O Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS) da Ria Formosa, situado no Parque Natural da Ria Formosa, em Olhão, comemora sete anos de existência, é o único no Algarve e um dos Centros de Recuperação de Fauna Selvagem, com a taxa média de libertação de animais para a natureza mais alta de toda a rede nacional.
No país a média é de 45%, no RIAS é de 57%, o que significa que este centro já conseguiu devolver à natureza mais de metade de todos os animais que foi recebendo ao longo destes anos.
Mas afinal o que é o RIAS? “Como o nome indica, o RIAS funciona como um hospital de fauna selvagem, recebe e trata de animais que são encontrados feridos ou debilitados e posteriormente devolve-os à natureza, sempre que possível, no local onde foram encontrados”, explicou ao POSTAL Fábia Azevedo, bióloga e coordenadora do centro.
A par desta ajuda directa aos animais existe, no RIAS, todo um trabalho de educação ambiental e sensibilização da comunidade para a importância da manutenção e recuperação da fauna do Algarve e Baixo Alentejo. Trabalho que explica, em parte, o aumento do número de animais entregues no RIAS. “O trabalho de sensibilização reflecte-se no número de animais que nos chegam, que aumentou nos últimos anos, não devido ao acréscimo de ameaças, mas sim porque as pessoas nos conhecem”, garante Fábia Azevedo.
“Até ao ano passado recebíamos uma média de mil animais por ano, este ano já vamos em mais de 1.500, estamos a bater recordes”, refere a bióloga.
A ‘dar vida’ desde 1981
O Centro de Recuperação da Ria Formosa já existe desde 1981, mas a associação ALDEIA, responsável pela sua gestão desde 2009, alterou o nome para Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens.
Desde o ano em que a associação ALDEIA “tomou conta” do espaço muita coisa mudou. “O centro era bem gerido”, começou por contar Fábia Azevedo, “só que à medida que o financiamento foi acabando, obviamente que o trabalho começou a diminuir de qualidade. Quando aqui chegámos, em 2009, o primeiro passo a tomar foi mudar a imagem do centro, para que as pessoas voltassem a acreditar neste trabalho, as estruturas também foram melhoradas porque o centro estava muito degradado. Em 2009 éramos apenas duas pessoas a começar o projecto e hoje temos uma equipa fixa de cinco elementos, temos também alguns voluntários e sem eles não conseguíamos fazer nada. Cinco pessoas a tratar de 1.500 animais é impossível”, realça Fábia Azevedo.
Dias complicados no RIAS? São Todos.
“Aqui todos os dias são complicados, mas quando as debilidades dos animais que aqui chegam são provocadas propositadamente pelo homem, causa-nos um grande sentimento de revolta. Por outro lado dá-nos força para continuar, é a nossa missão sensibilizar as pessoas para que isto não aconteça”, garante a coordenadora do RIAS.
“Custa-nos particularmente aves que são abatidas a tiro e casos de cativeiro ilegal”, continua.
“Um ano recebemos um grifo com o bico e as penas das asas cortadas. O animal, que se alimenta de animais mortos, estava a ser alimentado num galinheiro com milho, chegou-nos com quatro quilos, quando deveria ter nove. Esse foi um caso que nos deixou mesmo revoltados mas felizmente acabou bem”, recorda Fábia Azevedo.
“Não estás triste porque libertaste um animal?”
A pergunta é colocada muitas vezes a Fábia Azevedo que garante que isso não a deixa triste. “É para isso que nós trabalhamos, ficamos tristes é quando eles morrem”, lamenta a coordenadora.
O truque, afirma a bióloga, é não dar nome aos animais. “Nunca baptizamos os animais, eles para nós não têm nomes, têm números, porque a partir do momento em que damos um nome já nos estamos a afeiçoar e depois é um bocadinho mais difícil”, explica.
“É claro que se um animal passar aqui um ano em tratamento acabamos por nos afeiçoar, mas temos de nos focar no nosso objectivo que é devolvê-lo à natureza”, vinca a responsável.
Mas o RIAS só recebe animais que precisam de ajuda?
Não. O RIAS também recebe animais que já não possam ser ajudados, isto é, animais mortos. Desde 2009, dos 8.184 animais, 1.468 já foram entregues sem vida, um número muito importante e que precisa de se ver aumentado. “É preciso que as pessoas saibam que também podem e devem entregar-nos animais selvagens que se encontrem já sem vida, porque isso permite-nos retirar amostras para projectos de investigação e realizar necrópsias, de forma a detectar ameaças que possam existir na natureza. Por exemplo, se houver casos consequentes de animais que chegam com chumbo nós temos a possibilidade de detectar isso e avisar as autoridades dessa situação”, refere a biológa.
A entrega dos animais ao RIAS pode ser feita por qualquer pessoa e o processo é semelhante, quer o animal esteja vivo ou morto. Se encontrar uma espécie selvagem deve colocar o animal numa caixa com furinhos, tapada com um pano, e, ou levar directamente para o centro, ou ligar para as entidades responsáveis pela recolha, que são o SEPNA-GNR, através do contacto telefónico 217 503 080 ou a linha SOS Ambiente através do número 808 200 520.
O caminho faz-se sensibilizando
Os projectos futuros do RIAS passam pela continuação da recuperação de animais e pela sensibilização da comunidade. “Estamos a tentar parcerias com autarquias para desenvolver acções nas escolas. Algumas câmaras já aceitaram o nosso desafio, Olhão e Tavira foram as primeiras e esperamos alargar isto a todos os concelhos”, perspectiva Fábia Azevedo.
Os apoios ao centro podem ser feitos em numerário ou géneros ou do apadrinhamento de animais. “A campanha de apadrinhamento é muito importante para nós porque é um meio de angariação de fundos para a manutenção do centro, mas também permite um contacto directo entre o nosso trabalho, a comunidade e os animais”, acrescenta a responsável.
Existem cinco modalidades e vários valores de apadrinhamento, disponíveis para pessoas individuais, escolas e empresas. Todas as informações podem ser encontradas no blogue do RIAS em http://rias-aldeia.blogspot.pt/.