Cientistas do projeto JPI Oceans “MiningImpact” vão embarcar numa expedição de seis semanas para a Zona de Fratura Clarion-Clipperton, no Pacífico, a profundidades superiores a 4.000 metros, num consórcio europeu que conta com cinco instituições portuguesas.
A missão oceanográfica que acontece a 1.500 quilómetros da costa mexicana pretende investigar e monitorizar os impactos ambientais da mineração de nódulos polimetálicos no mar profundo de um pré-protótipo de veículo de recolha de minério.
“A intenção do projeto é avaliar o impacto do veículo de extração dos nódulos nos organismos marinhos e fornecer à autoridade internacional as bases científicas para legislar sobre a exploração mineral dos fundos oceânicos” revelou à Lusa uma investigadora do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da Universidade do Algarve.
Nélia Mestre adiantou que as restrições nas viagens internacionais devido à pandemia de covid-19 impediram que os investigadores portugueses “estivessem a bordo do navio” Island Pride que deve sair do porto de San Diego, Califórnia “ainda esta semana” com dois veículos operados remotamente (ROVs) e um veículo submarino autónomo (AUV) a bordo.
Os cerca de 20 investigadores portugueses terão de aguardar algumas semanas pelas amostras de “corais, ofiurídeos esponjas, plâncton e anfípodes” recolhidas pelos colegas alemães, holandeses e belgas, para poderem iniciar o seu trabalho, adiantou.
“Eles vão estudar zonas com e sem o impacto do robot coletor de nódulos, recolher as amostras de vários sítios e nós vamos avaliar o impacto da nuvem de sedimentos em termos de ecotoxicidade, fisiologia e biodiversidade”, revelou.
Os nódulos são aglomerados de metal “pousados à superfície” no fundo do oceanos e formados pela “precipitação dos metais” e que se vão juntando ao “longo de milhares de anos”.
Estas estruturas são muito apetecíveis para exploração pela indústria devido à sua composição de “manganês, níquel, cobre e cobalto”. São retiradas através de um robot que os “suga para superfície” e é precisamente o impacto dessa extração que os investigadores pretendem estudar.
“Como os sedimentos são muito finos, o simples movimentar do aparelho no fundo levanta uma nuvem para a coluna de água, não se sabendo qual a sua real dimensão, para onde ela se vai deslocar e qual o seu efeito nos organismos”, esclareceu.
A área onde se vai realizar o estudo está “toda concessionada para exploração”, a qual ainda não se iniciou por não existirem “máquinas especializadas” para o fazer.
Esta é uma investigação independente mas feita em parceria com a empresa que está a desenvolver o robot de extração com intenção de melhorar o protótipo já existente e “introduzir correções para minimizar impactos que possam vir a ser detetados”.
Os impactos de um estudo realizado na década de oitenta com uma recolha por arrasto revelaram que quatro décadas depois “não houve recuperação do habitat”, sendo ainda visíveis as “marcas da remoção dos nódulos”.
CIMA-Universidade do Algarve, Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), IMAR-Universidade dos Açores, CESAM-Universidade de Aveiro e Ciimar-Universidade do Porto, são as cinco instituições portuguesas envolvidas no projeto, que inclui ainda entidades da Alemanha, Países Baixos, Bélgica, Noruega, França, Itália, Reino Unido e Polónia.