma música já criada pela banda da atriz.
O ambiente sonoro foi criado pelo sonoplasta Fernando Matias, que procura espelhar o “sentimento, o desespero, a dor e o sofrimento daquela mulher relativamente à partida do amante”.
Em palco encontra-se uma atriz, um microfone num tripé e uma guitarra e uma voz que fala, grita, chora, geme, sussurra e esvai-se. A voz canta simultaneamente o inconformismo e a resignação, a revolta, o desespero e a fragilidade, num grito abafado de uma pessoa que luta para não se afogar.
O primeiro contacto do público com esta peça pode acontecer antes de comparem o bilhete, já que os encenadores decidiram criar um ‘podcast’ – que pode ser ouvido na página da companhia: teatrodoelectrico.com -, que serve de suplemento ao espetáculo e onde quiseram divulgar algumas das cartas de amor que pediram aquando da preparação do projeto.
“O ‘podcast’ vai continuar. Vamos lançar o terceiro episódio antes da estreia, e vamos lançando todos os meses até à data em Lisboa. É um complemento da peça e uma forma bonita de dar vida às cartas e amor bonita que andam por aí escondidas”, anunciou a atriz que dá voz ao ‘podcast’ Cartas de Amor.
“A voz humana” estará em Loulé, na sede do Rancho Folclórico Infantil e Juvenil, entre sexta-feira e domingo.
A peça segue depois para o Balcão Cristal no Funchal, em 22, 23 e 24 julho, e estará na Mostra de Artes de Rua, em Sines, em 24 e 25 de setembro.
Lisboa e Leiria também estão no roteiro, não havendo ainda datas para as apresentações.