O turismo no Algarve, o ouro sazonal
O turismo no Algarve desempenha para a região o pilar fundamental da nossa economia, o nosso ouro, aquele que permitiu a saída do subdesenvolvimento de grande parte da população. Este turismo que nos alimenta, nos dá a riqueza, nos dá emprego, faz movimentar o pequeno comércio, a restauração, a hotelaria, os serviços de animação turística, a grande dinâmica de golfe, entre outros.
Porém, com os mercados concorrentes do mediterrâneo, do Norte de África, estamos nós preparados para uma diminuição da receita que possa advir?
O turismo necessita de um apoio claro do Governo, em infraestruturas de saúde, de segurança e de transportes. O setor privado tem feito a sua parte, na aposta de hotéis de qualidade, mas falta criar uma cultura de acolhimento digno, com infraestruturas de transporte modernas e ligações fáceis aos centros e aos aeroportos, com uma ferrovia leve e flexível, com equipamentos de saúde públicos, e espaços públicos valorizados. Esta parte só ao Estado diz respeito e parece tardar, ano após ano.
Com a agitada discussão sobre o Brexit, será fácil prever que a redução do número de turistas ingleses está também à vista de todos, provocando um repensar sobre o que afinal temos como seguro e os nossos destinos. O ambiente de grande beleza, o clima, a gastronomia e a natureza amistosa do nosso povo são caraterísticas únicas que poderemos sempre valorizar no Algarve, mas não é suficiente para todas as crises. Será fundamental o pensar antecipadamente e a procura de novos mercados.
O ordenamento do território e o turismo
A sustentabilidade do território é tantas vezes questionada pela pressão turística, tendo sido o Algarve durante décadas, julgado pela má utilização dos seus recursos, pela densificação excessiva. Embora haja exemplos infelizes, ainda assim, foram conseguidas melhorias significativas de infraestruturação, de contemplação da natureza, de valorização dos nossos núcleos históricos, não podendo referir que tudo seja mau.
O ordenamento do território, por orientação governamental, teve em consideração este desígnio do Algarve, e procurou promover essa atividade, pela exceção. Em quase todos os regulamentos urbanísticos, consegue-se verificar que houve uma intenção de promover esta atividade, como exceção à proibição, permitindo a construção ou a ampliação no caso do turismo em espaço rural, nos estabelecimentos hoteleiros isolados, ou nos núcleos de desenvolvimento turísticos.
A residência habitacional local das populações não foi tão grandemente valorizada, mas sobretudo o aspeto de desenvolvimento económico do turismo. Será certamente relevante e fará sentido, mas considera-se também adequado outras funções para além desta, como a habitação, o aglomerado rural, o pequeno centro urbano que muitas vezes se localiza em cruzamentos de estrada e pequenos locais históricos de vivência, como um poço, ou uma capela.
O equilíbrio entre a população residente e o turista
Hoje, temos o debate sobre a capacidade da população residente em resistir ao turismo nos Centros Históricos, onde parece que o espaço do cidadão comum está a ser invadido ou desalojado. Embora possam existir excessos, em muitos casos, esta situação ainda está longe de provocar danos irreversíveis, pelo menos, no caso do Algarve. Aqui, faz tempo que tínhamos as camas paralelas e a densificação no Verão e estamos habituados. Aprendemos a lidar com as multidões faz décadas e não existe nenhum algarvio que se incomode, porque sabe que essa é uma realidade que lhe permite viver e crescer economicamente.
Crescemos nesta ambiência e os nossos locais serão sempre nossos, porque no fim da época balnear estamos sozinhos. Esta situação é muito particular no Algarve e foge completamente à realidade de Lisboa e do Porto, por exemplo. A especificidade da nossa região devia ser ponderada em questões de restrições ao direito de instalar um alojamento local, porque já o fazíamos antes, mesmo sem ser dessa forma.
Em termos de planeamento, faltará mais o regular no pormenor, na defesa do nosso património arquitetónico e da nossa memória coletiva. Na ausência destes documentos, o turismo poderá facilmente invadir e criar algum ruído e perturbação, o que seria evitável com uma visão urbanística das nossas cidades.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de Fevereiro)