Vivemos numa sociedade cada vez mais caracterizada pela violência, entre países, entre gerações, entre géneros, etc.
Há quem diga que sempre houve violência ou guerras na história da humanidade, pelo poder, pela conquista de espaço, pelo desejo de posse, mas o problema adicional é que os meios usados são cada vez mais mortíferos, atingindo muitos inocentes. Esta é uma questão central quando pensamos o futuro da humanidade. Tal como as questões ambientais, as questões ligadas à paz, em particular, são fundamentais para podermos pensar na vida no nosso planeta a médio/longo prazo.
Foi nesse pressuposto que o “Conselho Português para a Paz e Cooperação” fez uma petição “pela assinatura por parte de Portugal do tratado de proibição de armas nucleares – Pela paz, pela segurança, pelo futuro da humanidade!”
De entre as várias iniciativas que tem vindo a realizar, este Conselho, em colaboração com a “Peace and Art Society”, desde final de 2018, tem organizado várias exposições no Algarve, intituladas “Artistas pela Paz”.
Tendo sido convidado a participar, realizei a obra “PAZ é o caminho (Homenagem a Gandhi)” (2018).
Na tela fiz um desenho que pode ser percebido como uma pomba, símbolo da paz, ou como uma mão, sendo colocados os dois dedos numa expressão de vitória. Desta forma procurei salientar a importância da vitória da PAZ para a sobrevivência da espécie humana. Na tela também aparece escrita a palavra PAZ, a qual liga duas hipóteses: a de sobrevivência e a de não sobrevivência, em função do caminho que for seguido no futuro.
A hipótese de não sobrevivência é ilustrada na parte de baixo da tela, através da imagem de uma obra que realizei anteriormente (“O império das formigas que aprenderam a falar chinês”; 2011), em que é expressa a possibilidade da espécie humana poder ser extinta, nomeadamente devido a uma guerra nuclear, sendo colocada a hipótese de as formigas virem a ser a espécie mais desenvolvida do planeta.
Para que tal não aconteça e a espécie humana sobreviva será então fundamental a PAZ, pelo que aparece na parte de cima da tela uma adaptação da afirmação de Mahatma Gandhi: “Não há um caminho para a paz. A paz é o caminho”. Gandhi liderou o movimento da independência da Índia através do princípio da não agressão ou forma não violenta de protesto (Satyagraha), sendo um dos melhores exemplos, na história da humanidade, de uma vida em prol da paz.
Este é um assunto que me tem preocupado nos últimos anos, tendo em 2010 realizado uma outra obra intitulada “Grito de sangue em atentado terrorista” (2010), com as dimensões de 4,00m x 2,10m.
Considero que a arte visual talvez possa ajudar a parar no tempo e a refletir, de forma a que não se repitam no futuro os erros do passado.
A história é feita de acontecimentos marcantes, uns bons e outros maus, podendo a arte visual ajudar a manter vivas no presente as memórias do passado, ajudando a construir os caminhos do futuro.
As guerras destacam-se de entre os acontecimentos marcantes na história de qualquer povo, havendo obras de arte que ajudam a compreender o que aconteceu em determinados períodos da história.
Uma das obras de arte mais conhecidas que procura expressar o horror da guerra é a pintura “Guernica”, de Picasso, com a dimensão de 3,49m x 7,77m, exposta no Museu Reina Sofia, em Madrid. Esta é uma das principais obras de Picasso, constituindo uma “declaração de guerra contra a guerra e um manifesto contra a violência”, segundo alguns autores.
Esta obra foi feita em 1937, sobre a Guerra Civil de Espanha, tendo outros artistas realizado, no mesmo ano, obras que expressam a necessidade de acabar com a guerra e de promover a paz. Por exemplo, “Madrid 1937 – Aviões negros”, de Horacio Ferrer, e “Aidez l’Espagne” (“Ajudem a Espanha”), de Miró.
Na atualidade, destaco os trabalhos de Banksy em graffitis que podemos encontrar em ruas, pontes e muros de diversas cidades do mundo. Em particular, há um ano e meio, Banksy abriu o Hotel Walled-Off, considerado aquele com “pior vista do mundo”, pois situa-se em frente ao muro de Israel na Cisjordânia, que constitui uma das materializações mais emblemáticas do conflito entre israelenses e palestinos. E este muro é a vista que os nove quartos deste hotel possuem. Além disso, a decoração dos quartos alerta para este conflito, havendo, por exemplo, por cima de uma das camas, um graffiti de uma guerra de travesseiros entre um soldado israelense e um manifestante palestino.
Desta forma, a arte contribui como instrumento de crítica social e política, procurando influenciar valores sociais e decisões políticas.
A arte pode inserir-se num movimento de “educação para a paz”, nesta sociedade em que é cada vez mais importante educar para princípios éticos universais e para valores humanistas, como sejam a honestidade e o respeito pelos outros.
PAZ é a palavra que mais vezes aparece nos dias a comemorar ao longo do ano. Assim, temos o Dia Mundial da Paz (1 de janeiro), o Dia Escolar da Não Violência e da Paz (30 de janeiro), o Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e da Paz (6 de abril), o Dia Internacional dos Soldados da Paz das Nações Unidas (29 de maio), o Dia Internacional da Paz (21 de setembro), o Dia dos Jornalistas Pela Paz (27 de outubro) e o Dia Mundial da Ciência pela Paz e pelo Desenvolvimento (10 de novembro).
Mas para além de todas estas manifestações a favor da paz, considero importante destacar uma outra faceta neste processo que diz respeito à paz consigo próprio, ao desenvolvimento da espiritualidade, pois só em paz consigo mesmo é que o ser humano consegue estar em paz com os outros. A paz está em cada um de nós e é fundamental que cada um de nós a encontre com equilíbrio, serenidade e alegria!
Já agora, a arte pode ajudar…
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de abril)