No último número abordámos o tema “Pode ser criada arte a partir da poluição?”, em que fizemos referência ao artista Nut Brother que, em 2015, passou 100 dias a aspirar o ar das ruas de Pequim, durante cerca de quatro horas diárias, tendo no final fabricado um tijolo a partir da poluição aspirada, procurando consciencializar para o problema da poluição do ar em Pequim. Este mesmo artista realizou posteriormente uma outra iniciativa em que procurava consciencializar para a poluição considerada potável da água na China, tendo para o efeito enchido e exposto 1000 garrafas de água. No entanto, estas garrafas eram de plástico…
Ora, a utilização de plástico representa um dos principais problemas com impacto ambiental na atualidade.
O plástico constitui cerca de 85 % do lixo encontrado nas zonas costeiras de todo o mundo. Todos os grandes oceanos têm acumulações de lixo flutuantes na sua zona central, os chamados “giros”, havendo dois no Pacífico, dois no Atlântico e um no Índico. Mas a “ilha de plástico” do Pacífico Norte é a maior, sendo o plástico cerca de 92% do lixo acumulado. São cerca de 80 mil toneladas de plástico a flutuar, segundo um estudo publicado recentemente na revista Scientific Reports, o que representa um valor muito superior às estimativas feitas em estudos anteriores. Estima-se agora que esta “ilha” de plástico a flutuar tenha 1,6 milhões de quilómetros quadrados, o que equivale a mais de 17 vezes o tamanho de Portugal.
A maior parte do material que existe chega como detritos grandes, que se degrada ao longo do tempo em partículas nocivas cada vez mais pequenas, micropartículas que viajam da superfície do oceano para o fundo, microplásticos que, além de contaminarem o ambiente, entram na cadeia alimentar, vindo a afetar a saúde humana.
Só os europeus geram, anualmente, 25 milhões de toneladas de resíduos de plástico, das quais apenas 30 % são reciclados. Nas águas do Mediterrâneo, cuja “rota de saída” passa por Portugal, o plástico representa atualmente 95% dos resíduos. Se tudo continuar como está, as previsões indicam que em 2050 haverá mais plástico do que peixe nos oceanos. Assim, este problema ameaça o turismo, a pesca e a saúde das pessoas e do planeta.
A arte tem sido usada como uma das principais manifestações no sentido de procurar consciencializar as populações para o perigo que representa o plástico existente nos oceanos.
Por exemplo, a fotógrafa britânica Mandy Barker criou o projeto “SOUP” (sopa), nome dado pelos cientistas e ambientalistas à água misturada ao plástico suspenso no fundo do mar, e procura fotografar artisticamente o lixo encontrado nos oceanos.
Em Portugal, a bióloga marinha Ana Pêgo criou o projeto “Plasticus maritimus”, sendo muito do lixo encontrado nas praias convertido em obras de arte.
Na própria Universidade do Algarve, lançámos recentemente a campanha “UAlg + Saudável, com – Plástico”, pretendendo-se que o curso de artes visuais se envolva nesta campanha.
Também gostaríamos de fazer referência ao projeto “Skeleton Sea – Arte do Mar”, da autoria dos artistas e surfistas João Parrinha (português), Xandi Kreuzeder (alemão) e Luis de Dios (espanhol), que procura sensibilizar a população para a preservação dos oceanos através da expressão artística. Neste momento, estes artistas têm uma exposição no Oceanário de Lisboa, intitulada “Keep The Oceans Clean” (Mantenha os oceanos limpos), que reúne nove instalações artísticas feitas com lixo encontrado tanto em praias como no mar.
Também merece destaque a exposição “Over Flow”, da autoria do artista japonês Tadashi Kawamata, patente na Galeria Oval do MAAT, até 1 de abril de 2019. Esta exposição convida o visitante, através de uma instalação imersiva, a focar-se em questões em torno do turismo e da ecologia globais. No fundo, o que podemos ver é uma catástrofe ecológica imaginária, em que os detritos transportados pelos oceanos engoliram a civilização. Tudo isto resultado de um ano de pesquisa de campo em Portugal, fazendo parte da instalação resíduos de plástico e barcos abandonados, recolhidos na costa portuguesa durante as campanhas de limpeza de praias.
Como mensagem final, gostaríamos de salientar que devemos reduzir os plásticos de uso único e mudar os nossos hábitos para uma economia circular, assente nos 3R: Reduza, Reutilize e Recicle!
As novas gerações vão viver no mundo que ajudarmos a criar e, por muitas diferenças que haja entre as pessoas, as culturas e os países, o planeta terra é a Casa de todos nós, sendo fundamental ajudar a preservá-lo!
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Novembro)