Albert Einstein dizia “A mente que se abre a uma nova ideia, jamais volta ao seu estado inicial”, eu apenas troco a palavra ideia por história.
Porque razão gostamos tanto de uma boa história? E o que é que define uma boa história?
Todas as histórias podem ser boas, só depende da forma como as contamos. Uma boa história tem emoção, suspense, ritmo e gera interrogações ao espetador. A razão é química, uma vez que o nosso cérebro associa emoções a memórias para tornar o processo de gravação mais rápido e consistente. Quanto mais forte for a emoção, mais forte será a memória. Por esta razão temos dificuldade em decorar listas de coisas, fatos ou ações, mas não temos dificuldade em memorizar uma boa história
Não acredita? Recorde um evento memorável da sua vida, por exemplo, o nascimento de um filho ou o primeiro beijo. Veja a quantidade de pormenores que vêm à cabeça. Agora experimente fazer o mesmo com a lista de supermercado. Veja o quanto é emocionante recordar a lista de supermercado versus o primeiro beijo. Quantos itens da lista de supermercado se lembra?
Entende agora porque gostamos tanto de uma boa história?
Acredito que a visita a um Museu, pequeno ou grande, pode ser uma visita emocionante, memorável e única desde que conte uma boa história/narrativa.
Foi com esta crença que desenhámos e produzimos o ambiente digital do Mercado de Escravos em Lagos; renovámos a exposição da Casa do Administrador de Ourém; produzimos Postais com Experiências Imersivas 360º para Lagoa (do Algarve); estamos a finalizar o BispoGo para Vila do Bispo, o qual contará com uma personagem ternurenta que nos vai guiar pelo território e, nos últimos meses, temos estado a trabalhar em conjunto com a equipa do Museu de Portimão na renovação do Ambiente Digital do percurso expositivo.
O convite surgiu com a necessidade de acrescentar novos conteúdos, adicionar mais idiomas e tornar a exposição facilmente entendível à maioria dos visitantes. Para cumprir estes objetivos optou-se por criar uma App para smartphone, através da qual adicionámos uma camada digital de conteúdos ao percurso expositivo existente. Com esta App e recorrendo à realidade aumentada, o visitante só necessita de apontar o smartphone em direção às imagens assinaladas ao longo do percurso para ativar os conteúdos. Em cada ponto de interação o visitante tem acesso a imagens, vídeos e principalmente a um áudio-guia que explica o tema tratado naquela parte do percurso.
Do ponto de vista técnico, estaríamos em linha com os objetivos do projeto, mas seria um projeto sem emoção, suspense e poucas interrogações por isso decidimos adicionar alguns “pós mágicos” de emoção e curiosidade: assim que o visitante inicia a visita ouve pela primeira vez a voz da Mónica (a locutora) com um discurso sempre na primeira pessoa, como se a Mónica fosse alguém que habita naquele espaço e o convida a descobrir as origens e a evolução da comunidade de Portimão.
Convidámos duas antigas trabalhadoras da fábrica de conservas a regressar ao local onde hoje é o Museu e ali, no meio de manequins sem vida, estas explicam o processo de descabeço e embalamento, num discurso directo, simples e sem preparação prévia, de modo a captar a genuinidade do momento. Também “convidámos” Manuel Teixeira Gomes para nos contar a sua história de vida. Estamos ainda a produzir um barco romano, uma vila romana e uma casa islâmica, para permitir ao visitante conhecer os “Porta Contentores e respetivos contentores” daquela época, ver como viviam os romanos ou ver como era uma casa agrícola islâmica.
A Mónica (a voz) marca o ritmo da visita. As antigas operárias e Manuel Teixeira Gomes geram emoção. Misturámos conteúdos interactivos 3D e criamos a surpresa.
Confesso que gostava de ter ido mais longe, não só ter a Voz da Mónica, mas também a própria Mónica; dar vida aos manequins e criar textos por forma a voz da Mónica criar outro ritmo. No entanto, por um lado foi a própria exposição que definiu o Ambiente Digital a criar e por outro lado, a margem para ficcionar a verdade fatual é limitada. Para entenderem melhor a diferença entre verdade fatual e verdade ficcionada, convido-o a relembrar o filme Titanic e um documentário sobre o mesmo naufrágio. O filme tem duas histórias: a história de amor que agarra o espetador e a história do naufrágio; um documentário sobre o tema vale pela informação histórica que expõe, mas não agarra milhões de espetadores.
Visitar um museu, não é o mesmo que ir ao cinema, mas a história contada ao longo do percurso expositivo pode ter emoção, suspense, ritmo, interrogações, conflitos e finais emocionantes que nos fazem voltar, recomendar e reviver memórias.
É através de emoções que criamos memórias duradouras. Então porque não ir a um Museu para viver, interagir e experienciar uma boa história?
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Julho)