A arte pode estar em “quase” todo o lado e ser criada a partir de “quase” tudo, aproximando-se
do Princípío de Lavoiser, “nada se perde, tudo se transforma”.
Defendemos esta perspetiva no artigo “Pode a arte emergir a partir do “lixo”?“, apresentando
exemplos de criações de alguns artistas que utilizam “lixo” e/ou “desperdício” para construir obras/instalações/composições com uma consciência ambiental, criando imagens a partir do
aproveitamento daquilo que outros desperdiçam.
Ao criarem imagens com aquilo que destrói a natureza, que a vai degradando, pretendem
chamar a atenção para a sustentabilidade do planeta e a gestão dos recursos naturais.
Por exemplo, tem sido usado plástico por muito artistas, procurando chamar a atenção para a quantidade de plástico existente nos oceanos, formando já “ilhas” e destruindo o ecossistema.
Sobre a utilização do plástico na arte iremos dedicar-nos no próximo artigo.
Desta vez queríamos centrar-nos sobre o tema da poluição atmosférica. A poluição existente é também um tema que preocupa muitos artistas, tendo inclusivamente sido fabricado um tijolo a partir da poluição do ar em Pequim. Esta é conhecida como a cidade mais poluída do mundo, sendo habitual ver pessoas nas ruas com máscaras de proteção contra a poluição ambiental. Há dados que apontam para a ocorrência de cerca de 4 mil mortes diárias por causa da poluição do ar em Pequim, com níveis recorde de quantidade de micropartículas em suspensão, chegando a ultrapassar em 35 vezes o limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde.
Este grave problema da poluição que afeta a capital da China, levou o artista Nut Brother a passar 100 dias a aspirar as ruas de Pequim, durante cerca de quatro horas diárias, com um aspirador industrial de 1000 watts. O artista intitulou este projeto da seguinte forma: “No dia que esgotarmos todos os recurso da Terra, vamos transformar-nos em pó”.
No fim do projeto, obteve uma mistura de pó e nevoeiro que pesava cerca de 100 gramas. Juntou isto a argila, tendo produzido um tijolo, o qual foi depois doado a uma empresa de construção para que faça parte de um novo edifício em Pequim.
Com este projeto, apresentado no final de 2015, o artista quis alertar a sociedade para os
problemas ambientais e levar as pessoas a pensar na relação entre a natureza e o homem.
Mais recentemente, Nut Brother realizou uma exposição visando conscientizar para a poluição da água na China. Este país tem 20% da população mundial, mas apenas 7% de seus recursos hídricos, acrescendo que a água considerada potável está poluída, apresentando elevados níveis de metais pesados. Nesse sentido, encheu mil garrafas de plástico com água e colocou-as expostas. No entanto, depois de estar em exibição por apenas alguns dias, a água engarrafada foi removida das prateleiras da galeria. Enfim…
Não obstante ser um percurso difícil, com muitos interesses económicos instituídos que resistem à mudança, esperemos que a arte possa ajudar a que as pessoas tomem consciência da importância do seu comportamento para a preservação do ambiente.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Outubro)